Há olhares e indiscrições que sabe bem ouvir. Também os silêncios quando procuram, sós, o seu significado. Paradoxalmente, temos de parar e iniciar um percurso errático - a deriva. Para os que só agora chegam, esta expressão tem pouco a ver com o acaso. Trata-se de uma experiência de rua, iniciática, que começou com Thomas de Quincey que, nas suas Confissões, descrevia o prazer que sentia a andar pelas ruas de uma Londres não reconhecida na quadrícula oficial. Nessa deriva opiómana encontrava tudo o que o jogo pode dar. Tensão, letargia, exaltação e poesia. Viva. Com outros. Os dadaístas encontraram-na no Cabaret Voltaire, os Surrealistas provavelmente em Paris, Artaud no México, Cravan no boxe, António Maria Lisboa na metaciência, os situacionistas na rua, Vaneigem no amor... mas, para nós, a deriva começa com Sapartacus e escoa devagar para esses outros limites. Essa deriva é essencial e nunca foi testemunhada verdadeiramente.
Não sei quantas vezes teremos de dizer, nem quantas teremos de nos chatear a sério. Não somos uma editora marginal, nem nos move a lógica empresarial. Editamos pelo prazer de dar sentido a uma necesidade de criação onde o mais importante, mas não único resultado, é fazer livros. Porque sempre fomos habituados a eles e sempre vivemos com eles. A sociedade de mercado limita esse prazer porque se apropria de tudo o que soa a vida. Só por isso, pelo gozo da resistência, valeria a pena editar. Há quem não compreenda.
Vale a pena experimentar. Depois, tudo começa a fazer sentido. Literalmente.
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