terça-feira, março 31, 2009

O Mundo Sólido, de João Paulo Sousa. A sair

Eis a capa de O Mundo Sólido de João Paulo Sousa. Com arranjo gráfico de Gémeo Luís e foto de Pedro Ferreira. Dentro de pouco tempo nas livrarias. Apresentações em Lisboa e no Porto.

sábado, março 28, 2009

Utopias Piratas. Apresentação na Gato Vadio dia 2 de Abril, quinta às 22h, com António Alves da Silva e Miguel Mendonça


É já na quinta-feira, na Livraria Gato Vadio, na Rua do Rosário, 281 (ver aqui), uma conversa com Miguel Mendonça, que traduziu e propôs à Deriva a publicação de Utopias Piratas de Peter Lamborn Wilson, e António Alves da Silva. Pretende-se um debate informal sobre a pirataria moura do século XVII e o papel muito particular da República de Salé que, diga-se, está muito pouco estudada pela historiografia oficial. Se a troca de opiniões que esperamos seja aberta e sincera abrir caminhos de futura exploração do tema já nos damos por muito satisfeitos.
Não se esqueçam: quinta-feira, pelas 22h, na Gato Vadio.

sexta-feira, março 27, 2009

Telefunken de Luis Maffei e Um Punhado de Terra de Pedro Eiras. Na tipografia

Ana Hatherly, Labirinto de Letras

Dois livros mais na tipografia e uma faca nos dentes. Do Brasil, chega-nos Luis Maffei com Telefunken a sair muito em breve pela Deriva. Um livro de poesia belíssimo que irá ser apresentado por Rosa Maria Martelo e Silvina Lopes Rodrigues, no Porto e em Lisboa, respectivamente.
Pedro Eiras surpreende-nos sempre. E agora foi com Um Punhado de Terra, um monólogo que nos entra pelo corpo dentro, sobre os chamados descobrimentos portugueses. Violento e grandioso. A seguir estes dois livros, com atenção.

segunda-feira, março 23, 2009

Havemos de ir a Viana, sessão das Quintas de Leitura com Filipa Leal, já dia 26 de Março

Havemos de ir a Viana, sessão com Filipa Leal nas Quintas de Leitura no Teatro de Campo Alegre, dia 26 de Março, pelas 21:30. A não perder. Para saber mais aqui

Versos Olímpicos de José Ricardo Nunes e O Mundo Sólido de João Paulo Sousa na tipografia


Ana Hatherly

É uma notícia interna, daquelas a que quase ninguém dá o devido valor. Notícia que passa rapidamente sob o nosso olhar e que se duvida que se fixe por muito tempo, até vermos os livros nas nossas mãos. É assim com estes, com todos eles. Um abraço aos seus autores, ao João Paulo Sousa, com O Mundo Sólido, e ao José Ricardo Nunes, com Versos Olímpicos, um romancista e um poeta que escolheram a Deriva para os lermos. Iremos falar com eles aqui no blog e dar a conhecer as capas, os livros, os lançamentos, os convidados, os amigos. Em breve. Para já, os dados estão lançados. A tipografia espera-os.

sexta-feira, março 20, 2009

Filipa Leal e Bando dos Gambozinos, dia 21 de Março, no CCB

Dia 21 de Março Filipa Leal e o Bando dos Gambozinos vão estar presentes no CCB.Ver o programa aqui

Utopias Piratas de Peter Lamborn Wilson

«O islamismo, no fim de contas, é o mais recente dos três monoteísmos ocidentais, e contém por isso a sua dose de crítica revolucionária do judaísmo e do cristianismo. A apostasia de um autoproclamado Messias ou de um pobre e anónimo marinheiro seria invariavelmente vista, nesta perspectiva, como um acto de revolta. O islão, em certa medida, foi a Internacional do século XVII – e Salé talvez o seu único e verdadeiro “Soviete”. À primeira vista, Salé aparenta ser um lugar ímpio, um ninho de piratas ateístas e violentos – mas assim que observamos e escutamos com mais atenção, quase podemos ouvir o eco das suas vozes distantes, recortadas em apaixonados debates e exaltadas oratórias. Os textos perderam-se ou talvez nunca tenham existido; era uma cultura oral, uma cultura auditiva… é difícil discernir os seus últimos murmúrios… mas não totalmente impossível!»
Peter Lamborn Wilson

