sexta-feira, junho 30, 2006

Vozes do Alfabeto de João Pedro Mésseder e João Maio Pinto


É este o nome (bonito) do próximo livro infantil de João Pedro Mésseder a sair em Setembro e ilustrado por João Maio Pinto de quem mostramos um desenho com escolha absolutamente aleatória. Daremos notícia(s). Para já, a celebração obriga ao relativo silêncio.

quinta-feira, junho 29, 2006

Morto com Defeito, de Vítor Pinto Basto - extracto I

«(...)Não te esqueças de falar com o John Garbage”, disse-lhe Simbra, duas horas antes.
O truculento norte-americano disparava palavras como os soldados da coligação anglo-americana estariam a despejar os seus canhões sobre Bagdade. Estava às portas da capital iraquiana, entusiasmado pela previsível conquista, avisou que o momento não era oportuno, por isso, tinha pouco tempo para falar ao telefone, mas foi falando, garantiu que estava a ser tudo very very crazy, estiveram 36 horas debaixo de fogo, yeah, e agora estão a tomar a ponte sobre o rio Tigre, yeah, uma visão incrível, esta guerra de artilharia é crazy, os americanos bateram forte e feio nos iraquianos, ia tudo a eito, yeah, devias ver, mas isso, yeah, não é para escrever, ok?, thanks, diz só que foi uma jornada heróica, yeah, debaixo de fogo, morteiros para lá morteiros para cá, nunca vi igual, yeah, as águas do rio Tigre, yeah, meu, coisa linda, parecia o céu a explodir e a lançar as chamas para o rio, yeah, meu, o rio como um espelho a reflectir as luzes das bombas que estoiravam por todo o lado, yeah, que coisa linda, não sei quantos iraquianos morreram, cem duzentos trezentos milhares, muitos, meu, não interessa, yeah, isso também não é para escrever, yeah, mas estou tired, há dois dias que não durmo, tudo isto é de malucos, Saddam maluco, Bush também e nós aqui a escrever e a filmar esta guerra de tolos, do lado de quem invade, claro, porque do outro não se sabe nada, mas isto também não é para escrever, diz só que amanhã os americanos estarão em Bagdade, yeah, e que foi uma jornada heróica dos marines.
Pousou o telefone com o metálico “yeah” de Garbage a ecoar nos ouvidos. “Aqueles marines devem estar cheios de “speed” para aguentar 36 horas sem dormir na frente de batalha”, disse para o camarada da secretária ao lado. “O tempo dirá se foram cobaias de alguma experiência química”, acrescentou.
Em casa, mãe e filha esperavam-no, tranquilas, às voltas com o puzzle de Mordillo. Montar mil e quinhentas peças minúsculas demorará horas de muitos dias, a vida também se faz assim como se fosse um divertido jogo de paciência, que as relaxa neste país em que paciência é o que mais se tem, longe da guerra iraquiana no gigantesco barril de pólvora chamado Médio Oriente, guerra que não se percebe como não se perceberão todas as guerras. (...)»
In Morto com Defeito, de Vítor Pinto Basto, a sair já em Julho.

segunda-feira, junho 26, 2006

Dostoyesky de Vasily Perov, 1872

O que liga um quadro de Vasily Perov, Feodor Dostoyevsky, de 1872, exposto na Galeria Tretyakov, em Moscovo, ao próximo livro editado pela Deriva? O que liga o olhar de Dostoyevsky à história de Morto com Defeito de Vítor Pinto Basto? O livro sai já em Julho e o Gémeo Luís fez-lhe a capa.

quinta-feira, junho 22, 2006

Blade Runner II, de Xaime Quesada Blanco


Soube agora mesmo da morte do pintor galego Xaime Quesada Blanco. Tinha 30 anos e deixou uma obra muito sólida. Não se percebe muito bem como se pode morrer com esta idade. Deixo-vos com uma pintura dele e com a crítica, da Galiza e escrita em galego, de Blade Runner II, de 1997, que reproduz a ambiência futurista desse grande filme (de ficção?).

