sábado, outubro 30, 2010
16º Encontros Luso-Galaicos-Franceses do Livro Infantil e Juvenil
A 16ª edição16º Encontros Luso-Galaicos-Franceses do Livro Infantil e Juvenil tem por tema "Para maiores de 12: tendências da literatura juvenil". Reúne investigadores, escritores, ilustradores e todos aqueles que se interessam e promovem o livro para a infância e juventude. Integra conferências e debates, oficinas para adultos e crianças, exposições de ilustração, venda de livros e encontros com escritores e ilustradores.
Onde e Quando
Na Biblioteca Municipal Almeida Garrett - Auditório, nos dias 12 e 13 de Novembro.
Programa completo e ficha de inscrição:
quinta-feira, outubro 28, 2010
João Pedro Mésseder lê Conto da Travessa das Musas, na 7ª edição das Feiras Francas
Sábado, dia 30 de Outubro, o Palácio das Artes - Fábrica de Talentos da Fundação da Juventude, abre as suas portas à 7ª edição das Feiras Francas. De manhã, o autor João Pedro Mésseder fará a leitura de Conto da Travessa das Musas.
Das 10h às 22h diversos projectos artísticos e criativos serão apresentados sobre a temática " Keep It Simple". Uma temática baseada numa aproximação a uma vida simples com qualidade, simplesmente criativa. Este mote serviu de inspiração para vários autores e criadores para a exposição, performance e venda dos seus trabalhos. A destacar a partir destas Feiras Francas um espaço na programação dedicado às crianças.
A capa do Jornal da Feira Franca tem uma ilustração inspirada no Conto da Travessa das Musas, da responsabilidade de Manuela São Simão.Orçamentos
Ontem, por causa da «ruptura» do orçamento, coisa de que já falo com alguma dificuldade, reparei numa coisa: os economistas, quando estão zangados (entre comadres, entenda-se PS vs PSD), explicam os factos económicos com mais veracidade, com mais genuinidade; isto é, descrevem-nos os problemas tal como devem ser explicados no plano técnico e prático. Sem «crises», parecem infantilóides a explicarem a nós outros infantilóides como deve ser uma orçamento, socorrendo-se de comparações que vão desde o futebol àquilo que eles entendem ser a nossa vida. Com os olhos muito arregalados vão-nos explicando que o orçamento afinal vai ser aprovado. Afinal, já foi aprovado há muito. No problem...e mesmo que exista, por breves momentos, sempre é bom ver a verdade ao virar da esquina.
Conto da Travessa das Musas na 7ª edição das Feiras Francas, no Palácio das Artes
Dia 30 de Outubro, o Palácio das Artes - Fábrica de Talentos da Fundação da Juventude abre as suas portas à 7ª edição das Feiras Francas.
Das 10h às 22h diversos projectos artísticos e criativos serão apresentados sobre a temática " Keep It Simple". Uma temática baseada numa aproximação a uma vida simples com qualidade, simplesmente criativa.
Este mote serviu de inspiração para vários autores e criadores para a exposição, performance e venda dos seus trabalhos. A destacar a partir destas Feiras Francas um espaço na programação dedicado às crianças. Nesta edição, o autor João Pedro Mésseder fará a leitura de Conto da Travessa das Musas. Esta edição conta também com a participação da da ilustradora do mesmo, Manuela São Simão.
A capa do Jornal da Feira Franca tem uma ilustração inspirada no Conto da Travessa das Musas.
A capa do Jornal da Feira Franca tem uma ilustração inspirada no Conto da Travessa das Musas.
quarta-feira, outubro 27, 2010
Toda a poesia da Deriva na Poetria (Porto) e na Poesia Incompleta (Lisboa)
A Poetria, no Porto, e a Poesia Incompleta, em Lisboa, têm disponível toda a coleccção de poesia e de teatro da Deriva Editores.É lá que pode encontar a Catarina Nunes de Almeida, o Pedro Eiras, o Luis Maffei, a Filipa Leal, a Maria Sofia Magalhães, o João Pedro Mésseder, o Henrique Manuel Bento Fialho, a Marilar Aleixandre, o José Ricardo Nunes...Dois espaços, um a norte, outro a sul que resistem e teimosamente marcam a diferença resistindo ao ostracismo que a poesia sofre nos grandes espaços.Duas livrarias onde a Deriva encontra um porto bem seguro.