Peter Lamborn Wilson
O autor, neste seu recente trabalho, foca a acção corsária da independente República pirata de Salé, durante o século XVII. Corsários, sufis, pederastas, mulheres mouras «irresistíveis», escravos, aventureiros, rebeldes irlandeses, judeus hereges, espiões britânicos, heróis populares da classe trabalhadora e até um pirata mouro em Nova Iorque, emprestam a este livro um ambiente livre constituído por comunidades insurrectas nunca verdadeiramente dominadas e portadoras de uma praxis de resistência social que abalou seriamente os estados europeus.
Peter Lamborn Wilson, nascido em 1945 e investigador e poeta norte-americano com vasta obra editada, escreveu «Sacred Drift: Essays on The Margins of Islam», na City Lights e «Scandal: in Islamic Heresy», Autonomedia.

Teatro para a Infância e Juventude, novo livro de Ana Margarida Ramos, Blanca-Ana Rechou e José António Gomes, já à venda


É o novo livro da Deriva já disponível no site.

No seguimento da publicação, em 2007, do volume Grandes Autores para Pequenos Leitores – Literatura para a Infância e a Juventude: elementos para a construção de um cânone, também na Deriva Editores, decidiram os autores voltar a reunir as suas produções ensaísticas, desta vez em torno do universo do texto dramático.
Assim, compilam-se neste livro quatro ensaios onde se abordam, em diferentes línguas, as produções literárias de destinatário preferencial infantil, no âmbito do texto dramático, relativas a Portugal, à Galiza, a Inglaterra e à Alemanha. Cada um dos textos é publicado na língua materna dos investigadores que o assinam, o que resulta numa publicação bilingue que, contudo, pelas afinidades existentes entre o português e o galego, não põe em causa a leitura deste monográfico, pelo contrário, enriquece-o com contributos desconhecidos da grande maioria do público português (nos casos dos ensaios sobre as produções galega, inglesa e alemã) e do público galego (no tocante às criações em português) que, por esta via, são aqui disponibilizados.À semelhança do que já ocorrera com a publicação anterior, os textos sobre a situação portuguesa e galega correspondem a versões desenvolvidas e alargadas de uma reflexão que se iniciou por altura da realização dos XIII Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil, na Biblioteca Municipal de Almeida Garrett, em Novembro de 2007. Subordinado ao tema «Do Livro à Cena», este encontro pretendia promover a interacção entre autores, encenadores, investigadores e mediadores de leituras em torno das relações entre texto dramático e teatro para a infância, chamando a atenção para um modo literário que se encontra na base de uma arte complexa e rica e que não tem conhecido a atenção merecida por parte do público e da crítica. Como sempre ocorre neste tipo de iniciativas, os diálogos prolongam-se para lá das sessões formais e das discussões suscitadas, fomentando o interesse pelo desenvolvimento das análises entretanto apresentadas.
Título mais uma vez proposto pelo escritor e crítico Miguel Vázquez Freire, um dos elementos da Direcção de GÁLIX (Asociación Galega do Libro Infantil e Xuvenil – Sección galega da OEPLI) que participa na organização dos Encontros do Porto. Deste modo, e apesar da edição das actas dos encontros, mantinha-se o interesse pela divulgação de trabalhos mais alargados e de maior fôlego, permitindo estabelecer panorâmicas das diferentes línguas envolvidas, capazes de dar a perceber a evolução e as tendências dos textos dramáticos para a infância e juventude.
Além disso, o teatro para a infância tinha sido também o centro dos estudos desenvolvidos, entre Setembro de 2006 e Setembro de 2007, pelos investigadores agrupados na LIJMI – Rede Temática de Literaturas Infantis e Juvenis do Marco Ibérico que, além de apoiarem a realização dos Encontros Luso-Galaico-Franceses, publicaram, na Galiza, o volume monográfico que tem a seguinte referência bibliográfica: ROIG RECHOU, Blanca-Ana, LUCAS DOMÍNGUEZ, Pedro e SOTO LÓPEZ, Isabel (coord.), Teatro Infantil. Do Texto á Representación, Vigo: Edicións Xerais de Galicia (ISBN 978-84-9782-616-7), permitindo o enquadramento mais alargado da reflexão entretanto levada a cabo relativamente aos casos português, galego, inglês e alemão. Agrupando investigadores e docentes de várias universidades portuguesas e espanholas, sob a coordenação de Blanca-Ana Roig Rechou, este grupo de investigação interdisciplinar dedica-se, principal mas não exclusivamente, ao estudo da produção, recepção e mediação das produções literárias destinadas ao público infanto-juvenil.
Também à semelhança do volume anterior, e com vista a manter uma certa uniformidade, manteve-se a colaboração das investigadoras galegas que se dedicam ao contexto anglo-germanístico, disponibilizando referências relevantes que permitirão situar o caso português num contexto mais alargado das literaturas infantis europeias. Trata-se, no fundo, de perseguir uma linha de investigação já iniciada anteriormente, procurando sistematizar e contextualizar diferentes produções literárias de potencial recepção infantil, reconhecendo-lhes um lugar relevante nos estudos literários contemporâneos e contribuindo, com estes pequenos passos, na realização de uma história europeia comparada da Literatura para a Infância e Juventude.