La obra de Xaime tiene esa energía preguntadora de la inquietud. Igual que George Grosz en Metrópolis refleja la atmósfera apocalíptica de la ciudad en tiempos de guerra, él, impresionado por las ciudades del futuro que nos muestra Blade Runner, propone un paisaje virtual, configurado con sombras geométricas, a partir de plantillas perforadas, como celosías móviles, que constituyen una trama de luces en movimiento, azules, amarillas, rojas, que se superponen e interpenetran con matices íntimos. En su memoria está una ciudad dominada por la cibernética, en la que todo está robotizado con replicas de seres humanos. Es la ciudad que nos presenta para el 2019 la pelicula cinematográfica Blade Runner, cuyos efectos visuales Xaime plasma en tres obras a las que da el mismo título del filme de Jerry Perenchio y Bud Yorkin.

Obrigado, Rubem Fonseca, por Vítor Pinto Basto


Edição da Companhia das Letras (Brasil) e Campo das Letras

Há uns anos, no Rio de Janeiro, tentei falar com Ruben da Fonseca (antes de lhe ter sido atribuído o Prémio Camões, em 2003). Não o encontrei porque a teimosia é algo que não tenho, e desisti de chegar a sua casa numa tarde de Junho, a meio caminho de Ipanema e do Leblon.
Desisti não só porque estava muito calor e o Rio de Janeiro me parecia gigante, com o mar a cobiçar-me o passo - e o mar tem artes para melhor me seduzir -, mas talvez porque sou dos que prefere a obra a quem a produz e...
Tenho esse defeito de estar sempre a meio caminho de.
Hoje, encontrei-o em cima da minha secretária. Abri o envelope que o cobria e vi mais uma obra sua, com que certamente me deliciarei. Chama-se “Mandrake - a Bíblia e a Bengala”. Tem o carimbo da “Campo das Letras”.
Obrigado, Rubem Fonseca por me ajudar a manter vivo com estas pequenas coisas.

Vítor Pinto Basto

Um especialista editorial num país existencial

Chegou-nos às mãos este texto (antológico?) de um especialista editorial:

«Gostamos particularmente da intenção expressa pelos editores de tentar manter um reduzido nível de stocks através da PoD, embora salientemos que o problema do excesso de stocks não se resolve com um just in time de distribuição. O principal problema do stock na edição prende-se com o estabelecimento de uma R&C inicial que lhes defina cronograficamente uma tiragem e lhes indique qual o formato de produção mais adequado, assim como o mix de canais a utilizar para evitar disseminação na colocação em lugares mainstream de elevada devolução. Nestes casos, a Extratexto aconselha que desenvolvam mais os canais directos de comercialização e encontrem parcerias, aumentem os postos de venda pessoal, a colocação na Internet e outros formatos de venda mais directa antes de arriscarem obras mais mainstream que necessitam de circuitos e plataformas comerciais mais complicadas...»

Did you understand?

terça-feira, junho 20, 2006

A Formação da Mentalidade Submissa, de Vicente Romano, sai em Outubro, pela Deriva

Estilhaços para uma pré-publicação:

Há caminhos mais fáceis e outros mais difíceis de se fazerem as coisas. Buscar a dificuldade não constitui, por si só, especial mérito para quem o faça. Mas, descer as azinhagas do facilitismo, isso sim é uma razão de superlativo demérito. Abrir uma colecção de ensaio sobre comunicação com o livro de um herege como Vicente Romano, é obra ao alcance de não muitos dos actores do panorama editorial, ou daquilo a que mais modernamente chamaríamos “o mercado do livro”.

Ainda assim, é isso que vai acontecer com este primeiro volume de um estudo comunicacional, editado pela Deriva, “A Formação da Mentalidade Submissa”, uma obra que transcende o espectáculo mediático em si mesmo. Para inserir, como diria Michel Foucault, na ordem das coisas e da batalha, a ordem das palavras e do discurso.