Fiama Hasse Pais Brandão lembrada na Casa Fernando Pessoa
Poetas, críticos e académicos homenageiam a 29 e 30 de Outubro Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007), considerada uma das vozes mais representativas da poesia portuguesa da segunda metade do século XX, num colóquio na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. Ao longo de dois dias, nomes como Eduardo Lourenço, Fernando J.B. Martinho, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Manuel Gusmão, Maria Teresa Horta, Nuno Júdice, Pedro Eiras e Rosa Maria Martelo vão debruçar-se sobre a obra de "um dos autores que levaram mais longe a profunda renovação do discurso poético português, no seguimento das experiências modernista e surrealista".
Das diferentes mesas, destacamos, no dia 29 de Outubro, pelas 15.15 horas, uma mesa de "Testemunhos", em que participam os poetas Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral e Luís Quintais, com moderação de Filipa Leal. Às 17 horas, é a vez de Maria de Lourdes Ferraz, Pedro Eiras e Rosa Maria Martelo apresentarem as suas comunicações, intituladas "Uma proposta imodesta: a Poética de Fiama. Breves Apontamentos", "Fiama: a escolha da terra" e ""Ideações da imagem na poesia de Fiama", respectivamente.
A 30 de outubro, com início às 14.30, mais uma sessão de "Testemunhos", com Gastão Cruz, Maria Teresa Horta e Armando Silva Carvalho, e moderação de Filipa Leal.
Paulo Varela Gomes
"DECLARAÇÃO
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o “modelo social europeu” está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias se não na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por
pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro: 1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes".
terça-feira, outubro 26, 2010
Conto da Travessa das Musas nas Livrarias Bertrand
O Conto da Travessa das Musas, de João Pedro Mésseder e Manuela São Simão, está disponível nas Livrarias Bertrand, a maior rede de livrarias do país.Para sua comodidade pode, também, enviar um e.mail para deriva@editores.pt e encomendar o seu exemplar.
domingo, outubro 24, 2010
Magic Resort, de Florencia Abbate [1.º capítulo]
A força da catástrofe
Tudo começou com uma estranha e repentina paralisia. O meu corpo foi encolhendo até ficar preso numa espécie de cápsula absurda e entorpecido no sofá. De vez em quando, entregue à catástrofe, o meu olhar pousava nas imagens da televisão que continuava acesa como música de fundo.
Os meus pais tinham viajado para celebrar as bodas de prata. Estava sozinho em casa, e a minha rotina tinha-se transformado num mero transcorrer. Não tinha o ânimo suficiente para me pôr em movimento, e tão-pouco sentia que valia a pena. De vez em quando olhava para o relógio como se constatasse com indolência crescente que cada segundo levava consigo outro fragmento inútil da minha vida.
Nessa manhã, divisava no ecrã o desmoronar das Torres Gémeas, enquanto sentia que a minha pele ardia em labaredas. Levantei-me, apaguei a televisão e voltei a deitar-me no sofá. Nesse momento, a solução apareceu dentro da minha cabeça, acompanhada de uns clarões parecidos com o brilho obscuro das revelações.
Durante a tarde juntei num frasco todos os comprimidos que fui encontrando. Depois, contei-os um a um, voltei a guardá-los, e pus o frasco no bolso. Muito antes dos meus pais regressarem, fechei a porta à chave e abri uma garrafa de champanhe. Triturei os cento e onze comprimidos e bebi três copos de despedida.
Sei que resisti a pontapés quando entraram para me tirar. Daquela contenda conservo uma cicatriz na nuca, e uma recordação difusa do rosto de um oficial decidido a salvar-me ou a partir-me todo. Acordei nove dias depois. Uma enfermeira jovem contou-me que tinha estado em coma. Olhou-me, boquiaberta, quando lhe disse que me sentia incrivelmente bem, sem nenhuma ressaca, forte, como nunca…
Os médicos não me deram nenhuma esperança. E os meus pais por pouco não desmaiaram porque entraram e me viram a procurar a mochila. O meu pai conseguiu que me dessem alta ao meio-dia. A minha mãe lacrimejou de alegria ao constatar que conseguia descer as escadas do hospital sem ajuda. Eu estava morto de fome e propus um restaurante. Levaram-me a almoçar a esse lugar e fizeram-me as vontades o tempo todo. Até chegarmos a casa mantivemos conversas graciosas e calorosas. Depois, a alegria provocada pela bela surpresa da minha ressurreição foi relegada para segundo plano. O que mais lhes importava era averiguar o motivo da minha tentativa de suicídio.