Da Apresentação.

Coordenação de Ana Margarida Ramos, Blanca-Ana Roig Rechou e José António Gomes

quinta-feira, março 19, 2009

Problema de Expressão, por Paula Cruz

Fotografia de Mafalda Capela


I should not dare to be so sad”Emily Dickinson

e que por isso, por ser triste, porsermos todos tristes, não mo deviam dizer.Digo-te por isso que não era minha intenção dizer-te mais uns versos tristes e sem luz, e por isso, só por isso,não era minha intenção dizer-te nada.”
(Leal, 2008: 17)

Ninguém está triste, digo: ninguém é triste. Agora, ninguém entristece, todos deprimem. A tristeza é sentimento; a depressão é doença. O sentimento esconde-se, a doença trata-se. O desconcerto desta tristeza anunciada vem, exactamente, pelo despudor de se afirmar a tristeza. Ser triste não é um estado, é a condição de ser norte. Norte nos sentidos, norte na distância, norte como a Madame de Stäel que, ao distinguir a poesia do Norte e do Sul, opta pela poesia do Norte, pois a considera mais em consonância com o pensar filosófico: a tristeza permite conhecer melhor o carácter do Homem. A tristeza é obsessiva, é minuciosa, é exacta como estes versos.
Em “Digo-te por isso” (idem, ibidem) regressamos a uma palavra-chave do cancioneiro literário português: triste. O mais provável é que este uso tenha sido meramente acidental, contudo vale a pena reler o texto com esta memória, com o peso, que o adjectivo “triste” tem no nosso imaginário literário . Não deve existir cantiga mais triste que a célebre cantiga “Partindo-se”: “Partem tão tristes, os tristes, / tão fora de esperar bem / que nunca tão tristes vistes / outros nenhuns por ninguém.” Ainda que em sentidos diferentes, do que na cantiga de João Ruiz Castelo Branco, a repetição da palavra triste, neste poema de Filipa Leal: trilha-nos. É uma tristeza que pré-existe e que não tem e que não precisa e que não quer ter explicação: não é triste “porque” ou “apesar de”, é-o.
Digo-te por isso” apresenta-se como uma resposta a quem quer um “fiat lux” forçado, a quem quer mascarar a tristeza, não entendendo que a tristeza é uma condição, não uma escolha. O eu que se esconde (ou se mostra) é bem mais contido que o Campos que recusa o rebanho:
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ou que o Régio:
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!

Enquanto que estes dois poetas estridentes ocupam o espaço com o grito da revolta e da rebeldia, a voz de “Digo-te por isso” é firme, mas não se afirma pelo grito, não precisa de o fazer, sabe que não lhe adianta fazê-lo. Não diz o que não quer, diz antes o queria não ter feito: “que não era [sua] intenção dizer-te mais uns versos tristes” . Não há agressão ao “tu”, há uma distância provocada por um problema de incomunicabilidade. Talvez, o “eu” que se esconde (ou se mostra no texto) não quisesse dizer nada disto, porém há sempre falhas na comunicação, esse é o problema de ser norte. Quando se endereça uma carta, à partida, não estaremos, depois, presentes para nos explicarmos.
O primeiro poema do livro é o selo de um cêntimo . Se calhar a poeta que empresta voz ao remetente destes versos não concorda. Muito provavelmente, para ela o primeiro poema é a Arte Poética (idem, ibidem:9) ou a provocação que a antecede: “É isto que acontece quando se escreve sobre o resto” (idem, ibidem:8) e por “isto”, entenda-se, poesia no sentido mais preciso (e precioso). Mas isso não interessa, agora que os textos lhe fugiram do domínio, cada um dos destinatários/leitores criará novos sentidos, novos nortes. E aquele selo faz todo o sentido. E mesmo que o selo seja uma falsa pista para a exegese destes versos, certo é que, como numa carta longamente pensada, também nos versos deste livro há uma preocupação com a precisão da palavra, com o destino de cada sílaba, com o norte de cada sentido. De facto: “escrever não é fácil / que viver não é fácil” (idem, ibidem:17) , ainda mais quando a vida e a escrita se amalgamam, quando se procura escrever a vida e não descrevê-la como os tais “poetas de supermercado” (idem, ibidem: 24).