A obra é do catedrático de Sevilha, professor Vicente Romano, doutorado pela Universidade Complutense de Madrid e pela Universidade de Münster e dotado de um currículo científico tão invejável quanto de um desassombro conceptual total [ver dados biográficos]. Romano junta ao rigor do pensamento a coragem de o dizer, liberto das peias que tolhem e encolhem as palavras ditas apenas para deixarem de bem com todos, aqueles que as disseram. Perdendo, ocasionalmente, esplêndidas oportunidades para guardarem um pouco de um bem tão crescentemente mais raro como é, se não o da reflexão, pelo menos o do silêncio.

Com os devidos agradecimentos ao sítio Rebelión.org e ao próprio professor Romano pelas facilidades com que disponibilizaram vontades, recursos e trabalho para que possamos a aceder a esta estreia em português de um autor tão influente pela sua heterodoxia e profundidade, deixam-se alguns fragmentos deste volume em que a escassa quantidade das páginas contrasta com a importância da sua fundamental qualidade.

As sessões de lançamento, a que se prevê associarem-se vários sectores académicos e da investigação no nosso país, bem como outros colectivos e pessoas, ainda se encontram por agendar em termos definitivos. Aponta-se para Setembro / Outubro, próximos. Até lá, alguns excertos ou –melhor dito- alguns estilhaços não sobre, mas contra a mentalidade submissa que renasce a cada esquina deste volátil tempo em que agonizamos sorridentemente uns para os outros.

Rui Pereira

segunda-feira, junho 19, 2006

Um detalhe, uma deriva, um moleskine. O Tó BD.


Quando o Tó nos visita, e não é a primeira vez, é uma verdadeira alegria para os sentidos. Aqui está o que nos mandou com a generosidade que se conhece e ao que ele chama de detalhe. O «todo» pode ser visto na sua nova deriva e aventura, desculpem lá o pleonasmo. Vão até ao http://papel.wordpress.com e esperemos que não se demore muito a tê-lo de novo connosco. Abraço sentido para ti e para Coimbra. Por esta ordem.

sábado, junho 17, 2006

Páginas de um Diário Alemão - V (última parte), de João Pedro Mésseder


Munique, 16 de Agosto

Sim, as praças são poderosas; nas igrejas, imponentes, os polícias do decoro controlam as entradas como em Roma, ou não fosse esta uma terra de católicos. A Marienplatz exibe a Nova Câmara, orgulhosa das suas flores vermelhas plantadas nas janelas e do carrilhão de espantar meninos, onde tem início pelas cinco um torneio a cavalo e depois uma dança de toneleiros bávaros. Ouve-se, ao longe, Mozart e a praça é cosmopolita, movimentada, quase febril, sobretudo à hora em que a luz do dia se prepara para morrer. As casas têm um ar digno e próspero, tal como as avenidas e edifícios históricos mandados construir pelos Wittelsbach, sobretudo por Maximiliano I e, mais tarde, por Ludwig I. Mas, junto aos Propileus e aos grandes monumentos oitocentistas de inspiração helénica, Hitler discursou e os nazis desfilaram com garbo assassino. A poucas centenas de quilómetros daqui, em Nuremberga, nasceu o Partido Nazi que fez de Munique um dos seus palcos favoritos. A aura da avenida oprime e o difícil é não ler os sinais de uma pulsão militarista e imperial, em muita arquitectura do passado.
Resta a consolação do segundo Ludwig, belo e louco, que gostava de rapazes bem parecidos e se apaixonou pela música de Wagner, pelos contos de fadas e pelo seu próprio delírio romântico. Repousa hoje, na cripta da Igreja de S. Miguel, mas Visconti e Helmut Berger ressuscitaram-no.
Por tudo isto, que me apraz levar de Munique? — O sol das praças e as pernas das mulheres. Pois, Truffaut o diz, «les jambes des femmes sont des compas qui arpentent le globe terrestre en tout sens, lui donnant son équilibre et son harmonie». Basta meio litro de cerveja no Mercado das Vitualhas para ajudar a reinstalar a harmonia, equilibrada nas pernas destas vigorosas bávaras que caminham ao sol ou pedalam junto à Theatinerkirche. Se dermos um salto à Alte Pinakothek e lhes juntarmos os Reis Magos de Van der Weyden, o auto-retrato de Dürer, as madonas de Rafael e Leonardo, a Isabella Brant de Rubens e ainda Tintoretto, Tiziano e Rembrandt, o mundo atingirá a perfeição.