[Magic Resort, de Florencia Abbate (trad. Patrícia Louro), Deriva Editores, 2010]
sábado, outubro 23, 2010
Apresentação do Conto da Travessa das Musas em imagens
Foi um sábado bem passado, entre rebuçados e as aventuras do João. Conto da Travessa das Musas, de João Pedro Mésseder (texto) e Manuela São Simão (ilustração), uma história de uma cidade que ainda existe, mais que não seja na memória de cada um de nós.
O livro, bem, esse pode procurá-lo numa livraria perto de si, ou então, envie-nos um email para deriva@derivaeditores.pt.
sexta-feira, outubro 22, 2010
Filipa Leal e Catarina Nunes de Almeida no PISA BOOK FESTIVAL 2010
Filipa Leal e Catarina Nunes de Almeida são duas das representantes da comitiva portuguesa PISA BOOK FESTIVAL 2010.
Com o pretexto de discutir as "Imagens do feminino: leituras, conversas sobre poesia" . reúnem-se, em Pisa, Filipa Leal, Catarina Nunes de Almeida e Rosa Alice Branco, com o apoio do PEN CLUB.
Mais informações aqui.
quinta-feira, outubro 21, 2010
Porto, Poètes Bâtisseurs
Sexta-feira, dia 22 de Outubro, pelas 18:30, o Director das Edições Autrement, Henry Dougier, apresenta no Teatro de Campo Alegre Porto, Poètes Bâtisseurs de Edouard Pons e fotografias de Antonin Pons Braley. O livro está inserido na colecção «Cidades em Movimento».
Começou a 11º Festa do Cinema Francês
Foi em Serralves a abertura de uma verdadeira festa que o Porto acompanha com agrado. A surpresa foi L'Illusioniste, de Sylvain Chomet. Um filme de animação em antestreia total que nos deixou uma lembrança viva de Jacques Tati. Uma hora e vinte minutos de espanto.
quarta-feira, outubro 20, 2010
Para que serve a literatura?, Antoine Compagnon
Para que serve a literatura?, Antoine Compagnon
"A alternância entre a filologia e a poética foi, pois, durante muito tempo a regra. Acusava-se a história literária de não passar de uma sociologia da instituição indiferente ao valor da obra e ao génio da criação: «A biografia, as moralidades, as influências, […] são os meios de dissimulação dados à crítica para encobrir a sua ignorância da finalidade e do assunto», reprovava Valéry. Acusava-se o formalismo de restringir o texto a um jogo abstracto e autónomo, a uma «solução anónima ou geométrica das probabilidades da linguagem», como o haveria de enunciar aqui mesmo Georges Blin. Pois coube a este conciliar o melhor de ambas as tradições. Com ele, o estudo literário ambicionou juntar-se ao «conhecimento disciplinar das obras na comunidade de uma época e com o privilégio de um destino», segundo a definição ecuménica que dele deu na lição inaugural da cátedra de «Literatura francesa moderna» em 1966."
in Para que serve a literatura?, Antoine Compagnon, (trad. José Domingues de Almeida)
terça-feira, outubro 19, 2010
"Estás a olhar para onde?"
Alexandra Moreira da Silva modera, no próximo sábado, uma conversa com Jorge Silva Melo, Maria João Luís, Nuno Cardoso, Patrick Sourd.
Na Deriva, Alexandra Moreira da Silva traduziu e posfaciou A INVENÇÃO DA TEATRALIDADE, de Jean-Pierre Sarrazac.
