sábado, dezembro 17, 2016

Fechar a Cornucópia. Somos todos mansos...

Ter vergonha de um país que deixa fechar a Cornucópia sem um lamento, um ai que seja. Não quero ter de agradecer a um homem como Luís Miguel Cintra. Quero que reabram o teatro!

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Le Monde Diplomatique, edição de Dezembro. À venda

Índice
Editorial
A desorientação da intelligentsia. SERGE HALIMI (dossiê Estados Unidos)
Política
Desfazer o sofrimento. SANDRA MONTEIRO
Pensões
«Redução da pobreza dos idosos» contra Segurança Social . MARIA CLARA MURTEIRA
Trabalho
Precariedade científica: modo de não usar. PAULO GRANJO
Media
Os media, no 10.º aniversário da edição portuguesa. SERGE HALIMI
Transparência e opacidade no jornalismo português. MÁRIO MESQUITA
DOSSIÊ. Estados Unidos: nas origens da derrocada
O triunfo do estilo paranóico. IBRAHIM WARDE
A desorientação da intelligentsia. SERGE HALIMI
Como perder umas eleições. JEROME KARABEL
Fogo cerrado contra Bernie Sanders. THOMAS FRANK
Américas
Venezuela: as razões do caos. RENAUD LAMBERT
Médio Oriente
Quem são os rebeldes sírios? BACHIR EL-KHOURY
Europa
Criadores de renas contra mineiros. CÉDRIC GOUVERNEUR
Ásia
O perigo jihadista atinge o Bangladeche. JEAN-LUC RACINE
ONU
Uma pedra no sapato americano. JEAN ZIEGLER
Nacionalismos
Choque de memórias e desprezo pela história. JEAN-ARNAULT DÉRENS
Ucrânia: jogo de espelhos para heróis controversos. LAURENT GESLIN e SÉBASTIEN GOBERT
Sociedade
Os comuns, um projecto ambíguo. SÉBASTIEN BROCA
Intelectuais
Portugal e a União Europeia em João Martins Pereira. JOÃO MOREIRA
Cartoon
Rações. VASCO GARGALO

segunda-feira, dezembro 05, 2016

Apresentação de «Trabalhos em Curso» no Instituto de Sociologia da FLUP

Da esquerda para a direita: António Luís Catarino (Deriva Editores), José Luís Carneiro, secretário de estado das Comunidades Portuguesas, Bruno Monteiro, Prof. José Madureira Pinto e João Queirós.

5 de Dezembro, sala 201 da FLUP inserido no Projecto: «Dinâmicas recentes dos movimentos migratórios no noroeste português: o caso dos trabalhadores da construção civil». Apresentação de «Trabalhos em Curso» de Bruno Monteiro e João Queirós.

