Fixem este nome: Xurxo Borrazás. Provavelmente desconhecido para a maioria dos leitores e dos bloggers. Xurxo é da Galiza, mais propriamente de Carballo e nascido em 1963. Dele conheço a excelente novela «Eu é», assim mesmo, cujos protagonistas se aventuram a horas tantas pelo Porto. Li também «Criminal», salvo o erro, segundo livro dele. Conheci-o pessoalmente num encontro de escritores galegos e portugueses lá para os lados de Vila Nova de Cerveira, apresentado pelo sempre amigo e editor da Galaxia, Carlos Lema. Silencioso, não enganava os outros - tratava-se de um observador compulsivo das pessoas que o rodeavam. Simpatizei logo com ele. Esta entrevista prova o excelente escritor que é e de como se empenha na literatura. Faz dela vida, como poucos. Não resisto a transcrever um excerto do Ser ou Não, há pouco editado pela Deriva e que tem tradução rigorosíssima de Isabel Ramalhete:
«As relações dos homens com as mulheres são uma fonte inesgotável de enigmas, um poço sem fundo. Têm-no dito os intelectuais que eu admiro. Estão incluídos os misóginos, a aristocrática maioria dos filósofos, literatos, cientistas, políticos, médicos, artistas, que encheram obras e tratados, formaram a nossa tradição cultural e modelaram a nossa ideia de razão. No poço sem fundo eles viam um abismo lamacento ligado ao inferno, a desculpa alheia para as próprias misérias. Não ser misógino sendo culto constitui um mérito. estes apologistas do sexo fraco nem consideraram que há mulheres e mulheres nem devem ter nascido de uma mãe.»
Ser ou Não, pág. 72, Deriva Ed. 2006, trad. de Isabel Ramalhete.
ALC - Xurxo, estás de acordo que este teu livro é polémico? Tiveste essa noção quando o escreveste? Procuraste a polémica ou o que está lá foi aquilo que sentiste que devia ser dito, desafiando a tua própria liberdade de escritor, não olhando a peias, a obstáculos criativos ou, talvez pior, a qualquer processo de auto-censura?
XB - As dimensións do campo literario galego son pequenas. É por iso que falar de libros polémicos é un tanto pretencioso. Se nos estivesemos a referir a un sistema literario amplo, ou normal, entón si, entón seguramente sería un libro case escandaloso, creo que sen motivo. Non tanto porque eu o procurase como porque non me autocensurei ao escribilo. Simplemente con evitar chamarlle ás partes do corpo polo seu nome e con que o sexo das personaxes principais fose o contrario, deixaría de ser escandaloso. Pouco escándalo é ese.
ALC - O livro é extraordinariamente bem escrito (e isto é a minha opinião) e releva para um campo já não muito usual da escrita, digamos, «actual». A sinceridade brutal e cruel que existe sempre entre duas pessoas que constroem uma relação obsessiva. Tens essa noção? Que pretendem as duas personagens da vida? De eles próprios?
XB - A relación entre as dúas personaxes protagonistas é obsesiva por parte do home. Tanto no home coma na muller é unha relación baseada no desexo. Non é tanto un romance de sexo explícito coma de exploración do desexo. Entre as personaxes flúe o desexo reprimido durante décadas, e iso é explosivo. Ambos teñen que tirar a máscara do pasado e a da idea que teñen de si mesmos: a realidade material imponse a outro xeito de vida que consiste en construir a realidade a base de abstraccións encadeadas. O fluxo do desexo é máis forte cá propria satisfacción do desexo.
ALC - Ser ou Não é atravessado por uma ironia cortante. Comovemo-nos com a solidão pesada das personagens e rimo-nos com algumas situações construídas na tua obra, principalmente nos diálogos para a atribuição de um prémio literário ou nas elucubrações comuns de um viciado na net. Utilizas a ironia como uma faca que agride as pessoas. O leitor sai cansado de sentimentos confusos. Dás-te conta?
XB - Son os lectores que teñen unha relación máis "profesional" ou máis ligada á institución literaria e á tradición os que achan a miña escrita, especialmente neste romance, como impactante. Moitos outros, os máis desprexuizados... non moral senón culturalmente, áchana fundamentalmente divertida. Ás veces o meu emprego do humor ou da ironía, é certamente agresivo: é o lado non social da persoa, os sentimentos e os soños non refreados pola educación. Entendo que algúns lectores se sintan feridos. Eu procuro escribir coma se os lectores non existisen.
ALC - Utilizas uma ironia ácida para as ancestrais figuras da cultura galega e mesmo para o galeguismo. Tenho de perguntar-te se isso corresponde a qualquer posição política que assumiste como autor ou é fruto de uma evidência de uma personagem «não-alinhada» com ninguém... e que não existe realmente. Só existe no Ser ou Não.
XB - Un ás veces pásase de irónico, ou carece do talento para explicarse ben. O que eu buscaba no romance era basicamente unha crítica aceda do nacionalismo españolista, non do galeguista. Por iso o personaxe principal, do que saen as críticas ao galeguismo, é un tolo paranoico. Eu, coma calquera autor, formo parte das contradiccións do galeguismo e da cultura galega. E síntome perfectamente aliñado nun galeguismo máis radical có actualmente presente nas institucións. O que non aturo son as tendencias homoxeneizadoras e reducionistas dos partidos políticos ou das institucións culturais. A miña idea da cultura é libre e independente.
4 de Abril de 2006.
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