quarta-feira, maio 30, 2012

Feira do Livro do Porto. Deriva. Pavilhão Companhia das Artes B31


Hoje, dia 31 de Maio, abre a Feira do Livro do Porto. A Deriva encontra-se no Pavilhão da distribuidora Companhia das Artes (B31).

terça-feira, maio 29, 2012

Filipa Leal no Festival de Poesia de Berlim, 2012


Não nos cansamos de dar os parabéns à Filipa que vai representar Portugal no Festival de Poesia de Berlim 2012. É sempre com algum júbilo, certamente partilhado por muitos de vós, que vemos uma pessoa tão íntegra como ela afirmar-se internacionalmente como uma referência incontornável na poesia mundial. Esperamos que seja mais um passo (já não é o primeiro na cena poética internacional) de entre vários que a vai consolidando como portadora de uma obra singular na poesia de hoje. Bom trabalho, Filipa.

Destacamos do P3 do Público o texto que acompanha a notícia da sua presença em Berlim:

Filipa Leal representa Portugal no Festival de Poesia de Berlim, onde poetas de 28 países debaterão, de 1 a 9 de Junho, o significado da cultura para a construção da identidade europeia, segundo a organização do evento.
A jovem poeta portuguesa participará num dos cinco debates agendados entre os poetas europeus, intitulado “Renshi.eu — Um diálogo europeu em versos”, com o objectivo de escreverem um poema em cadeia sobre a Europa. O evento decorre no sábado, na Embaixada do Luxemburgo, em Berlim, e os outros interlocutores são os poetas Luigi Nacci (Itália), Maarja Kangro (Estónia), Tom Reisen (Luxemburgo), Jenny Tunedal (Suécia) e Zoltán Tolvaj (Hungria).
Filipa Leal nasceu no Porto, tem 33 anos, é também jornalista cultural e já tem obras selecionadas para antologias nacionais e internacionais e poemas traduzidos para castelhano, croata, turco e búlgaro.

Um parlamento de poetas
Ponto alto do festival será a apresentação, também no sábado, de um poema escrito em cadeia (“renshi”) por todos os participantes, oriundos dos 27 países da União Europeia e da Croácia, na chamada Noite de Renshi. “É a primeira vez que um parlamento de poetas de todos os países da União Europeia se expressa, através de versos, sobre os receios e os valores europeus, com fúria, tristeza ou prazer”, escreveu o director do Festival, Thomas Wohlfhart, na respectiva página na Internet.
O poema em cadeia começou a ser escrito na Grécia, país europeu mais afectado pela crise das dívidas soberanas, mas também a pátria da democracia e da cultura europeias, pelo lírico Yannis Stiggas. Depois de ser prosseguido pelos outros poetas europeus, em grupos de cinco ou seis autores, “terá também uma conclusão grega”, de novo a cargo de Yannis Stiggas, anunciou Wohlfhart.
Poetas alemães e brasileiros farão uma simbiose de obras suas noutra das secções do festival, VERSschmuggel (Contrabando de Versos, em tradução livre), experiência já levada a cabo por alemães em anos anteriores com colegas de outros países, nomeadamente Portugal.
Os representantes do Brasil no VERSschmuggel 2012 serão Ricardo Aleixo, Jussara Salazar, Dirceu Villa, Horácio Costa, Marcos Siscar e Érica Zíngano, e os da Alemanha, Barbara Koehler, Christian Lehnert, Ulf Stolterfoht, Gerhard Falkner, Jan Wagner e Ann Cotten. O Festival de Poesia de Berlim tem ainda sessões dedicadas a crianças, um concurso para jovens poetas alemães e polacos, e encerra com um mercado de lírica, em que participarão várias editoras e antiquários, e com um programa musical.