A Deriva agradece o convite formulado para estar presente neste projecto que revela claramente a relevância, actualidade e seriedade com que o Instituto de Sociologia e a FLUP mostram ter. Neste campo em particular e no caso da edição de «Trabalhos em Curso – Etnografia de operários portugueses da construção civil em Espanha», a Deriva agradece aos autores João Queirós e ao incansável Bruno Monteiro cujo trabalho se tem vindo a revelar de uma importância fundamental no que à sociologia, e não só, diz respeito. Para além destes autores, os agradecimentos estendem-se aos colaboradores desta publicação como Jorge Arroteia, Lorenzo López Trigal e a jornalista e escritora Ana Cristina Pereira.
A parceria Deriva Editores, uma editora independente do Porto, com a edição portuguesa do Le Monde Diplomatique mais uma vez se mostrou um êxito, pela divulgação muito mais abrangente, em todo o país, desta mesma publicação, mas também porque a independência da Editora e talvez o seu carácter alternativo não nos permite ser neutrais perante as injustiças e as desigualdades. A linha está, pois, marcada nos tempos interessantes (como diria Hobsbawm), mas perigosos, em que vivemos.
Contam-se, nesta colecção que mantemos com o LMD, três livros, quatro com este, que se relacionam com a identidade operária o que significa, segundo a minha leitura, que esta é, e tudo indica que continuará a ser, objecto de estudo académico. Neste caso em particular, «Trabalhos em Curso» debruça-se sobre a emigração de operários portugueses para o Estado Espanhol e mais concretamente para a Galiza e zonas fronteiriças do país vizinho.
Mas este trabalho excelentemente apresentado fez-me procurar outros dados e factos que levaram a classe operária a emigrar, uma constante de ciclos longos com poucas variáveis. Para além de um século XIX, onde o liberalismo mais selvagem foi vitorioso com o seu rasto de miséria criminosa para a classe operária, as migrações internas, em quase toda a Europa, foram quase a única alternativa para a sua sobrevivência. Assim, era este enxame de camponeses despojados das terras que exigia a concentração agrícola e que suportava a revolução industrial que se proletarizou nas minas, nas indústrias têxteis, na construção civil, no comércio ou no serviço doméstico. A classe operária nascente era sujeita a todos os abusos, desde o trabalho infantil, à sobre-exploração do trabalho feminino e à retirada de todos os direitos políticos aos trabalhadores.
As crises económicas cíclicas, cujas consequências desastrosas para os mais fracos, mas justificada pela mão invisível do liberalismo, obrigava a mais emigrações maciças agora para países como os Estados Unidos, a Argentina, o Brasil ou para os diversos domínios coloniais do imperialismo europeu. Os portugueses não estavam ausentes destes grandes movimentos migratórios. Julgam-se que foram 20 milhões de europeus que desde 1884 a 1914 se deslocaram, tendo a emigração portuguesa aumentado sistematicamente pelo menos até ao ano de 1900. No século XX, em quase todo o século XX, a emigração portuguesa foi uma realidade, dizem os diversos estudos. A fome e a pobreza grassavam em Portugal, quer nos anos da República que virou as costas às reivindicações operárias e uma das causas da sua decadência precoce, quer nos anos da guerra que entre 1916 e 1918 levou para a matança dos imperialismos dezenas de milhar de operários e camponeses portugueses em La Lys. Depois, sabemos demasiado bem a que levou a ditadura salazarista no que a este campo diz respeito. Levados a uma austeridade e pobrezas absurdas e vendendo a «alegria no trabalho» decalcado do mussolinista «Doppo Lavoro», obrigados ao respeitinho, às humilhações contínuas, à falta de liberdade, às Casas do Povo e aos sindicados nacionais, à Sopa dos Pobres e ao medo instituído pela repressão e à guerra colonial, foi evidente o impulso migratório de sucessivas levas de portugueses em quase todo o século passado realçando-se a explosão de emigração clandestina e «legal» na década de 60, só diminuindo significativamente nos anos 70, exactamente quando houve melhores condições de vida, ganhos no PREC.
Hoje, «Trabalhos em Curso» leva-nos a uma nova perspectiva sobre a emigração portuguesa. Ao discurso oficial da emigração «talvez a mais qualificada» que tivemos para os países europeus, contrapõe-se a emigração de operários portugueses principalmente para Espanha. No conjunto, entre 2002 e 2008, e apresentado por João Queirós, na Tabela 1, são 135 mil os residentes de trabalhadores portugueses registados em que o sector da agricultura, da construção e da indústria supera, em muito, o sector dos serviços.
Mais uma vez, Portugal assiste, não sem alguns falsos argumentos aduzidos por más consciências políticas, a um processo de exportação de trabalho barato que produz a rarefacção da classe operária e ao declínio da acção política reivindicativa, de uma crise de reforço sindical e igualmente de uma ténue consciência de classe. O processo de recuperação neoliberal que se está a verificar desde a crise de 2008, ou muito antes, se quisermos relembrar os anos 80 nos EUA e Grã-Bretanha,  passa por uma deslocalização das empresas multinacionais, por despedimentos em massa, pela chamada «flexibilização das leis laborais» e pela desmontagem das indústrias tradicionais através da robotização, sem que tudo isto seja acompanhado pela atribuição de novos direitos que apontem para vivências mais democráticas, fruto, em grande parte, senão na sua maior parte, pela luta secular dos operários e fundamentais para uma vida digna de que estamos ainda a usufruir. Lembremos que o movimento operário mundial foi portador de uma modernidade e de iniciativas de liberdade ímpares e que lhe devemos os juros dessa luta. É evidente que também levaram com as ilusões perdidas em utopias e em revoluções fracassadas, mas nunca poderemos negar os direitos que fomos adquirindo por essas lutas feitas a ferro e fogo. Daí, a importância do conhecimento das lutas operárias e do seu estudo contínuo e do valor do trabalho como parte de uma sociedade que se quer solidária.
Neste «Trabalhos em Curso» a existência de uma vida virada para a sobrevivência ou para sobrevida do quotidiano dos operários emigrantes não está só espelhada pelas entrevistas do Bruno ou de Ana Cristina Pereira. A pobre sobrevivência dos operários emigrantes está bem viva num simples quadro no artigo de Bruno Monteiro, na página 146 do livro. Chama-se «Entre cá e lá». Diz, infelizmente, tudo sobre a afronta a que estes homens estão sujeitos. Uma vida contada euro a euro, à espera de boleias em estradas perigosas, em mediáticos acidentes de trabalho, em condições de habitabilidade improváveis, em horas de trabalho sem fim. Creio sinceramente que o silêncio sobre este estado de coisas é tão criminoso como a acção das redes mafiosas que manobram às claras. Este livro é, por isso, fundamental.
O meu obrigado a todos. 

António Luís Catarino. 5 de Dezembro de 2016

sábado, dezembro 03, 2016

Foto da apresentação de «A Vida entre Nós» na Unicepe a 25 de novembro

Que fique registado o momento: António Luís Catarino, (Deriva Editores) no uso da palavra, Lígia Ferro, João Teixeira Lopes, Sofia Lai Amândio e o responsável pela Unicepe. «A Vida entre Nós - Sociologia em Carne Viva» conta com 17 participações maioritariamente de sociólogos.