Colónia, 18 de Agosto

Mal posso acreditar que aqui estive, pela primeira vez, há quase três décadas (rumando para a Holanda com um pequeno coração ferido). O périplo termina nas margens do Reno — adeus, Lorelei, perdição de marinheiros, de Heine e dos turistas japoneses — após uma manhã em Stuttgart, no dia de ontem, e de uma tarde e noite em Heidelberg, onde há anos me deixei encantar por uma caixa de música. (Noite de pesadelo: o ar condicionado não existe na maioria dos hotéis; num país frio como este, preparam os edifícios para enfrentar baixas temperaturas mas não o calor, que fica retido paredes adentro como convém; no verão são como contentores à torreira.)
A Scloßplatz de Stuttgart, junto aos Palácios dos séculos XVI e XVIII, exibe proporções imensas. Numa pracinha ao lado, e do alto da sua estátua, Schiller — vindo ao mundo não longe daqui — observa a nossa pequenez com um ar quase severo. Paladino da liberdade, talvez aprecie a proximidade dos grandes cubos negros que compõem o monumento às vítimas do nazismo juntamente com o texto de Ernst Bloch. Mas Schiller e Hölderlin abençoam, por certo, o poeta negro de rabo-de-cavalo que olha o mundo em volta e rabisca versos, na casa de hamburguers onde nos instalamos por força do tempo disponível.

*
Stuttgart

As asas brancas de Hölderlin protegem decerto este poeta negro, de negro vestido, que a negro escreve em folhas brancas. Com o grosso marcador negro entre os dedos, olha em redor antes de cada metáfora. A hamburgueria, como todas, é sórdida e fede. Mas sentado à mesa, entre a multidão que entra e come e sai em frenesi, o poeta põe a navegar no seu rio de papel uma musa febril, ainda jovem. É de facto o lugar certo para desfrutar o espectáculo da vulgaridade humana.
Ouve-se então o apelo de Hölderlin: «sê-lhe propícia, feliz Suttgart, acolhendo cordialmente este teu forasteiro».

*
Regresso a Heidelberg

Sobe-se ao castelo no funicular, não longe do local onde Ginsberg escreveu um poema que falava dos cisnes, dos edifícios cor-de-tijolo e dos reactores nucleares do vale do Reno. Come-se apfelstrudel e bebe-se café na esplanada da Marktplatz. Pelas cinco, o céu cobre-se de nuvens cinzentas e o calor castiga o corpo. Atravessa-se a Ponte Velha a olhar as águas do Neckar. Primeiras luzes, primeiras gotas. A paisagem satura-se de abismados olhos e, ao primeiro relâmpago, dilui-se num lençol de chuva.

(A quebrar a melancolia deste húmido fim de viagem só a memória da passagem de Mark Twain pela cidade e a lembrança dos imperdíveis textos que escreveu sobre a Alemanha e a língua alemã.)

