Recebi, hoje mesmo e pelo correio, o último livro de Henrique Fialho, desta vez em edição de autor. A capa é de Maria João Lopes Fernandes e a composição de Pedro Serpa. Devo dizer que ainda só folheei o livro mal o tive na mão e é com algum entusiasmo que desde já o revelo aqui. O autor de Estranhas Criaturas (o primeiro a ser editado pela Deriva) aí está de novo e, não me engano, com um belíssimo conjunto de poemas. Mas não escolhi um ao acaso. Foi o que, para já, gostei mais. Depois não se aproveitem e digam que o leram «na net». É bom que tenham a obra (o autor avisa que é de tiragem única e não repetível!). Todo o livro é assim belo como este poema:
IAN CURTIS A ANNIK HONORÉ
Colho um tufo de erva do teu corpo
Deito-me nele e como-o,
sinto-lhe a humidade que ficou da última noite
quando nos deitámos e rebolámos
e nos cruzámos com insectos
a medirem-nos a respiração das coisas.
Prostro-me sob a sombra do teu peito,
deixo cair dos olhos alguns flocos de neve.
Andamos sempre à procura
de uma noite que não tem dias,
de uma noite sem sinais,
candeeiros que reflictam
a agitação dos mosquitos à queima-roupa.
Andamos como uma letra despovoada
nos silos da ternura, a encostar um sopro
a outro sopro. E nada, absolutamente nada,
nada nos cura desta traição consumada.