No âmbito do Dia Mundial da Criança a Fnac promove um encontro entre a escrita, a ilustração e a representação com base no livro Conto da Travessa das Musas.
A história fantasiada de um menino sem tempo para ficar quieto, que quando se cansava de ler ou de brincar, uma névoa toldava-lhe os grandes olhos castanhos.
Conto da Travessa das Musas : amanhã, Fnac GaiaShopping, 10:30
Manuela São Simão orientará um workshop de ilustração acompanhado por Flocos de Neve (os mesmos rebuçados de que fala o livro!) e por balões, muitos balões....
A Feira do Livro do Porto está quase, quase a chegar...
E com ela boas oportunidades para espreitar as novidades da Deriva no Stand da Companhia das Artes.
A história que vou contar-te passou-se há muitos anos, na cidade do Porto. Ora escuta. Era uma vez um menino sem tempo para ficar quieto. Quando se cansava de ler ou de brincar sozinho, uma névoa toldava-lhe os grandes olhos castanhos. Sabia que apenas o deixavam sair se fosse para ir à escola, ou a recados à mercearia do senhor Carvalho ou à «loja das miudezas», como a mãe chamava a uma locanda onde uma doce senhora de olhos vesgos vendia carrinhos de linhas, botões, colchetes, fivelas e elásticos. Por isso, o João – era este o nome do menino passava horas sem fim à janela.
JOÃO PEDRO MÉSSEDER nasceu em 1957, no Porto, onde completou os seus estudos universitários e exerce funções docentes no Ensino Superior. Publicou mais de três dezenas de livros para a infância, além de diversos títulos de poesia. É autor de Abrasivas, Meridionais e dos livros infantis O Aquário e Vozes do Alfabeto, todos eles editados pela Deriva.
MANUELA SÃO SIMÃO nasceu em São Paulo, Brasil, em 1980. Veio com cinco anos para Portugal onde se licenciou em Artes Plásticas – Pintura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Tem desenvolvido projectos multidisciplinares que cruzam áreas como a performance, a instalação, o som, a rádio-arte, procurando em todos eles um lado relacional pelo trabalho de equipa. Orienta workshops de expressão plástica para crianças de diversas idades.
[…] Ao longo do DISCURSO percebemos a reincidência de certos recursos estilísticos, tais como a elipse, o polissíndeto, a anáfora, a palavra-puxa-palavra, etc., que só vêm reforçar a sua estrutura enquanto discurso obediente às regras da gramática e do beletrismo da literatura em língua portuguesa. Assim, mais do que a desintegração, acentuamos a prática subversiva de desfiguração do código, o que vai consolidar a sátira contundente a toda a herança cultural que pesa sobre os nossos ombros. […]”Do posfácio de Eduardo Kac à edição brasileira de 1983, ed. Codecri.
Dia 5 de Junho, em Santiago de Compostela, será homenageada Marilar Aleixandre. A Deriva publicou, desta poeta, Catálogo de Venenos, numa ed. bilingue.
Catálogo de Venenos é um acto de amor e um ajustamento de contas. Uma filha interroga-se sobre a mãe-madrasta, sobre uma relação em que se cruzam amor e ódio, dependência e identificação: "não sabia que foste tu quem me educou/contra ti mesma". Venenos íntimos, herdados ou escolhidos. Venenos que fendem a língua, pois caminhar sobre o gume da língua é tão perigoso como andar pelo gume dos cutelos. Rebelião que é possível ao levar por baixo das unhas restos da terra ou da tinta da mãe. Quem é a que escreve? A mãe fazendo-o em nome da filha? Talvez a outra, a que usurpa nomes e imagens, a ladra de línguas....
V CICLO A JUSTIÇA NO CINEMA
26 de Maio, 21h45 TEATRO DO CAMPO ALEGRE
A TROCA, de Clint Eastwood seguido de debate com Edite Dias (Coordenadora de Investigação da Polícia Judiciária), Luís Martins (Juiz de Direito), António A. Salazar (Advogado e Vice-Presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados)
Mod.: Guilherme Figueiredo (Advogado e Presidente do Conselho Distrital do Porto da Ordem dos Advogados)
Henning Lundkvist: a work for two speakers for audiences
Lumiar Cité apresenta, Henning Lundkvist: a work for two speakers for audiences
Recorrendo a instalações sonoras, a obra de Henning Lundkvist reflecte sobre texto, som, comunicação e significado. A prática do artista é influenciada pela arte conceptual e simultaneamente pelo “post dramatic theatre”, pelas peças radiofónicas experimentais da Alemanha e pela poesia sonora sueca dos anos 1960.
20.05 | 19h00 Conversa com Henning Lundkvist e lançamento do quinto número do fanzine “Dogma”, editado por André Trindade.
27.05 | 18h00 Visita guiada por Manuela São Simão.