sexta-feira, junho 16, 2006

Lurdinhas no país dos Galifões, por Luís Nogueira


Acontece que a senhora Ministra da Educação - ou alguém por ela - teve a ideia (?) de fazer depender o desempenho dos professores do secundário da apreciação dos pais dos pequenos.
Como no Governo do sr. Sócrates-PS estas coisas se pegam, podemos esperar que em breve saiam mais “ukases” determinando por exemplo que os médicos sejam “apreciados” pelos doentes, que os juízes sejam “apreciados” pelos réus, que os lojistas sejam “avaliados” pelos clientes e assim por diante.
Pura demagogia. O Governo do PS-Sócrates, com esta tirada de génio, pretende apenas “pintar a paisagem”, disfarçar, atirar para os professores as culpas do seu absoluto fracasso (também) no domínio da Educação.
De maneira que para esconder mais lixo governativo, vá de coalhar uns tantos ódios contra os professores, tal como em certos cacicados deste rectângulo de fome se coalham ódios contra os “ciganos”, os “pretos”, “os drogados”, os “chineses”, “os panascas” e por aí fora, todos culpados dos nossos fracassos, do nosso mal estar, das nossas claras e demonstráveis incapacidades.
Note-se: ninguém pretende afastar os encarregados de educação da valorização da Escola, coartar-lhes o legítimo direito à intervenção sempre que haja razões para isso; à apresentação e discussão de propostas para melhoria da qualidade do serviço prestado. Mas parece evidente a qualquer cérebro não formatado no socrático sistema, que a colaboração dos Pais e Encarregados de Educação, sendo necessária, imprescindível, seria mesmo utilíssima se uma mínima percentagem deles participasse de algum modo na vida da Escola, o que, sabe-o quem por lá anda e quem por lá andou, não acontece.
E muitas vezes, quando acontece, não é da melhor maneira: há muitos Encarregados de Educação cuja participação se faz com os olhos postos nos interesses do seu próprio Educando, o que se compreende, mas deve reconhecer-se que não é a melhor maneira de se integrar na situação.
Essa participação dos genitores, boa ou má, é, pois, necessária. Indispensável, repito. Agora pedir-lhes que “apreciem” o desempenho dos professores, é coisa que parece mais deslize do intestino grosso, do que ideia amadurecida em cérebro pensante. Onde está a a competência científica, onde está a formação e a experiência pedagógica dos Encarregados de Educação para, e de mais a mais de modo mediatizado, avaliarem os professores? No mesmo sítio onde está a minha capacidade para avaliar o modus operandi de um cirurgião ou de um engenheiro. Quando muito poderei indagar se houve incúria ou mau procedimento no caso de um doente mal tratado ou de um edifício que vai ao charco dois dias depois de construído. E para isso terei que recorrer à peritagem de médicos ou de engenheiros.
Também o facto de alguns Encarregados possuírem essas capacidades, não tira: além de não terem testemunhado directamente os procedimentos pedagógicos, sabe-se que a democracia pressupõe a participação de todos e não apenas de uns quantos.
Os professores, os sindicatos e demais agentes ligados ao ensino começaram já a reagir mal a mais esta idiotice do PS. O Engenheiro Sócrates “é um ciganão”, como disse o Almada do Júlio Dantas. Ele e o seu Governo usam estas demagogias para a malta esquecer a tristeza em que deixam o País, tal como se servem dos futebois, dos choques tecnológicos e de outras regueifas saloias de três ao vintém.
No rasto deste Governo reage também contra professores e sindicatos, a canalha lírica de certa comunicação social: leia-se por exemplo a artigalhada imbecil de um tal Pedro Norton na Visão de 1 de Junho de 2006, um vómito demagógico e malevolente contra todos os professores (o homem aprendeu sozinho, vê-se logo...) e os sindicatos que os representam, usando de modo sujo a mentira e a insinuação pelintra. É certo que Visão (e se calhar o sr. Norton) é uma espécie de voz do dono do PS. Mas mesmo assim, o engendro gráfico do Dr. De Vasconcelos (pg. 30), traz as respostas de Paulo Sucena a estas questões, e essas respostas, bebidas na fonte, contradizem as baboseiras do tal Norton. Perdoa-lhes, Pai.
No fundo, quero crer que a Drª Lurdes Rodrigues, na sua santa inocência, não é a autora da mirífica proposta. Deve ter vindo, tal como aquela de ensinar inglês a cachopos que pouco ou nenhum português sabem, do núcleo duro do Governo Sócrates-PS e seus galifões. O poder, D. Lurdinhas, é muito bonito, mas os galifões não dão nada à borla. Vá a Lourdes, amiga Lurdes. Peregrine.

Luis Nogueira

quinta-feira, junho 15, 2006

Provável Spam

É, invariavelmente, a resposta que as Bibliotecas Públicas deste país, a braços com o ciclópico Plano Nacional de Leitura, dão às editoras que lhes mandam as novidades editoriais e diversas propostas através de mail. Nós somos, então, o «Provável Spam» que, para quem não saiba, significa «provável lixo»! Merda, portanto.

