Devo estar a bater o recorde de presenças em peças de teatro no último dia. E por falar disso, não compreendo que política cultural da cidade é esta ao acabarem quatro espetáculos no mesmo dia. Caramba, já se sabe que os portugueses deixam tudo para a última, mas isto é um castigo demasiado alto. Agora a Penélope encenada por Jorge Silva Melo, só indo a Lisboa!
Mas a encenação de Medida por Medida, por parte de Nuno Cardoso, foi muito boa. Quer no trabalho de atores, quer na excelente oportunidade política da peça de Shakespeare, mais que justificada. É o que se chama uma grande volta de 360º no exercício do poder. Maquiavel ou Montaigne, o Rui Tavares, num artigo do folheto promocional do TNSJ, que vá dar uma volta ao bilhar grande que pouco me importa saber se o dramaturgo os leu, ou não. A história do Duque é ela própria a história de todos os políticos que, sem terem a coragem para levar a cabo as medidas de austeridade anunciadas e 'necessárias' (ou melhor, aquelas que justificam a perpetuação do poder) se põem a utilizar testas de ferro ou bodes expiatórios para o fazerem. No fim, o cinismo é tal que tudo fica propositadamente igual. Percebe-se que Lampedusa tenha gostado da peça e dito que esta era a obra de Shakespeare: «É necessário que alguma coisa mude para ficar tudo na mesma».