Baltazar Garzón escreve em "O Mundo sem medo" o singular ajuste das suas contas, num mundo em que ele, e com toda a razão, nos alerta para a importância de não se ter medo. Não se ter medo de se estar vivo e de se defender um mundo melhor, de todos e para todos. É um livro com um título feliz. Lê-se com agrado, quer se concorde ou discorde de algumas das suas premissas.
Garzón escreve num estilo coloquial e tranquilo. Escreve como quem fala. E, em "O Mundo sem medo", fala como quem escreve uma longa carta, que ele assume ter um adequado destinatário familiar: os filhos.
Em poiso qualitativo diametralmente oposto ao razoável prazer com que se lê o que escreveu, estão algumas notas de tradução. Duas delas, completamente desnecessárias. Claramente subjectivas, por isso, ali estão prolixas e dispensáveis. Aliás, não se compreende como um editor experimentado como Nelson de Matos as tivesse deixado passar.
Na primeira dessas notas de tradutor, fiquei desconfiado e quase estive para abandonar a leitura.
Escreve Marcelo Correia Ribeiro (MCR) a propósito do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Libre que "a ele esteve ligado uma jovem portuguesa detida por pertencer ao grupo ou pelo menos viver com um dos seus dirigentes". Mais adiante, remata: "um fait-divers".Estivesse MCR (que não sei quem é) atento e diria que não foi uma mas duas portuguesas que estiveram relacionadas com aquele grupo.
Estivesse realmente atento, nunca sintetizaria o que elas viveram e sofreram como sendo um vulgar "fait-divers". É uma grandiosa enormidade (para não lhe atribuir um epíteto pouco elogioso) resumir-se o sofrimento de alguém a um "fait-divers".
O que a Susana e a Alexandra viveram merece mais respeito do que ser sintetizado a uma convulsão semântica de alguém que, ao fazer notas de tradutor, deveria aplicar na totalidade a teoria cartesiana; ser claro, sintético e objectivo.
A segunda nota tem duas palavras risíveis, mais uma vez sem rigor ôntico, por isso, compulsivamente desnecessárias. Ao tentar esclarecer o que quer dizer o termo "peneuvista", ao querer dizer que o termo se refere a um membro do Partido Nacionalista Basco (PNV, em castelhano), vai mais adiante na observação e classifica a sua política como sendo "razoavelmente xenófoba".
Não sei onde foi MCR buscar que o PNV é xenófobo. Mas se sabe do que fala deveria ter dado exemplos, no livro. Assim, sem exemplo, parece que a qualificação "xenófobo" surge como uma vulgar punição dada pelo tradutor.
Conheci muitos bascos - do PNV e de outros partidos, de quase todos - e nunca lhes reconheci laivos de xenofobia.
Tanto num caso como no outro, dá a sensação que a análise feita por MRC tem, naquelas duas notas de tradutor, demasiado ruído afectivo. Desnecessário em "Um Mundo Sem Medo".
Garzón escreve num estilo coloquial e tranquilo. Escreve como quem fala. E, em "O Mundo sem medo", fala como quem escreve uma longa carta, que ele assume ter um adequado destinatário familiar: os filhos.
Em poiso qualitativo diametralmente oposto ao razoável prazer com que se lê o que escreveu, estão algumas notas de tradução. Duas delas, completamente desnecessárias. Claramente subjectivas, por isso, ali estão prolixas e dispensáveis. Aliás, não se compreende como um editor experimentado como Nelson de Matos as tivesse deixado passar.
Na primeira dessas notas de tradutor, fiquei desconfiado e quase estive para abandonar a leitura.
Escreve Marcelo Correia Ribeiro (MCR) a propósito do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Libre que "a ele esteve ligado uma jovem portuguesa detida por pertencer ao grupo ou pelo menos viver com um dos seus dirigentes". Mais adiante, remata: "um fait-divers".Estivesse MCR (que não sei quem é) atento e diria que não foi uma mas duas portuguesas que estiveram relacionadas com aquele grupo.
Estivesse realmente atento, nunca sintetizaria o que elas viveram e sofreram como sendo um vulgar "fait-divers". É uma grandiosa enormidade (para não lhe atribuir um epíteto pouco elogioso) resumir-se o sofrimento de alguém a um "fait-divers".
O que a Susana e a Alexandra viveram merece mais respeito do que ser sintetizado a uma convulsão semântica de alguém que, ao fazer notas de tradutor, deveria aplicar na totalidade a teoria cartesiana; ser claro, sintético e objectivo.
A segunda nota tem duas palavras risíveis, mais uma vez sem rigor ôntico, por isso, compulsivamente desnecessárias. Ao tentar esclarecer o que quer dizer o termo "peneuvista", ao querer dizer que o termo se refere a um membro do Partido Nacionalista Basco (PNV, em castelhano), vai mais adiante na observação e classifica a sua política como sendo "razoavelmente xenófoba".
Não sei onde foi MCR buscar que o PNV é xenófobo. Mas se sabe do que fala deveria ter dado exemplos, no livro. Assim, sem exemplo, parece que a qualificação "xenófobo" surge como uma vulgar punição dada pelo tradutor.
Conheci muitos bascos - do PNV e de outros partidos, de quase todos - e nunca lhes reconheci laivos de xenofobia.
Tanto num caso como no outro, dá a sensação que a análise feita por MRC tem, naquelas duas notas de tradutor, demasiado ruído afectivo. Desnecessário em "Um Mundo Sem Medo".
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