História Social do Porto, coordenado por Bruno Monteiro. Em destaque nas Fnacs do GaiaShopping e NorteShopping


Já se encontra à venda nas livrarias e nos principais espaços comerciais A História Social do Porto um trabalho coordenado por Bruno Monteiro com diversas participações do departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Está em destaque nas Fnacs do GaiaShopping e no NorteShopping. 

segunda-feira, maio 28, 2012

Reler Telefunken, de Luís Maffei



Luis Maffei afirma: o mundo existe. O poema começa já quando uma forma foi encontrada; não há nunca, pois, matéria simples, que não poderia ser dita por palavras. Há, logo, o acidente, a figura, a coisa de se estar vivo, que é existência mas não náusea, caos mas também perspectiva: “Assim: só o pequeno / barulho da cidade, longe / como se livre eu estivesse, / as gatas e / eu.”. Nunca a pura abstracção, mas imediatamente a cidade, o subúrbio, os animais, os números; e depois, só depois, a interrogação que faz tremer os contornos dessas formas. Leitor atentíssimo de Camões, Luis Maffei ouve também atentamente a lição de Herberto Helder: sim, “Transforma-se o amador na cousa amada / Por virtude do muito imaginar”, mas também: “O amador entra / por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate. / O amador é um martelo que esmaga. / Que transforma a coisa amada.” (Helder 1961: 13-14). A matéria busca a forma? Mas é a matéria que martela a matéria. Outro modo de se assemelhar, com paixão, iconoclastia. Pois a poesia de Luis Maffei é uma poesia de amor, e o amor é busca infrene da matéria. (…)

Com a Esquerda Mão – posfácio de Pedro Eiras a Telefunken

Luis Maffei (Brasília, 16 de fevereiro de 1974) é Professor de Literatura Portuguesa do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense. Doutorou-se em 2007 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a tese “Do mundo de Herberto Helder”. Como poeta, publicou A (Rio de Janeiro: Oficina Raquel), em 2006, e Telefunken (Rio de Janeiro: Oficina Raquel), em 2008. Como músico, lançou, em 2004, o disco na mesma situação de blake, em parceria com Marcelo Gargaglione. Coordena, para a editora Oficina Raquel, a série Portugal, 0, dedicada à novíssima literatura portuguesa, responsável pelas antologias brasileiras das obras de Manuel de Freitas, Rui Pires Cabral, Luís Quintais e Pedro Eiras. Tem textos publicados em diversos periódicos de literatura, como as revistas Gragoatá, Metamorfoses, Relâmpago e Telhados de vidro.



quarta-feira, maio 23, 2012

O Espírito Nómada, de Kenneth White, um livro a reler

A capa de Espírito Nómada é de Gémeo Luís

O Espírito Nómada, livro central da teoria da geopoética de Kenneth White e impulsionador do Instituto Internacional de Geopoética foi editado em 2007 e teve uma óptima recepção junto das livrarias e dos leitores. Meditando profundamente sobre a crise da vida moderna, o autor questiona sem cedências o sentido do nomadismo e da deriva como alternativa de vida. Um sentimento poético baseado na procura e na forte ligação à terra e à natureza. Neste ensaio, onde Kenneth White, escocês há muito radicado na Bretanha, viaja pelos nomes de vários poetas a fim de dar um sentido político, poético e cultural da vida que nos resta.
«Capítulo I

ESBOÇO DO NÓMADA INTELECTUAL

Foi assim que enquanto íamos fazendo caminhadas de milhares de verstas… não deixávamos passar nenhuma oportunidade para declararmos a nossa identidade e ao mesmo tempo contarmos tudo o que tínhamos visto, pensado e feito.

Na deriva anarco-niilista e cosmo-poética que segue, o leitor vai encontrar algo semelhante a uma rede de afinidades electivas. Encontrará figuras e movimentos ocultados e postos à margem pela sociologia e a psicologia ditas sérias que as consideraram até aqui, de uma perspectiva maciamente humanista, como «excêntricas», «marginais», «perigosas», em suma.

Se o nómada intelectual que vamos considerar sob formas diversas nestas páginas, for niilista (o «niilista perfeito» de Nietzshe) orientalizante (pesquisador, em última análise de um «Oriente» não situado nos mapas), mundialista (mas que, como Husserl, põe durante muito tempo a tese do mundo entre parêntesis), anarquista (sem bomba nem bandeira), demoníaco (como Sócrates e não como Cagliostro) e errático (dado que nenhuma via é a via completa), é antes de mais um intelectual de novo tipo, móvel e múltiplo, abrupto e rápido, que não pertence a qualquer intelligentsia, não se liga a qualquer ideologia e é de difícil solidariedade, excepto com o universo (e mais - ao filocosmismo pode misturar-se, como o sal na água, um quanta de acosmismo superniilista).

