A história fantasiada de um menino sem tempo para ficar quieto, que quando se cansava de ler ou de brincar, uma névoa toldava-lhe os grandes olhos castanhos.
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A ilustração referente à iniciativa que há dois anos dá o nome às Derivas e aos seus ciclos de debate de ideias muito virados para a educação, a filosofia e a história é de um mapa nativo das Ilhas Marshall. Os antigos navegantes do Pacífico, com este mapa de vime e paus, orientavam-se para o sol e para as estrelas desta maneira encontrando assim as ilhas para onde se dirigiam. O que, aparentemente, nos propunha uma deriva tinha, afinal, um rumo, uma rede de informação que os levava seguramente ao seu destino. É todo um programa que está inscrito nestas viagens. Mal sabiam os seus antigos habitantes destas longínquas ilhas a proposta revolucionária que continham esses mapas. E que a Deriva adoptou.
"Só a rejeição total da realidade no-la pode mostrar na sua verdade. Só a rejeição total do mundo nos diz a verdade do mundo. Mas esse gesto radical de rejeição já não é o gesto moderno que, depois da destruição anunciava e preparava um novo começo. Não há começo absoluto porque a «tabula rasa» não nos deixa diante de nenhuma verdade absoluta. A rejeição total da realidade apenas nos oferece «uma» verdade da realidade. Esta é a nossa verdade." Santiago López-Petit in A Mobilização Global
Drawing Restraint 9 é um objecto de arte, que usa o cinema como veículo, tirando partido da imagem e do som. Só assim se pode entender a ausência de enredo, de ritmo e de personagens.
Começa com uma mulher a embrulhar um fóssil, numa dança coreografada de mãos e papéis. Os embrulhos são selados com um símbolo oval atravessado por uma barra (a plenitude restringida por uma barreira). Acompanhamos depois dois visitantes ocidentais (Barney e Björk) que, separadamente, são levados para bordo do baleeiro japonês Nisshin Maru. Os visitantes são lavados e vestidos com fatos feitos de peles de animais na preparação de uma cerimónia de casamento. No convés do navio, a tripulação ocupa-se com o molde de uma piscina de vaselina - um molde onde se repete novamente o símbolo oval - em sinal de todo o esforço que está implícito no trabalho criativo.
“Drawing Restraint 9” é uma experiência sobretudo sensorial, de um forte poder imagético, usando a baía de Nagasaki como pano de fundo. Um produto de difícil digestão, profundamente trabalhado, com algumas poderosas - mas surreais - ideias. Mas, como cinema, é bem mais interessante de olhar do que de ver.
A partir de um célebre quadro de Millet, o filme de Agnès Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade contemporânea dos respigadores, aqueles que vivem da recuperação de coisas (detritos, sobras) que os outros não querem ou deixam para trás. A respigadora, nesse sentido é Agnès Varda, que experimentando pela primeira vez uma pequena câmara digital, se quer assumir como uma “recuperadora” das imagens que os outros não querem ver nem fazer, e que portanto deixam para trás.
Nota ao leitor
Esta nota não é um prólogo. O texto que aqui se apresenta, na medida em que propõe um conceito de realidade absoluta — a realidade tornada una com o capitalismo já não tem afora e pretende-se, para além disso, atemporal — não comporta um texto prévio. Ou, se o tivesse, ele não seria mais do que um simples comentário exterior. A nota é, bem mais, uma advertência. A escrita aqui adoptada permite enquadrar os mais diversos fenómenos num discurso unitário e total. Esse discurso é uma ficção, mas toda a ficção produz efeitos de realidade e, se ainda tivesse sentido falar em termos de cientificidade, a operação filosófica e política aqui empreendida reclamaria para si a cientificidade que lhe pode ser conferida pela coerência interna. Em virtude dessa necessidade interna, e uma vez conquistada, à partida, uma legitimidade a partir da qual falar, a realidade apresenta-se na sua processualidade. Queremos acreditar que aquilo que se ganha é suficiente para que a aposta valha a pena. Este texto tem a aspiração de explicar tudo. Decerto, sabemos que no mais essencial existe sempre uma pobreza e um esquematismo que lhe são inerentes. Por essa razão tem tanto de verdade o dizer-se que este texto é um croquis para que nos orientemos na realidade e contra ela. Trata-se de um croquis que outros podem ampliar ou concretizar, ou simplesmente, apagar para inventar outro. Vivamente desejamos que isso aconteça." SANTIAGO LOPÉZ-PETIT
A fractura não me separara, não me erguera ainda nos ossos quebradiços para repetir um ritmo alheio, a entoação difusa que já existia antes de ser criadaPara as dúvidas genológicas, fica o conselho de Irene Lisboa: "Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa" .
Não era ainda eu, em 63, essa curta palavra, desprezível, que deita abaixo as árvores e depois separa os ramos do tronco e sacrifica as folhas e verga florestas inteiras pelo puro prazer de deitar à terra nomes que não lhe sobrevivem
Porque se trata de uma palavra verdadeiramente estranha, eu, ofensiva, protagonista da discórdia, de um desentendimento
Eu não tinha sido ainda derrotado, em 63, pelo anónimo pulsar que desde o início contamina as ascendências
Relegada durante longas eras em esconderijos longínquos, desde que fora apeada do sistema das espécies agora extintas, a outra fauna voltava à luz vinda das caves da biblioteca onde se guardam os incunábulos, lançava-se em grandes saltos dos capitéis e dos algerozes, empoleirava-se nas cabeceiras dos dormentes. As esfinges, os grifos, as quimeras, os dragões, os hircocervos, as hárpias, as hidras, os unicórnios, os basiliscos retomavam a posse da sua cidade. Italo Calvino
Cinco días de Libro
Durante cinco días, Tenerife brindará un espacio a todos los agentes implicados en la vida del libro.
Editores, traductores, escritores, gestores culturales, bibliotecarios, libreros y lectores compartirán un espacio común en el que dialogar, compartir experiencias y disfrutar de la literatura. Una programación amplia y diversa para el disfrute de profesionales y aficionados a la lectura.