Lumiar Cité, Rua Tomás del Negro, 8A
1750-105 Lisboa
Mais informação aqui.
António Alves da Silva, António Luís Catarino, Suzana Ralha
António Luís Catarino, Santiago López-Petit, Rui Pereira
Santiago Lopez-Petit e Marina Garcés
O propósito das Derivas de Maio - debater a educação e a revolução - foi atingido: criamos, hoje, um espaço informal de debate com a ajuda de Suzana Ralha, António Alves da Silva, Rui Pereira e Santiago López-Petit.
A Deriva Editores agradece a todos quantos estiveram hoje connosco.
Hoje, neste número da revista Visão, Miguel Carvalho entrevista Santiago López-Petit em trânsito para o Porto a fim de participar nas Derivas de Maio e apresentar o seu livro, editado pela Deriva, A Mobilização Global, seguido de O Estado-Guerra e Outros Textos e Alguns Comentários Marginais de Rui Pereira, que também traduziu do castelhano.
Lembramos que SLP intervirá às 14:30 juntamente com Rui Pereira.
De manhã, pelas 10:30, intervirão Suzana Ralha e António Alves da Silva.
Rua da Alegria, 503, Porto. Esmae (Café-Concerto)
"Os espaços de anonimato representam um verdadeiro desafio para a teoria revolucionária. O estatuto político dos espaços de anonimato (o não serem homogéneos, adicionáveis…) é função e já chega determinado pela essência da própria força do anonimato. É ela que lhes confere aquelas que são as suas características principais: ausência de reivindicação, articulação em torno de um gesto radical que se repete, não-futuro, politização apolítica. A força do anonimato aparece-nos quando tentamos pensar a radicalização da impotência. Essa força vem, então, ter connosco. Com toda a sua carga dissolvente e, ao mesmo tempo, portadora de promessas. Com toda a sua ingovernabilidade.Sentimos a impotência face a essa mobilização global que se faz de nós, connosco — contra nós — que unifica realidade e capitalismo, que proclama «Não há nada a fazer» . Esta frase, «não há nada a fazer»é uma frase estranha que em nada se assemelha a outras frases aparentemente parecidas: não podemos fazer nada, é impossível fazer seja o que for… «Não há nada a fazer» é o nome para uma bifurcação que conduz a dois lugares completamente diferentes: «Não se pode fazer nada» e «Tudo está por fazer». O primeiro caso não nos interessa. O segundo, sim. Quando se diz, de facto, «Não há nada a fazer» porque se bateu realmente no fundo e já não resta esperança alguma, o que então se abre é uma travessia do niilismo. Aí, sim, podemos afirmar que «Tudo está por fazer». A travessia do niilismo inaugurada pelo «Não há nada a fazer» não é outra coisa senão a radicalização da impotência. Uma radicalização que nos conduz ao que Artaud denominava o im-poder. Para ele, radicalizar a impotência é o mesmo que fazer a experiência do im-poder. A impotência aparece referida na sua correspondência com Rivière como a impossibilidade de pensar. A análise deste «querer pensar mas não poder pensar» constituirá o núcleo de todo o primeiro escrito de Artaud. Rapidamente essa impossibilidade haverá de estender-se ao próprio viver. Quero viver, mas não consigo viver." Santiago López-Petit, in Mobilização Global, Deriva Editores
Santiago López-Petit estará sábado, dia 22 de Maio, no Café concerto da Esmae para pensar connosco a educação e a revolução. Um binómio nem sempre conjugado e que foi convenientemente separado à nascença.
A Feira do Livro de Lisboa abriu as suas portas a 29 de Abril e decorrerá até dia 23 de Maio no Parque Eduardo VII. Os livros da Deriva estão na Feira do Livro de Lisboa,
no Stand da Companhia das Artes, C16. Do lado direito, de quem sobe o parque Eduardo VII.
A ilustração referente à iniciativa que há dois anos dá o nome às Derivas e aos seus ciclos de debate de ideias muito virados para a educação, a filosofia e a história é de um mapa nativo das Ilhas Marshall. Os antigos navegantes do Pacífico, com este mapa de vime e paus, orientavam-se para o sol e para as estrelas desta maneira encontrando assim as ilhas para onde se dirigiam. O que, aparentemente, nos propunha uma deriva tinha, afinal, um rumo, uma rede de informação que os levava seguramente ao seu destino. É todo um programa que está inscrito nestas viagens. Mal sabiam os seus antigos habitantes destas longínquas ilhas a proposta revolucionária que continham esses mapas. E que a Deriva adoptou.