João Pedro Mésseder: Poesia abrasiva ou talvez não: DERIVAS. Foi ontem.

Gruppo Sfera - Deriva de 27 de Abril de 2004 - Foto de Federico Bertoli

Foi bom estar na Unicepe, um local que povoa as recordações de muitos portuenses e que, ao que se sabe, precisa urgentemente que essas recordações se transformem em solidariedade activa. Como é diferente estar ali, só pelo prazer de falar, e de como estamos a anos-luz de um qualquer pomposo «simpósio de homens das letras», seja lá o que isso for, mas onde invariavelmente se encontram recados enviesados, private jokes e espontaneidades preparadas ao milímetro! Por ali, com João Pedro Mésseder, conviveu-se e reflectiu-se até às tantas. Com gosto e sala cheia, onde não couberam todos e falou quem quis. Experimentou-se a deriva - o tema propiciava - e encontraram-se amigos: a Suzana, o Rui, o Emílio, o Gémeo, a Estela e o Bénard, o Vítor, a Elisa, o Carlos... e a intervenção de João Pedro Mésseder, simplesmente brilhante, na apresentação de uma poesia que encontra o seu caminho próprio, feita de não-silêncios, de denúncias e experiências. Impressionante cirurgia, a de Mésseder. No que escreve, no que pensa e no que diz. Acho que se construiu ali uma deriva ainda não finalizada. Sê-lo-á algum dia?

Não comprarei o OPEL Corsa se fecharem a fábrica da Azambuja, por Vítor Pinto Basto


Tenho seguido com muita atenção o processo de ameaça de deslocalização da Fábrica da Opel, na Azambuja, que ameaça pôr no desemprego mais 1100 trabalhadores.
Perante o carácter implacável de quem só vê cifrões onde deveria ver desenvolvimento sustentado, igual, a possibilidade de se ser feliz, já tenho uma resposta se os homens da General Motors mudarem a fábrica, ao que se julga, para Sampetesburgo, Saragoça... ou para qualquer lugar do Mundo.
Tenho uma carrinha OPEL mas já não vou comprar o OPEL Corsa que andava a namorar. E nunca mais comprarei veículos feitos pela General Motors.

Vítor Pinto Basto
Nota do blogger: já agora faço minhas as palavras do Vítor, embora ande mais na marca STCP e Metro do Porto, SA. Já agora, junto à campanha anti-opel do Vítor a campanha anti-Netcabo aqui da malta que, durante dois dias, esteve impedida de aceder ao Deriva das Palavras. Razões? Desculpas? A Netcabo não usa disso. É uma empresa que faz jus ao seu nome de ser a mais cretina para com o seus clientes e a que mais queixas tem. Portanto(s)... continue nessa senda e felicidades!

segunda-feira, junho 12, 2006

"Poesia abrasiva ou talvez não: DERIVAS"


Assim mesmo: «Poesia abrasiva ou talvez não: Derivas» é uma proposta de debate de José António Gomes / João Pedro Mésseder na Unicepe ali na Carlos Alberto. Quarta-feira, pelas 21:30 vamos lá estar para falar com ele sobre a sua obra. Que é assim que nos entendemos. O espaço é simpático e quem quiser pode jantar inscrevendo-se antecipadamente com um simples telefonema. Depois é «abrasivar» com tudo o que temos, mas com saber e engenho para experimentar a deriva...