Nota: Não era minha intenção escrever este texto. Pensei escrever sobre as Artes Poéticas de Filipa Leal e de Nuno Júdice, mas um verso de Adrienne Rich , -The length of daylight /this far north”, em Integrity, torceu-me a atenção. E em redor desse verso, sem árvores à volta, cresceu o texto. Não falei do todo que é O Problema de Ser Norte porque o silêncio e a luz não se dizem, porque é preciso primeiro chegar ao “fim do pensamento.” (idem, ibidem:43)
(2008) Leal, Filipa O problema de ser norte, Deriva, Porto.

sábado, março 14, 2009

Teatro Nacional de São João promove ciclo de debates O Teatro Na Escola, 27 e 28 de Março

Mosteiro São Bento da Vitória
O Teatro na Escola
Espectáculo, Debates, Oficina
27 e 28 de Março
Numa altura em que o ensino artístico faz parte do currículo escolar do ensino básico e a oferta de ensino profissional artístico tem vindo a aumentar, propomo-nos falar da situação do teatro na escola enquanto actividade curricular e extracurricular. Das dificuldades que os seus agentes encontram. Quem são estes agentes? O teatro na escola. Casos de boas práticas. O programa inclui também uma oficina em que, a partir do texto de Tchékhov, As Três Irmãs, os participantes experimentam algumas das práticas utilizadas em contextos formativos e artísticos. Por último, assistiremos a 3irmãs, um exemplo de criação teatral em contexto escolar.

Espectáculo
[27 + 28 Março] sexta-feira e sábado 21:30
3irmãs
de Anton Tchékhov
encenação Pedro Manana, Joana Félix
pelo contra-regra (grupo de teatro da Escola Secundária Inês de Castro)

Bilhetes à venda para a récita do dia 28 de Março na bilheteira do TNSJ Preço único: € 5,00 Informações e reservas 800-10-8675

Debates
O Teatro na Escola
[27 Março] sexta-feira 18:00

O papel das artes, e especificamente do teatro, na contemporaneidade e a sua importância na formação do indivíduo. A “alfabetização” estética. A diferença metodológica entre a experimentação real de expressões artísticas e as disciplinas convencionais. As parcerias entre a escola e entidades externas (autarquias, companhias, teatros…).

Participantes Nuno Carinhas (Encenador); Júlia Correia (Actriz, professora de Teatro e Expressão Dramática na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto); Marcelo Lafontana (Encenador, actor e director artístico do TFA – Teatro de Formas Animadas de Vila do Conde) Moderador Domingos Morais (Docente da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa)

[28 Março] sábado 16:00

Teatro na escola – Prática universal ou disciplina de opção? Dimensão curricular ou extracurricular? Perfil do docente. A presença dos artistas nas escolas. O estatuto das disciplinas artísticas e dos respectivos professores. A presença das expressões artísticas na formação de educadores e professores.

Participantes Joana Félix (Professora de Teatro da Escola Secundária Inês de Castro, Porto); Marcelo Lafontana (Encenador, actor e Director Artístico do TFA – Teatro de Formas Animadas de Vila do Conde); Né Barros (Coreógrafa, co-directora do Balleteatro). Moderador Domingos Morais (Docente da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa)

Oficina
A Expressão Dramática Aplicada à Pedagogia
[28 Março] sábado 10:00-13:00

Oficina orientada por Joana Félix, dirigida a docentes de todas as áreas disciplinares.