Estas segundas derivas propõem-se debater a educação e a revolução. Um binómio nem sempre conjugado e que foi convenientemente separado à nascença. Mas nem sempre foi assim: em todas as revoluções dignas desse nome o amor, o quotidiano, a educação pertenciam às mesmas ondas de choque. Em cada inovação e transformação revolucionárias no campo livre da educação o Estado soube recuperá-las e cedê-las à sua classe e aos seus sequazes. Trata-se, portanto, de inventar caminhos impossíveis de serem recuperáveis, ou seja, de criar situações verdadeiramente irreversíveis.
Nos campos da realidade e do quotidiano, pretende-se igualmente transformá-los de modo a criar objectos reconhecíveis pelos deprimidos do mundo inteiro; um modo moderno de superação niilista dos novos cadáveres esquisitos e das nossas máscaras acinzentadas em que nos tornámos.
Vamos promover estes e outros debates entre nós, que teimamos em realizá-los. As Derivas de Maio convidam-no e à Suzana Ralha, ao António Alves da Silva, ao Rui Pereira e ao Santiago López-Petit a passar pelo Café Concerto da ESMAE, no dia 22 de Maio, pela manhã e tarde de um sábado. A falarmos e a encontrarmos saídas.
«E se a Revolução significasse, antes de tudo, Educação?»
9:30 – Entrega do certificado de presença
9:45 – Abertura
Moderação: António Luís Catarino
10:00 – Suzana Ralha, Professora
11:30 – António Alves da Silva, Professor
Debate
12:30 – Intervalo para almoço
«Fazer o Pensar e Pensar o Fazer – Como atacar a Realidade?»
Moderação: António Luís Catarino
14:30 – Rui Pereira, Jornalista
15:00 – Santiago López-Petit, Filósofo. Universidade de Barcelona
Debate
16:00 –– Apresentação do livro de Santiago López-Petit, A Mobilização Global seguido de O Estado-Guerra e Outros Textos. Tradução e Comentários de Rui Pereira. Deriva Editores, 2010
17:00 – Projecção do Filme El Taxista Ful de Jordi Solé (Jo Sol)
Não tenho grande respeito pelo «povo católico». Aquele de que se rodeia o papa quando cá vem por motivos bem poucos espirituais, mas muito terrenos: recuperar uma imagem desgastada de uma igreja velha, corrupta. O «povo católico», daquele que se vê na tv, dá-lhe a «moldura humana» com os seus antigos gestos rituais, mas que, hoje, são um arremedo patético e de um péssimo teatro de fantoches. Olhos em alvo para um céu de que já não esperam salvação nenhuma, pescoços inclinados para o lado imitando as imagens de santos mimoseadas em mau barro de Fátima, meia-voz colocada em tom grave e piedoso mas que não disfarça um fanatismo violento para quem não é do rebanho, eles, os do povo católico, são capazes de tudo: fazedores de boatos lá no bairro, maldizentes no autocarro público, adoradores de Salazar se os deixarem (naquele tempo é que era!), invejosos da classe média depauperada também pelo seu apoio militante, ocupadores (sem necessidade) de autocarros na hora de ponta só para fazerem valer os seus direitos, base de apoio social para os fascismos de hoje e futuros, insultadores de jovens só por o serem, provocadores nas filas do subsídio de desemprego, do ordenado mínimo e da reforma, deleitam-se a insultar funcionários públicos de cara acinzentada, enquanto promovem o seu próprio espezinhamento pelo «senhor engenheiro» ou pelo «senhor doutor».
Entre um Jardim Gonçalves e uma Dª Ermelinda que ajuda à missa, venha o diabo e escolha.
A presença nas Derivas de Maio dá direito à oferta de um livro na compra de outro livro da Deriva.
FICHA DE INSCRIÇÃO| COM UMA FACA NOS DENTES: Educação, Revolução, Realidade
Nome: ____________________ E-mail____________
Morada _ _______________________Tel.__________
Escola / Instituição _ _____________________________
Será entregue um certificado de participação.
Inscrições: Poderão ser feitas por e-mail deriva@derivaeditores.pt ou por Correio: Rua Santo Ildefonso, nº 85, 5º, sala 2, 4000-468 Porto (A/C de “Deriva Editores).
Os estudantes do Mestrado em Ensino de Artes Visuais no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, organizaram um segundo ciclo de cinema subordinado ao tema "Cinema e Educação" .
No próximo dia 19, depois da exibição de En rachâchant de Danièle Huillet e de Jean-Marie Straube de O Quadro Negro de Samrira Makhmalbaf há lugar para a conversa com Estela Cunha e Bernard Despomadères.
Os ciclos "Cinema e Educação" têm lugar no Cinema Medeia Cidade do Porto.
As sessões realizam-se às 21h30, e custam 3,50 euros.