« Início de Sobre a Arte do teatro, Contra-Regra, que acaba de mostrar o local ao Amador de Teatro com o objectivo de lhe propor um breve olhar sobre o «mecanismo» («construção geral, palco, maquinaria dos cenários, aparelhos de luz e tudo o resto»), convida o seu hóspede a sentar-se «um momento na sala» e a interrogar-se sobre «o que é a Arte do Teatro»… A lição merece ser ouvida: não deveríamos nunca abordar a mínima questão de estética teatral sem antes nos termos instalado, ainda que mentalmente, em frente ao palco. Antes de reflectirmos sobre o teatro, é importante constatarmos novamente que este palco estreito – e no entanto destinado a servir de base a todo um universo – em repouso, parece um deserto. Noutros tempos, a cortina vermelha permitia dissimular este vazio aos olhos dos espectadores; entreabria-se apenas para deixar passar as miragens preparadas nos bastidores. Puramente funcional, a cortina de ferro interpõe-se hoje, no início da representação, entre o público e os artistas, simplesmente para melhor sublinhar a abertura, o vazio da cena moderna. Por detrás das cortinas de veludo, os nossos antecessores podiam adivinhar a abundância e a plenitude de um teatro alicerçado na ilusão. Actualmente, mal vemos subir a cortina de ferro, sabemos que aquele cenário, aquela cenografia nunca conseguirão preencher o vazio do palco nem satisfazer-nos completamente, a nós público, com os benefícios da sua aparência. O palco, mesmo (e sobretudo) o mais preenchido, continua vazio; e é justamente esse vazio – o vazio de toda e qualquer representação – que ele parece estar destinado a exibir perante os espectadores.
Aliás, desconfio que Gordon Craig e o seu Contra-Regra terão confrontado o seu Amador de Teatro com esta irremediável vacuidade do palco apenas para lhe incutirem a ideia de que a Arte do Teatro[2] já nada tem que ver com a plenitude e o jorro da vida, mas muito mais com os movimentos furtivos, erráticos e desencarnados da morte - «Esta palavra morte, nota Craig, surge naturalmente na escrita, por aproximação com a palavra vida constantemente reclamada pelos realistas».
A colecção Pulsar, dirigida pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, inclui textos relevantes em torno da literatura e de outras artes. Estes pequenos livros, que se podem ler numa viagem de comboio ou a uma mesa de café, pretendem emitir um sinal luminoso, sentidos de um pensamento, fulgurações de palavras. Como os enigmáticos e distantes pulsares.
sábado, outubro 16, 2010
A Mobilização Global seguida de O Estado de Guerra de Santiago López-Petit (trad. e notas de Rui Pereira)
Cada vez A Mobilização Global seguida de O Estado de Guerra, de Santiago López-Peti, faz mais sentido. Rui Pereira, tradutor do livro, deixa-nos comentários finais e marginais algumas pistas para pensar.
[...]
O momento em que banqueiros, financeiros e políticos deles afins se interrogam na tertúlia televisiva sobre se o capitalismo terá «ruído» ou não…. O momento em que vozes das mais insuspeitadamente elevadas da Igreja católica exortam os seus fiéis a uma rebelião, pelo menos, do grau da protagonizada pelos apóstolos há dois mil anos: “Face aos pretensos senhores destes tempos […] o mínimo que podemos fazer é rebelar-nos com a mesma audácia dos Apóstolos», na formulação exacta que lhe deu o secretário de Estado do Vaticano, monsenhor Tarcísio Bertone, discursando em Fátima, em Outubro de 2007.
[...]
O momento bizarro em que os neoliberais reclamam a “intervenção do Estado”. O momento em que os adeptos da “intervenção do Estado”, criticam os neoliberais reclamando a “intervenção do Estado”. O momento em que o espanto astrológico da constelação que uniu alta finança e baixa política, quando não desaparece sob o manto do falatório incessante nas televisões e nos jornais, aparece à sombra das grades carcerárias para alguns — escassos — bodes expiatórios aos quais, na aventura, tocou a sorte de pagarem por todos...
Podemos, neste momento, estar ou não estar de acordo com López-Petit. O que dificilmente poderemos é discordar da importância, da relevância crucial, da sua escrita para quantos, nas suas mil e uma formas, por vezes despercebidas, declinam a clássica questão da filosofi a e da ontologia, tal como no-la entrega, a grande economia de Jean Lefranc: O que é o Homem?, para lhe encontrarem, como resposta,não mais do que o seu tudo e o seu nada, ou seja, o Homem é aquele ser que se coloca uma questão sobre si mesmo: O que é o Homem?
Consciência de si e consciência de si na História, o homem, diz-se, é ele e a sua circunstância. Mas é, também, ele na sua contingência. Da circunstância à contingência vai a qualidade de um grau diferente de si. O grau reflexivo do ser Homem enquanto ser dotado de historicidade. Quer dizer, percepção de si mesmo perante a encruzilhada. A História dá-se à consciência sob a forma de um campo de possíveis. Isto é, irrupção da escolha e imperativo de acção.