Esse novo intelectual não surgiu ex nihilo. Nasceu num dado momento da cultura ocidental e tem uma história. É essa história que eu tentarei trazer à luz nas páginas que seguem. (...)»

O Espírito Nómada, de Kenneth White. Tradução de Luís Nogueira

sexta-feira, maio 18, 2012

Montra da Livraria Leitura, na Rua de Ceuta, Porto


Wittgenstein na montra da Livraria Leitura da rua de Ceuta, no Porto, 15/05/2012
Foto de Pedro Ferreira


terça-feira, maio 15, 2012

A Dança das Feridas, de Henrique Manuel Bento Fialho


Recebi, hoje mesmo e pelo correio, o último livro de Henrique Fialho, desta vez em edição de autor. A capa é de Maria João Lopes Fernandes e a composição de Pedro Serpa. Devo dizer que ainda só folheei o livro mal o tive na mão e é com algum entusiasmo que desde já o revelo aqui. O autor de Estranhas Criaturas (o primeiro a ser editado pela Deriva) aí está de novo e, não me engano, com um belíssimo conjunto de poemas. Mas não escolhi um ao acaso. Foi o que, para já, gostei mais. Depois não se aproveitem e digam que o leram «na net». É bom que tenham a obra (o autor avisa que é de tiragem única e não repetível!). Todo o livro é assim belo como este poema:

IAN CURTIS A ANNIK HONORÉ

Colho um tufo de erva do teu corpo
Deito-me nele e como-o,
sinto-lhe a humidade que ficou da última noite
quando nos deitámos e rebolámos
e nos cruzámos com insectos
a medirem-nos a respiração das coisas.

Prostro-me sob a sombra do teu peito,
deixo cair dos olhos alguns flocos de neve.

Andamos sempre à procura
de uma noite que não tem dias,
de uma noite sem sinais,
candeeiros que reflictam
a agitação dos mosquitos à queima-roupa.

Andamos como uma letra despovoada
nos silos da ternura, a encostar um sopro
a outro sopro. E nada, absolutamente nada,
nada nos cura desta traição consumada.

domingo, maio 13, 2012

Medida por Medida, de Shakespeare, no TNSJ

Devo estar a bater o recorde de presenças em peças de teatro no último dia. E por falar disso, não compreendo que política cultural da cidade é esta ao acabarem quatro espetáculos no mesmo dia. Caramba, já se sabe que os portugueses deixam tudo para a última, mas isto é um castigo demasiado alto. Agora a Penélope encenada por Jorge Silva Melo, só indo a Lisboa!
Mas a encenação de Medida por Medida, por parte de Nuno Cardoso, foi muito boa. Quer no trabalho de atores, quer na excelente oportunidade política da peça de Shakespeare, mais que justificada. É o que se chama uma grande volta de 360º no exercício do poder. Maquiavel ou Montaigne, o Rui Tavares, num artigo do folheto promocional do TNSJ, que vá dar uma volta ao bilhar grande que pouco me importa saber se o dramaturgo os leu, ou não. A história do Duque é ela própria a história de todos os políticos que, sem terem a coragem para levar a cabo as medidas de austeridade anunciadas e 'necessárias' (ou melhor, aquelas que justificam a perpetuação do poder) se põem a utilizar testas de ferro ou bodes expiatórios para o fazerem. No fim, o cinismo é tal que tudo fica propositadamente igual. Percebe-se que Lampedusa tenha gostado da peça e dito que esta era a obra de Shakespeare: «É necessário que alguma coisa mude para ficar tudo na mesma».

quinta-feira, maio 10, 2012

Pouco a pouco constrói-se a história de uma traição


Berlim 1918, Espanha 1936, França 1936, Hungria 1956, Praga, 1968, Paris, Maio de 68, Moscovo, 1991, algumas datas e registos de traições que ainda hoje magoam. Agora junta-se a Grécia e a impossibilidade de o Syrisa formar um governo de esquerda que retire ao povo grego a humilhação da austeridade e do desemprego. Não estou a exagerar. A Europa vai obrigar a Grécia a novas eleições até aceitarem a vergonha e a imposição alemã. Quem, desde logo, não aceitou a possibilidade de um governo baseado na escolha do povo deve felicitar-se interiormente pelo seu sucesso. Mas pagaremos todos muito caro por isso.

