segunda-feira, maio 28, 2012

Reler Telefunken, de Luís Maffei



Luis Maffei afirma: o mundo existe. O poema começa já quando uma forma foi encontrada; não há nunca, pois, matéria simples, que não poderia ser dita por palavras. Há, logo, o acidente, a figura, a coisa de se estar vivo, que é existência mas não náusea, caos mas também perspectiva: “Assim: só o pequeno / barulho da cidade, longe / como se livre eu estivesse, / as gatas e / eu.”. Nunca a pura abstracção, mas imediatamente a cidade, o subúrbio, os animais, os números; e depois, só depois, a interrogação que faz tremer os contornos dessas formas. Leitor atentíssimo de Camões, Luis Maffei ouve também atentamente a lição de Herberto Helder: sim, “Transforma-se o amador na cousa amada / Por virtude do muito imaginar”, mas também: “O amador entra / por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate. / O amador é um martelo que esmaga. / Que transforma a coisa amada.” (Helder 1961: 13-14). A matéria busca a forma? Mas é a matéria que martela a matéria. Outro modo de se assemelhar, com paixão, iconoclastia. Pois a poesia de Luis Maffei é uma poesia de amor, e o amor é busca infrene da matéria. (…)

Com a Esquerda Mão – posfácio de Pedro Eiras a Telefunken

Luis Maffei (Brasília, 16 de fevereiro de 1974) é Professor de Literatura Portuguesa do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense. Doutorou-se em 2007 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a tese “Do mundo de Herberto Helder”. Como poeta, publicou A (Rio de Janeiro: Oficina Raquel), em 2006, e Telefunken (Rio de Janeiro: Oficina Raquel), em 2008. Como músico, lançou, em 2004, o disco na mesma situação de blake, em parceria com Marcelo Gargaglione. Coordena, para a editora Oficina Raquel, a série Portugal, 0, dedicada à novíssima literatura portuguesa, responsável pelas antologias brasileiras das obras de Manuel de Freitas, Rui Pires Cabral, Luís Quintais e Pedro Eiras. Tem textos publicados em diversos periódicos de literatura, como as revistas Gragoatá, Metamorfoses, Relâmpago e Telhados de vidro.