Porém, o que López-Petit, em toda a sua generosa crueza, vem dizer-nos, é que há momentos em que a auto-comiseração e as tácticas e desvios condescendentes da boa consciência não bastam. Esse é o tempo em que a História nos demanda. Tempo sumamente difícil, portanto. Em que temos de mastigar a comida, ao contrário do velho hábito de a deglutirmos já mastigada: — pelo rei, pelo presidente, pelo revolucionário, pelo juiz, pelo sábio, pela telenovela e pelo filósofo, pelo cura ou pelo ideólogo, pelo polícia, pelo plural mal simulado da televisão e do jornal, pelas fitas de série B e pelos futebolistas, pelos vídeo-jogos tanto quanto pelas imagens da morte rotineira no mundo pobre ou pelas suas homólogas do trivial fait-divers onanista do jet-set no mundo rico, mundo, este, felizmente, aquele a que pertencemos, bem seja pelos laços iridescentes do sangue legítimo, mal seja pelos elos deserdados da bastardia.
in A Mobilização Global seguida de O Estado de Guerra de Santiago López-Petit (trad. e notas de Rui Pereira) (pg. 210 e ss.)
quarta-feira, outubro 13, 2010
Leituras
Acabei de ler o último livro de José Ricardo Nunes, ainda em folhas A4. Tenho, entre mãos, a obra de um escritor maior.
sábado, outubro 09, 2010
quarta-feira, outubro 06, 2010
Convite: Conto da Travessa das Musas
A história que vou contar-te passou-se há muitos anos, na cidade do Porto. Ora escuta. Era uma vez um menino sem tempo para ficar quieto. Quando se cansava de ler ou de brincar sozinho, uma névoa toldava-lhe os grandes olhos castanhos. Sabia que apenas o deixavam sair se fosse para ir à escola, ou a recados à mercearia do senhor Carvalho ou à «loja das miudezas», como a mãe chamava a uma locanda onde uma doce senhora de olhos vesgos vendia carrinhos de linhas, botões, colchetes, fivelas e elásticos. Por isso, o João – era este o nome do menino passava horas sem fim à janela.
É assim que começa o Conto da Travessa das Musas, uma história de encantar e um desfiar de memórias e outras histórias. Um livro para pais, avós e netos .....
APRESENTAÇÃO DIA 9 de OUTUBRO, na BIBLIOTECA MUNICIPAL DO PORTO, pelas 16:30, com a presença do autor JOÃO PEDRO MÉSSEDER e da ilustradora MANUELA SÃO SIMÃO.À apresentação seguir-se-á uma actividade/workshop dinamizada por Manuela São Simão.
JOÃO PEDRO MÉSSEDER nasceu em 1957, no Porto, onde completou os seus estudos universitários e exerce funções docentes no Ensino Superior. Publicou mais de três dezenas de livros para a infância, além de diversos títulos de poesia. É autor de Abrasivas, Meridionais e dos livros infantis O Aquário e Vozes do Alfabeto, todos eles editados pela Deriva.
MANUELA SÃO SIMÃO nasceu em São Paulo, Brasil, em 1980. Veio com cinco anos para Portugal onde se licenciou em Artes Plásticas – Pintura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Tem desenvolvido projectos multidisciplinares que cruzam áreas como a performance, a instalação, o som, a rádio-arte, procurando em todos eles um lado relacional pelo trabalho de equipa. Orienta workshops de expressão plástica para crianças de diversas idades.
segunda-feira, outubro 04, 2010
Conto da Travessa das Musas | Apresentação
Apresentação de Conto da Travessa das Musas (texto de João Pedro Mésseder, ilustração de Manuela São Simão), sábado, dia 9 de Outubro, na Biblioteca Municipal do Porto, pelas 16.30.
À apresentação seguir-se-á uma actividade/workshop dinamizado pela ilustradora.
domingo, outubro 03, 2010
Magic Resort, de Florencia Abbate
A propósito da edição em português do romance Magic Resort, de Florencia Abbate, recuperamos uma entrevista concedida aquando da apresentação do livro na Argentina.
[entrevista daqui]
-¿Qué representa para Ud. el acto de escribir?
-Es uno de mis mayores placeres. Lo disfruto intensamente. A lo largo de mi vida la escritura siempre ha sido el medio de expresión que más me atrae. Nunca dejó de atraerme desde que aprendí a leer y escribir. Siento una enorme fascinación por el lenguaje y sus posibilidades.
-En su narrativa, Ud. parece conservar una relación poética con el lenguaje. La prosa y la poesía se atraen. ¿Es una búsqueda estética intencionada?
