Todos os
teus companheiros foram abatidos
Roy Batty
e as tuas
lágrimas fundiram-se com a chuva que então caía
copiosamente, na cidade elétrica de néon sujo.
O teu ricto era cínico,
mesmo que uma pomba
(mau
presságio)
te viesse
afagar os cabelos platinados
de um Replicant binário, que era o que tu
verdadeiramente eras.
verdadeiramente eras.
Na tentativa vã de trespassar crivos
e sentires vida na tua mão,
donde só brotava um gel escurecido
e sentires vida na tua mão,
donde só brotava um gel escurecido
procuravas
matar o teu código final.
A ti a quem chamaram robô de combate
e tal como o Homem matou o seu Deus
foste engolido pela rede de falsos neurónios
substituindo
os deuses por chips que
nos ligam ao panóptico que tudo vigia
menos a ti
Roy Batty
assassino
a quem uma pomba afagou o cabelo.
Na hora do fim, entregaste a tua virtual plenitude
Na hora do fim, entregaste a tua virtual plenitude
e ainda
amaste uma mulher, comandada à distância
mortalmente útil, baleada pelas costas numa chuva
de vidros reluzentes.
Foste tu Roy
Batty que mataste o teu criador cibernético
não sem
antes
o cegares
como a Édipo Rei, com os teus próprios
dedos ainda
não quebrados.
A eletrónica
erradicou qualquer replicante
e já não há
espaço para a revolta, como tu sabes, aliás.
Só para sentires a
dor que tentaste cravar, sem
dares por isso, na tua própria mão
imitando a mesma mão de Cristo
cuja dor tentou cimentar o mundo.
A tua analgesia libertou-te do assassínio
que cometias regularmente com justiça e prazer
e querias tu, encontrar o doce regular
do tempo, quando já só havia vazio,
sexo e dinheiro extraordinário.
dares por isso, na tua própria mão
imitando a mesma mão de Cristo
cuja dor tentou cimentar o mundo.
A tua analgesia libertou-te do assassínio
que cometias regularmente com justiça e prazer
e querias tu, encontrar o doce regular
do tempo, quando já só havia vazio,
sexo e dinheiro extraordinário.
Sentiste então que os homens mataram-No
que o
substituíram pela usura e pelo humanismo
de uma enxurrada de mortos, estropiados e loucos.
Na deriva da tua demanda
de uma enxurrada de mortos, estropiados e loucos.
Na deriva da tua demanda
provavelmente viste o
nome de um amor
descer
irremediavelmente na lista de contactos
de uma
comunicação de bolso de dois chips
que tento envolver na minha mão
para sentir
a réplica de ainda estar vivo.
António Luís Catarino
Porto, Café
Célia, 8 de abril de 2015