Para que serve a literatura?, Antoine Compagnon
"A alternância entre a filologia e a poética foi, pois, durante muito tempo a regra. Acusava-se a história literária de não passar de uma sociologia da instituição indiferente ao valor da obra e ao génio da criação: «A biografia, as moralidades, as influências, […] são os meios de dissimulação dados à crítica para encobrir a sua ignorância da finalidade e do assunto», reprovava Valéry. Acusava-se o formalismo de restringir o texto a um jogo abstracto e autónomo, a uma «solução anónima ou geométrica das probabilidades da linguagem», como o haveria de enunciar aqui mesmo Georges Blin. Pois coube a este conciliar o melhor de ambas as tradições. Com ele, o estudo literário ambicionou juntar-se ao «conhecimento disciplinar das obras na comunidade de uma época e com o privilégio de um destino», segundo a definição ecuménica que dele deu na lição inaugural da cátedra de «Literatura francesa moderna» em 1966."
in Para que serve a literatura?, Antoine Compagnon, (trad. José Domingues de Almeida)