Feira do Livro de Lisboa: ir ao A44 ver os livros de Paulo Kellerman



domingo, maio 06, 2012

Édipo, de Sófocles, no Teatro do Bolhão



Édipo, de Sófocles, foi encenado por Kuniaki Ida e teve interpretações
memoráveis de António Capelo e Pedro Lamares.
Tomem e embrulhem: no dia das eleições gregas (em França não importa e entre Hollande e Sarkozy venha o diabo e escolha), cá o indivíduo deu corda aos sapatos e foi, lesto, ver Édipo de Sófocles, encenação do Teatro do Bolhão e que nunca ganhou, a seu tempo, qualquer festival da Grécia antiga. Lá, como cá, os árbitros tinham os seus critérios e quedas súbitas por este ou por aquele. Sófocles é que provavelmente não era simpático ou não tinha acesso às mistoforias públicas. Mal um tipo se senta, ouve: «Salva esta cidade das ruínas, ó Édipo!» e quer se queira, ou não, pensamos que existe um paralelismo entre a nossa sociedade e a deles, dos gregos antigos. Só que Jocasta é a Democracia e Édipo, nós todos. Deixámos que nos privassem da sociedade, da economia, da ciência, da cultura e da solidariedade, para nos entregarem ao dinheiro e às finanças. Não sei como vai ser o fim desta tragédia, mas os gregos inventaram tudo e há quem diga que de uma maneira ou de outra pagaremos sempre os nossos erros. A cegueira como destino? É provável. Mas não gosto.

quarta-feira, maio 02, 2012

Sita Valles, um percurso de vida e de morte em Angola

Tinha 17 anos quando conheci Sita Valles, numa reunião na sede da UEC de Coimbra, em junho de 1974. Fez-se acompanhar por Zita Seabra e escuso-me a comentar o que pensei pessoalmente das duas. Pouco interessa para o que eu quero dizer, mas Sita Valles impressionou-me vivamente pela clareza e entusiasmo que imprimia às propostas de uma organização em evidente crescimento nos liceus e universidades. Nessa ocasião a UEC ganhou muitas associações estudantis e poucas férias tivemos em dois a três anos. Fomos de imediato para o movimento Alfa e, autênticos miúdos, apontámos para o campo alfabetizar e trabalhar com os camponeses. Creio que isso moldou-me como pessoa. E talvez por causa disso em 1977, quando do seu fuzilamento, após tortura e violação por agentes da DISA, em agosto desse ano, já não me encontrava na UEC. Em breve seria uma organização dissolvida pelo PC. Muitos desses militantes afastaram-se e nunca mais voltaram à política ativa. Outros continuaram a política de outras formas e noutros lugares.
Li o livro da jornalista Leonor Figueiredo sobre a vida de Sita que o comprei há uns tempos. Evitava lê-lo e sei-o porquê. É evidente que emociona, mesmo que algumas situações não estejam suficientemente explicadas e a escrita pudesse ser um pouco melhor. É necessário que se saiba a dimensão brutal do que aconteceu nos dias após 27 de maio de 1977, em Angola. Pensa-se em 20 a 30 mil mortos, para não falar de expulsões e torturas generalizadas numa autêntica orgia de sangue e violência que fez sossobrar a melhor juventude, aquela que tentou denunciar a corrupção nascente em Angola. O próprio modus operandi dos torturadores e dos carrascos lembra o Chile de Pinochet que quatro anos antes se tinha dado, com enterramentos e lançamentos de helicópteros de pessoas vivas. E há várias nebulosas ainda: conhecer o relatório de Eduardo dos Santos sobre o tal «fracionismo» de Nito Alves, José Van-Dunen e Sita Valles, nunca apresentado e que esclareceria o seu papel na repressão; o papel do «grande» escritor Pepetela continua a gerar incertezas; e a intervenção do PCP, ou a falta dela, não é ainda clara passados estes anos. Há silêncios que podem explicar tudo, mas a memória de Sita Valles, mesmo com a ingenuidade e o voluntarismo que lhe são atribuídos merecia melhor. E quer se queira, ou não, ela tornou-se um símbolo.

Feira do Livro de Lisboa: ir ao A44 Deriva/ História

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Hoje, 17h, na FCSH, da Univ. Nova de Lisboa, apresentação de Observações sobre o Ramo Dourado de Frazer de Wittgenstein