Não consigo já olhar para o portfolio oficial do 25 de Abril. Na generalidade, os fotógrafos captaram a essência do que se viveu naqueles tempos. Mesmo que a fotografia de Alfredo Cunha, aqui exposta, exija o rigor da data. Pouco me importa, agora.
Aos dezoito anos quer-se a palavra. Aos dezoito anos vive-se a revolução. Um qualquer deus evidencia-se e prova que existe, dando-nos uma revolução que se exigia viver. Por isso, ela veio naturalmente. Aos dezoito, deve falar-se sempre e tomar a palavra. Para se construir, para se destruir com volúpia, para realmente se contruir o que se destruiu momentos antes. Para demonstrar, para agir, para sentir e para desejar.
A uns outros 25, matou-se o PREC. Adivinhava-se já o fim, tornando-nos nostálgicos cedo de mais de um projecto, de um processo cujo produto pouco nos importava. Não queríamos a terra a dar subsistência a muitos e riqueza a três ou quatro. Não queríamos as fábricas nas mãos de sabotadores. Queríamos saber ler. Ocupámos, portanto. Houve quem pedisse miseravelmente desculpa. Vieram os gestores competentes regados a putas, futebol e fado. Vieram os artistas especializados em dar ao povo o que ele queria e o que ele percebesse. Vieram os que privatizaram os transportes, as casas, as ocupações, os empregos, os lazeres, as viagens, o mundo, a vida, o sangue, o corpo. Abandonou-se o jogo dos sentidos.
O Homem entretanto nunca conheceu um ataque tão grande à sua espécie. O planeta fraqueja. O medo instala-se e eu quero sair já daqui. Há quem se sinta bem assim. Aquele bocado de PREC precisa de ser guardado. Para que um novo espectro ameace o mundo.
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