Debates e Oficina Inscrições gratuitas junto do departamento de Relações Públicas do TNSJ T 22 340 19 50 email: rp@tnsj.pt

Espectáculo
Tambores na Noite
[20 Março 26 Abril] terça-feira a sábado 21:30 domingo 16:00
de Bertolt Brecht
encenação e cenografia Nuno Carinhas
colaboração musical António Sérgio

segunda-feira, março 09, 2009

O Oriente na Literatura Portuguesa: um encontro em Itália organizado por Catarina Nunes de Almeida



No dia 27 de Fevereiro, foi organizado por Catarina Nunes de Almeida o encontro «O Oriente na Literatura Portuguesa». Teve lugar na Universidade de Pisa, em Itália, onde a Catarina lecciona e se encontra a finalizar o mestrado. Os participantes foram Gustavo Rubim, Ana Paula Laborinho, Paulo Borges, Serafina Martins, Esperança Cardeira, Luís Filipe Thomaz, Arlindo Nicau Castanho, Renata Pisu, António Graça de Abreu.

domingo, março 08, 2009

E lá se vai o Intercéltico

No Porto, já nos habituámos ao costume nefando: quando uma acção cultural de prestígio se mobiliza para uma nova aventura, quase sempre anual, os representantes autárquicos do burgo insultam e desprezam os promotores. Aconteceu, agora, com o Intercéltico cujo responsável foi apodado de «caçador de subsídios», ou lá o que foi dito, quando, de uma maneira completamente legítima se dirigiu à vereação para pedir os apoios do costume. Pelo que conheci, nem eram nada de mais. Estamos conversados sobre a má-educação do tal representante político. Mas estamos (ainda mais) esclarecidos sobre o programa cultural da CMP. Tudo o que não meta automóveis de corrida e o insuportável La Feria, mais os prejuízos aos bolsos dos contribuintes que essa popular opção implica, não tem lugar no Porto. Entretanto, perdemos o Intercéltico num ano em que se ia comemorar a Irlanda.

sábado, março 07, 2009

Utopias Piratas de Peter Lamborn Wilson e com tradução de Miguel Mendonça, em breve nas livrarias


Já se encontra na tipografia «Utopias Piratas - Corsários Mouros e Renegados Europeus» de Peter Lamborn Wilson. Em breve, este último livro da colecção de Ensaio da Deriva irá ser apresentado nas livrarias. Para já, um extracto do I Capítulo da obra:

Um Cristão “Tornado Turco”

Os cristãos são tornados turcos e os turcos são filhos dos demónios.”
Novas do Mar, de Ward o Pirata (1609)