-Es algo que me sale naturalmente, pero en esta novela decidí permitir que esa relación poética que tiendo a establecer con las palabras, impregnara la narración. Fue un trabajo más intuitivo y detallista que el que hice en la novela anterior. A esta novela por momentos la pensaba como una composición musical.
-¿Cómo nació la idea de Magic Resort?
-Escribí primero un texto, un cuento largo, en primera persona, imaginando un personaje. En el relato de ese personaje fueron apareciendo otros tres personajes cuyas historias me interesaban explorar. Lo hice y entre esas cuatro historias se había armado un mundo, un mundo que podía llamarse Magic Resort.
-¿Qué desafíos le depararon escribir esta novela?
-El principal desafío fue escribir la historia que transcurre en la Franja de Gaza. Cuando uno ve las imágenes reales de lo que ocurre allí se pregunta si realmente tendrá la capacidad de narrarlo... Pero también diría que fueron un desafío pequeñas escenas donde ocurrían grandes transformaciones en las vidas de los personajes. A los cuatro personajes les ocurren cosas que cambian radicalmente sus vidas. La primera persona obliga a narrar los hechos desde adentro, desde el que vive esa experiencia de cambio, y para contarlo hay que poder encontrar un tono que se corresponda con emociones genuinas.
-¿Cuál cree Ud. que sea el motivo principal al utilizar la composición coral como recurso motriz de sus novelas?
-Me gustan las formas corales porque me aburre la idea de construir un mundo a partir de una perspectiva única. Me resulta más estimulante un mundo que ofrece diversas historias, que está habitado por distintas voces, que me invita a ponerme en la piel de diferentes cuerpos y maneras de pensar y de sentir.
-En Magic Resort, como acontece en El grito, prevalece un clima de desazón e incertidumbre. Sin caer en el tremendismo facil; Ud. desarrolla un sutil realismo que representa la condición actual de la Argentina. ¿Marcar ese estilo, le significó una rigurosa búsqueda formal?
-No diría que me propuse buscar un estilo. El estilo es aquello que se nos impone, como cualquier persona tiene una cierta manera particular de caminar o de reírse. El estilo me sucede a pesar mío. Con respecto a lo otro que tal vez desarrollo una suerte de realismo delirante porque esa es la manera en que a veces se me presenta la realidad, bajo la forma de algo que parece un delirio, a veces un delirio cómico y otras veces un delirio dramático. Y de esa misma manera tiendo a percibir el contexto en el que vivo la mayor parte de mi tiempo, es decir, la Argentina, y más específicamente Buenos Aires.
-Fragmentos de poemas de T. S. Eliot intercalan algunos de los capitulos del libro. ¿Cuál es la razón de esta elección?
-Los Cuatros Cuartetos y La Tierra Baldía son dos de mis poemas predilectos. Siento una gran admiración por T. S. Eliot. Lo que me deslumbra es que en ellos logra sintetizar algo esencial del clima de su época. No son poemas sobre su propia experiencia sino sobre el mundo contemporáneo, y son a la vez un collage y un diálogo con otros libros de distintas épocas y tradiciones.
-Ud. es una intelectual prolífica: poeta, novelista, periodista, editora. ¿Cómo se define a si misma?
-Escritora hiperactiva y muy sociable, lectora inquieta, romántica y viajera.
sábado, outubro 02, 2010
ALGUÉM ME REPETIA | Filipa Leal
ALGUÉM ME REPETIA
A voz é grave e rouca.
Na mesa ao lado, chora uma criança que não conhece a memória.
Há uma voz quente que um dia me falou ao ouvido.
Dizia-me.
Tentava explicar-me os ventos, as marés,
o terno refúgio dos dias que estão longe.
Eu julgo que dormia aninhada, com os olhos brilhantes e o coração atento.
Talvez tenha sentido uma mão leve a percorrer-me as costas. Talvez devagar.
Fazia movimentos circulares. Talvez tentasse mostrar-me o caminho.
Dizia-me.
Eu não compreendi porque vivia como se recordasse já.
Não há tempo para o presente quando se está fechado na memória.
Disse.
Não vivia do passado. Não era isso que tentava dizer: Havia em mim a certeza
da recordação futura - como a espiral de onde não se sai.
A voz começou a delirar em círculos. Ofendidos talvez, os círculos.
