Alexandra Moreira da Silva modera, no próximo sábado, uma conversa com Jorge Silva Melo, Maria João Luís, Nuno Cardoso, Patrick Sourd.
Na Deriva, Alexandra Moreira da Silva traduziu e posfaciou A INVENÇÃO DA TEATRALIDADE, de Jean-Pierre Sarrazac.
« Início de Sobre a Arte do teatro, Contra-Regra, que acaba de mostrar o local ao Amador de Teatro com o objectivo de lhe propor um breve olhar sobre o «mecanismo» («construção geral, palco, maquinaria dos cenários, aparelhos de luz e tudo o resto»), convida o seu hóspede a sentar-se «um momento na sala» e a interrogar-se sobre «o que é a Arte do Teatro»… A lição merece ser ouvida: não deveríamos nunca abordar a mínima questão de estética teatral sem antes nos termos instalado, ainda que mentalmente, em frente ao palco. Antes de reflectirmos sobre o teatro, é importante constatarmos novamente que este palco estreito – e no entanto destinado a servir de base a todo um universo – em repouso, parece um deserto. Noutros tempos, a cortina vermelha permitia dissimular este vazio aos olhos dos espectadores; entreabria-se apenas para deixar passar as miragens preparadas nos bastidores. Puramente funcional, a cortina de ferro interpõe-se hoje, no início da representação, entre o público e os artistas, simplesmente para melhor sublinhar a abertura, o vazio da cena moderna. Por detrás das cortinas de veludo, os nossos antecessores podiam adivinhar a abundância e a plenitude de um teatro alicerçado na ilusão. Actualmente, mal vemos subir a cortina de ferro, sabemos que aquele cenário, aquela cenografia nunca conseguirão preencher o vazio do palco nem satisfazer-nos completamente, a nós público, com os benefícios da sua aparência. O palco, mesmo (e sobretudo) o mais preenchido, continua vazio; e é justamente esse vazio – o vazio de toda e qualquer representação – que ele parece estar destinado a exibir perante os espectadores.
Aliás, desconfio que Gordon Craig e o seu Contra-Regra terão confrontado o seu Amador de Teatro com esta irremediável vacuidade do palco apenas para lhe incutirem a ideia de que a Arte do Teatro[2] já nada tem que ver com a plenitude e o jorro da vida, mas muito mais com os movimentos furtivos, erráticos e desencarnados da morte - «Esta palavra morte, nota Craig, surge naturalmente na escrita, por aproximação com a palavra vida constantemente reclamada pelos realistas».
A colecção Pulsar, dirigida pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, inclui textos relevantes em torno da literatura e de outras artes. Estes pequenos livros, que se podem ler numa viagem de comboio ou a uma mesa de café, pretendem emitir um sinal luminoso, sentidos de um pensamento, fulgurações de palavras. Como os enigmáticos e distantes pulsares.