«Desde cerca de finais de 1500 até ao século XVIII, muitos milhares de europeus – homens e mulheres – converteram-se ao islão. Na sua grande parte viveram e trabalharam em Argel, Tunes, Tripoli, e na área de Rabat-Salé em Marrocos - os chamados Estados da Costa da Berberia. A maioria das mulheres tornava-se muçulmana ao casar com muçulmanos. Esta grande adesão é facilmente compreensível, ainda que seria fascinante se pudéssemos traçar as vidas de algumas delas em busca de uma Isabelle Eberhardt do século XVII. Mas e então os homens? O que os impelia, a eles, à conversão?
Os cristãos europeus tinham um termo especial para os designar: Renegados – ou seja, os apóstatas, os vira-casacas, os traidores. Havia uma certa razão em se pensar dessa forma, uma vez que a Europa cristã ainda estava em guerra com o islão. As cruzadas não tinham tido verdadeiramente um fim. O último reino mourisco em Espanha, Granada, não sucumbiu à Reconquista senão em 1492, e a última sublevação moura em Espanha teve lugar em 1610. O Império Otomano, vigoroso, brilhante, e armado até aos dentes (tal como a sua contemporânea Inglaterra isabelina/jacobina), orientou a sua ofensiva contra a Europa em duas frentes, por terra em direcção a Viena, e por mar em direcção ao Ocidente através do Mediterrâneo.
Nas línguas vernaculares europeias, ‘turco’ significava todo e qualquer muçulmano, incluindo os mouros do Norte de África. Dos renegados dizia-se que se tinham “tornado turcos” (do título de uma peça teatral, A christian turn’d turke de Robert Daborne, representada em Londres em 1612). O Turco Lascivo e o Soldado Cruel povoavam a literatura popular, e “muçulmano!” é ainda um insulto grave em Veneza. Se pensarmos na posição da imprensa americana durante a recente Guerra do Golfo, contra o Iraque, podemos compreender a ignorância e o preconceito europeus da época. A atitude da Europa face ao islão, desde o século XIX, tem vindo a complexificar-se cada vez mais, porque de facto a Europa do século XIX conquistou e colonizou uma boa parte do Dar al-Islam. Mas no século XVII não existia esse ponto de interpenetração de culturas, mesmo sendo de sentido único. Essencialmente, a Europa odiava e não compreendia o islão. E quanto a este, a palavra jihad, guerra santa, resume bem a sua atitude face ao cristianismo. A tolerância e a compreensão eram praticamente inexistentes em ambas as margens do fosso cultural.
Aos olhos da maioria dos europeus, os renegados assemelhavam-se a criaturas impregnadas de um mistério demoníaco. Não só tinham estas “traído Nosso Senhor”, como se tinham mesmo juntado à jihad. Quase todos os renegados se tinham tornado “Corsários da Berberia”. Dedicavam-se ao ataque e ao saque de navios europeus e capturavam os seus tripulantes cristãos, que depois de transportados até à Berberia eram libertados sob o pagamento de um resgate, ou vendidos como escravos. Claro que os “corsários” cristãos, incluindo os Cavaleiros de Malta, faziam exactamente o mesmo aos navios e equipagens muçulmanas. Mas eram muito poucos os cativos mouros que se “tornavam cristãos”. O fluxo de renegados transitava largamente num só sentido.
Os europeus assumiam que os apóstatas eram escumalha humana, e acreditavam que os motivos da sua conversão eram os piores imagináveis: ganância, ressentimento, vingança. Mas muitos deles já eram “piratas” antes de se converterem – e esses é óbvio que só procuravam uma desculpa para a continuação da sua vida de pirata. Seguramente que a outros, que eram capturados, lhes era oferecida a escolha entre a conversão ou escravatura, e que numa atitude cobarde escolhiam a apostasia e o crime. Os renegados eram assassinados em público em todos os países europeus, e queimados vivos em Espanha (pelo menos em teoria), mesmo que desejassem a reconversão. Neste sentido, o islão era entendido mais como uma espécie de praga moral, do que propriamente como uma simples ideologia inimiga.
No seio do mundo islâmico a atitude relativa à conversão pode ser descrita como sendo mais aberta. Os espanhóis forçavam os judeus e os muçulmanos a converter-se, mas mesmo assim expulsavam-nos. O islamismo, no entanto, conservava ainda uma visão de si mesmo enquanto nova religião, procurando expandir-se por todos os meios possíveis e sobretudo através da conversão. Os “Novos Muçulmanos” são ainda hoje considerados abençoados e mesmo “afortunados”, especialmente nas fronteiras do islão. Esta divergência de atitudes face ao acto da conversão ajuda a entender a vantagem no índice de cristãos convertidos ao islamismo em relação ao sentido inverso – mas a questão do “porquê” continua por responder. Talvez devamos começar por assumir que nenhuma interpretação dos renegados, ‘turca’ ou cristã, nos pode satisfazer a curiosidade. Podemos duvidar, por um lado, que estes homens fossem simplesmente a figura do demónio, e, por outro, que fossem anjinhos da jihad. Vamos assumir que as nossas respostas – se alguma se provar possível – se apresentarão bem mais complexas do que qualquer destas teorias do século XVII.
Curiosamente, são poucos os historiadores modernos que têm realmente tentado compreender os renegados. Por entre os historiadores europeus pesa ainda o estigma da “teoria demoníaca”, ainda que tenha sido racionalizada e elaborada e até mesmo invertida em hipóteses que soam plausíveis. As considerações frequentes rondam as seguintes: Como é que foi possível à grande e poderosa Europa não ter conseguido erradicar os corsários da Berberia durante três séculos inteiros? É sabido que a tecnologia naval e militar do islão era inferior à europeia. Os árabes, como todos sabemos, são maus marinheiros. Como explicar então este aparente enigma? A resposta é óbvia – os renegados. Foram eles, como europeus, que introduziram a tecnologia europeia aos muçulmanos, e que também lutaram por eles. Parece portanto, que a pirataria berberesca não passou de “une affaire des étrangers”, e que sem os renegados jamais poderia ter existido. [Coindreau, 1948] Eram traidores da pior espécie – mas brilhantes à sua própria maneira, na sua rudeza. A pirataria é desprezível – mas, apesar de tudo, tão romântica!
Quanto aos historiadores islâmicos, é natural que se ressintam com qualquer sugestão de inferioridade islâmica. As histórias locais de Rabat-Salé do século XIX, princípios do século XX, por exemplo, indicam claramente que os mouros, os berberes e os árabes do país, contribuíram bem mais, a longo prazo, para a história da “guerra sagrada sobre o mar” do que alguns milhares de convertidos. E quanto a estes, os seus descendentes continuam a viver em Rabat-Salé – tornaram-se marroquinos, independentemente das suas origens. A história dos corsários não é “um affaire de estrangeiros” mas parte da história do Magrebe, o FarWest do islão, e da então emergente nação marroquina. [Hesperis, 1971]
Nenhuma destas “explicações” sobre os renegados nos aproxima das motivações que os teriam levado a abraçar o islão, e a adoptar a vida de piratas berberescos. Traidores brilhantes ou heróis assimilados – nenhum dos dois estereótipos possui qualquer profundidade real. Ambos contêm elementos de verdade. Os piratas introduziram algumas técnicas e novidades estratégicas na Berberia, como iremos ver. E participaram no mundo islâmico em formas mais complexas do que como simples criminosos a soldo – ou como experts – como também veremos. Mas ainda não temos indícios do porquê do fenómeno em todo o seu conjunto. Devemos ter em conta que, apesar de alguns dos renegados terem sido letrados em numerosas línguas, nenhum deles era realmente literati. Não temos registos em primeira-mão, nenhum texto escrito pelos próprios. As suas origens sociais não lhes proporcionaram o hábito por uma escrita auto-analítica; um luxo que era ainda monopólio da aristocracia e de uma classe média emergente. A pluma da História está nas mãos dos seus inimigos. Os renegados, eles próprios, mantêm-se em silêncio.
É possível que nunca cheguemos realmente a descobrir as suas motivações. E talvez não nos seja possível fazer muito mais do que sugerir uma série de impressões e especulações complexas, e mesmo contraditórias. Mas mesmo assim, ainda podemos fazer melhor do que os historiadores neocolonialistas europeus, ou do que os nacionalistas marroquinos que, uns e outros, não conseguem observar o renegado sem deixar de o relacionar com os seus próprios preconceitos ideológicos.
(...)