Ler jornais

Concluo que leio demasiados jornais e estou certo que o retorno é nulo. O hábito obriga-me a comprar o diário de todos os dias, às vezes dois ou três diferentes. Conheço-lhe as manhas e dobro-o recusando-me a ler, de imediato, o título que eles julgam ser o principal. Sento-me, com um café pedido à pressa, e, só aí, espreito a notícia que aguarda a minha reacção desconfiada. Acredito pouco neles. Sigo a coluna da esquerda que chama, solícita, a leituras várias de páginas interiores. Não o faço. Já me recuso inconscientemente. Vou, então, à última página e folheio-o de trás para a frente. Páro, quando encontro as notícias da Local - sai a facada, a burla, o despedimento, a fraude do patrão e um abuso. Tudo local. Vou aos cinemas e procuro, também em vão, os livros. A música. Tudo é mainstream e farto-me depressa. Leio a última página geralmente dedicada à «ciência» (espera-se o desmentido rápido do descrito hoje), à cura do cancro, ao «primeiro homem», ao turismo espacial que já tem um português inscrito. Fiz as palavras cruzadas - prefixo grego de oposição, lavrar, recitar, símbolo químico do telúrio - e o sudoku, hoje, é muito difícil, grande chatice e assim não tenho tempo! Não li nada do jornal, não o vou ler, e já me sinto cansado dele. Resta-me a meteorologia, o tamanho das ondas e a velocidade do vento. saber onde está o anticiclone dá-me jeito para a deriva.
Se deixei de fumar...

sábado, junho 10, 2006

Nem marginal, nem empresarial

Há olhares e indiscrições que sabe bem ouvir. Também os silêncios quando procuram, sós, o seu significado. Paradoxalmente, temos de parar e iniciar um percurso errático - a deriva. Para os que só agora chegam, esta expressão tem pouco a ver com o acaso. Trata-se de uma experiência de rua, iniciática, que começou com Thomas de Quincey que, nas suas Confissões, descrevia o prazer que sentia a andar pelas ruas de uma Londres não reconhecida na quadrícula oficial. Nessa deriva opiómana encontrava tudo o que o jogo pode dar. Tensão, letargia, exaltação e poesia. Viva. Com outros. Os dadaístas encontraram-na no Cabaret Voltaire, os Surrealistas provavelmente em Paris, Artaud no México, Cravan no boxe, António Maria Lisboa na metaciência, os situacionistas na rua, Vaneigem no amor... mas, para nós, a deriva começa com Sapartacus e escoa devagar para esses outros limites. Essa deriva é essencial e nunca foi testemunhada verdadeiramente.

Não sei quantas vezes teremos de dizer, nem quantas teremos de nos chatear a sério. Não somos uma editora marginal, nem nos move a lógica empresarial. Editamos pelo prazer de dar sentido a uma necesidade de criação onde o mais importante, mas não único resultado, é fazer livros. Porque sempre fomos habituados a eles e sempre vivemos com eles. A sociedade de mercado limita esse prazer porque se apropria de tudo o que soa a vida. Só por isso, pelo gozo da resistência, valeria a pena editar. Há quem não compreenda.

Vale a pena experimentar. Depois, tudo começa a fazer sentido. Literalmente.

quarta-feira, junho 07, 2006

Luís Miguel Cintra

foto de Luísa Ferreira
Enorme, este senhor. Fez bem, na entrega oficial do prémio que lhe foi atribuído, falar do populismo que afecta a programação teatral, a facilidade com que se procura o público. Este texto deve ser lido com urgência e quero lê-lo todo.

Dele, da Cornucópia, lembro-me de ver O Público, de García Lorca. Demorei três horas a recuperar a fala. De uma violência e ritmo alucinantes. Consegui articular um pensamento digno desse nome, ainda num bar do Bairro Alto, quando toda a gente estranhava o meu estado pré-catatónico. Recuperei pouco a pouco. Não sei se ainda hoje luto por saber o que se passou lá, naquela noite.

Mas todo o Heiner Müller e Handke ficou-me na memória. Principalmente, A Missão e Mauser. Mas, também, O Terror e a Miséria no III Reich, de Brecht (há muito), Três Irmãs de Tchekov e Um Sonho, de Strindberg.

Dou comigo a pensar que o teatro, este teatro de Cintra, me fez diferente. Não poderia continuar a ser igual, antes de o sentir numa cadeira frente ao palco de que ele se apropria sem, no entanto, deixar de se sentir incomodado por não estarmos lá, com ele, com Luís Miguel Cintra, com a Cornucópia.

terça-feira, junho 06, 2006

EPC publica


Hoje, no Público, EPC publica a lista (a concurso?) de editores e críticos amigos. O rol não é grande, mas a coisa vai, a coisa vai.