Eu estava no centro desse som que baixava como se a qualquer momento
pudesse abater-se sobre mim. Sem me sufocar talvez.
Dizia. Dizia.
A linguagem tornava-se cada vez mais estranha e imprópria.
Como nos sonhos em que se procura gritar
talvez agitasse os braços levemente.
Mas nenhuma voz nos cabe nas mãos, nem nas palavras.
Eu habito a quente loucura do poema sólido que em mim se concretiza.
Eu habito a quente loucura do poema sólido que em mim se concretiza.
Alguém repetia.
Mas a voz era cada vez mais líquida e talvez não coubesse no poema.
As mãos arrastavam o corpo para o lugar onde a minha solidão
talvez recordasse a voz. Dizia-me. Para que mais rápido se interrompesse
o dia, para que mais rápido se recordasse
a vida. Eu ia rolando sobre a cama como uma criança em direcção ao abismo.
As mãos voltavam a trazer-me para o centro do círculo.
No silêncio, perderia a consciência. São sempre as vozes que nos trazem
de volta. Talvez.
Era o dia em que me encostei à parede para olhar o círculo, a voz, as mãos.
Como se observasse aquela solidão.
E não houve nada que me pudesse dizer: Talvez.
Filipa Leal, in A Cidade Líquida e Outras Texturas
Na mesa ao lado, chora uma criança que não conhece a memória.
Há uma voz quente que um dia me falou ao ouvido.
Dizia-me.
Tentava explicar-me os ventos, as marés,
o terno refúgio dos dias que estão longe.
Eu julgo que dormia aninhada, com os olhos brilhantes e o coração atento.
Talvez tenha sentido uma mão leve a percorrer-me as costas. Talvez devagar.
Fazia movimentos circulares. Talvez tentasse mostrar-me o caminho.
Dizia-me.
Eu não compreendi porque vivia como se recordasse já.
Não há tempo para o presente quando se está fechado na memória.
Disse.
Não vivia do passado. Não era isso que tentava dizer: Havia em mim a certeza
da recordação futura - como a espiral de onde não se sai.
A voz começou a delirar em círculos. Ofendidos talvez, os círculos.
Eu estava no centro desse som que baixava como se a qualquer momento
pudesse abater-se sobre mim. Sem me sufocar talvez.
Dizia. Dizia.
A linguagem tornava-se cada vez mais estranha e imprópria.
Como nos sonhos em que se procura gritar
talvez agitasse os braços levemente.
Mas nenhuma voz nos cabe nas mãos, nem nas palavras.
Eu habito a quente loucura do poema sólido que em mim se concretiza.
Eu habito a quente loucura do poema sólido que em mim se concretiza.
Alguém repetia.
Mas a voz era cada vez mais líquida e talvez não coubesse no poema.
As mãos arrastavam o corpo para o lugar onde a minha solidão
talvez recordasse a voz. Dizia-me. Para que mais rápido se interrompesse
o dia, para que mais rápido se recordasse
a vida. Eu ia rolando sobre a cama como uma criança em direcção ao abismo.
As mãos voltavam a trazer-me para o centro do círculo.
No silêncio, perderia a consciência. São sempre as vozes que nos trazem
de volta. Talvez.
Era o dia em que me encostei à parede para olhar o círculo, a voz, as mãos.
Como se observasse aquela solidão.
E não houve nada que me pudesse dizer: Talvez.
Filipa Leal, in A Cidade Líquida e Outras Texturas
Festa do Cinema Francês - 11.ª edição
Festa do Cinema Francês from festa do cinema francês on Vimeo.
A Festa do Cinema Francês apresenta o até 9 de Novembro, 125 sessões, em Lisboa, Almada, Porto, Guimarães, Faro e Coimbra. Nesta 11.ª edição, teremos 20 longas-metragens em antestreia nacional — quase todas com distribuição já assegurada para o nosso país, segundo os responsáveis do Instituto Franco-Português, que organiza a Festa.
De entre os filmes apresentados em antestreia, o público vai escolher o seu filme de eleição, atribuindo-lhe o Prémio do público e contribuindo para a sua difusão nas salas de cinema portuguesas.
Maré vazia | Catarina Nunes de Almeida
[Manuel Caeiro]
Maré vazia
quando o poema se cumpre.
Escuto os cantos da onda -
cantos redondos de um caderno estendido
sob os desígnios da luz.
Catarina Nunes de Almeida, A Metamorfose das Plantas dos Pés
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