Tradução de Miguel Mendonça

Lançamento de A Inexistência de Eva, de Filipa Leal na Casa do Livro

Paula Cruz e Filipa Leal na Casa do Livro com Boticelli ao fundo
Ao fim da tarde de sábado, acabados de sair das Derivas de Fevereiro rumámos para a Casa do Livro, ali para os Clérigos, na Galerias de Paris. Casa cheia, amigos por todo o lado, uma bebida à mão, dois dedos de conversa, livros sempre.
A apresentação esteve a cargo da Paula Cruz que, para além de analisar A Inexistência de Eva, também o interligou com os livros anteriores da Filipa Leal: Talvez os Lírios Compreendam, A Cidade Líquida e outras Texturas e O Problema de Ser Norte. As palavras da autora foram à volta da poesia e do sentido da poesia, ou seja, do valor das palavras como parte integrante da sua vida. No fundo, da vida de todos nós.

Derivas de Fevereiro: foi bom um encontro assim

A mesa inicial: Isabel Sousa, Ana Maria Pinto e Paula Cruz


A última mesa: Américo Lindeza Diogo, Pedro Eiras, José António Gomes e Rui Pereira

Talvez ainda seja cedo para qualquer balanço e, além disso, não tenho grande jeito para o fazer. As intervenções foram unanimemente consideradas muito boas e, algumas delas, mesmo brilhantes, o que para nós é sempre um motivo de orgulho.
O objectivo inicial foi atingido: criar um espaço informal de debate que levasse os participantes a pensar como superar o divórcio óbvio das expressões artísticas na escola, longe da sua tensão interna e desorganização. Nesse aspecto em particular, as pessoas gostaram de lá ir, de participar, de reparar que ainda há possibilidade de mudar radicalmente esta escola em profunda crise.
Em breve editaremos as intervenções, aqui, no Deriva das Palavras.
Até para o ano.