"Só a rejeição total da realidade no-la pode mostrar na sua verdade. Só a rejeição total do mundo nos diz a verdade do mundo. Mas esse gesto radical de rejeição já não é o gesto moderno que, depois da destruição anunciava e preparava um novo começo. Não há começo absoluto porque a «tabula rasa» não nos deixa diante de nenhuma verdade absoluta. A rejeição total da realidade apenas nos oferece «uma» verdade da realidade. Esta é a nossa verdade." Santiago López-Petit in A Mobilização Global
Colector olha através das linguagens das artes visuais espaços museológicos e/ ou instituições. Do resgate do seu acervo, colecção e história específica, Colector pretende expandir a interacção em confronto com os espólios.
A experimentação acontece deste encontro, abraçando a relação passado/presente, reapreciando os arquivos/espólios - a alma de quem os alberga. Pensar os modos de revisitar o que fora escolhido a resgatar, pensar as expectativas de um encontro com uma colecção, mostrá-la a quem a visita fincando nesse legado o espreitar de um comentário presente.
Projecto Colector
All Brain (Luis Xavier), Ana Efe, André Alves, André Silva, Cláudia Lopes, Dalila Gonçalves, João Bonito, Luísa Sequeira
14 de Maio – 31 de Maio 2010
Inaugura Sexta-feira 14 de Maio às 19h00
Cinemas Medeia Filmes, Centro Comercial Cidade do Porto
Rua Gonçalo Sampaio, 350
4150 – 368 Porto
Escolha do Colector
Drawing Restraint 9 – de 13 a 19 de Maio
Sessão: 19h00- Drawing Restraint 9
Realização: Matthew Barney. Elenco: Matthew Barney, Björk, Mayumi Miyata, Shiro Nomura, Tomoyuki Ogawa, Sosui Oshima. Nacionalidade: EUA / Japão, 2005.
Sinopse
Drawing Restraint 9 é um objecto de arte, que usa o cinema como veículo, tirando partido da imagem e do som. Só assim se pode entender a ausência de enredo, de ritmo e de personagens.
Começa com uma mulher a embrulhar um fóssil, numa dança coreografada de mãos e papéis. Os embrulhos são selados com um símbolo oval atravessado por uma barra (a plenitude restringida por uma barreira). Acompanhamos depois dois visitantes ocidentais (Barney e Björk) que, separadamente, são levados para bordo do baleeiro japonês Nisshin Maru. Os visitantes são lavados e vestidos com fatos feitos de peles de animais na preparação de uma cerimónia de casamento. No convés do navio, a tripulação ocupa-se com o molde de uma piscina de vaselina - um molde onde se repete novamente o símbolo oval - em sinal de todo o esforço que está implícito no trabalho criativo.
“Drawing Restraint 9” é uma experiência sobretudo sensorial, de um forte poder imagético, usando a baía de Nagasaki como pano de fundo. Um produto de difícil digestão, profundamente trabalhado, com algumas poderosas - mas surreais - ideias. Mas, como cinema, é bem mais interessante de olhar do que de ver.
Os Respigadores e a Respigadora - de 20 a 26 de Maio
Sessão: 19 h00 - Os Respigadores e a Respigadora Realização: Agnès Varda. Elenco: Bodan Litnanski, Agnès Varda, François Wertheimer. Nacionalidade: França, 2000.
Sinopse
A partir de um célebre quadro de Millet, o filme de Agnès Varda é um olhar sobre a persistência na sociedade contemporânea dos respigadores, aqueles que vivem da recuperação de coisas (detritos, sobras) que os outros não querem ou deixam para trás. A respigadora, nesse sentido é Agnès Varda, que experimentando pela primeira vez uma pequena câmara digital, se quer assumir como uma “recuperadora” das imagens que os outros não querem ver nem fazer, e que portanto deixam para trás.
O Colector e a Medeia Filmes contam com a vossa presença.
Nota ao leitor
Esta nota não é um prólogo. O texto que aqui se apresenta, na medida em que propõe um conceito de realidade absoluta — a realidade tornada una com o capitalismo já não tem afora e pretende-se, para além disso, atemporal — não comporta um texto prévio. Ou, se o tivesse, ele não seria mais do que um simples comentário exterior. A nota é, bem mais, uma advertência. A escrita aqui adoptada permite enquadrar os mais diversos fenómenos num discurso unitário e total. Esse discurso é uma ficção, mas toda a ficção produz efeitos de realidade e, se ainda tivesse sentido falar em termos de cientificidade, a operação filosófica e política aqui empreendida reclamaria para si a cientificidade que lhe pode ser conferida pela coerência interna. Em virtude dessa necessidade interna, e uma vez conquistada, à partida, uma legitimidade a partir da qual falar, a realidade apresenta-se na sua processualidade. Queremos acreditar que aquilo que se ganha é suficiente para que a aposta valha a pena. Este texto tem a aspiração de explicar tudo. Decerto, sabemos que no mais essencial existe sempre uma pobreza e um esquematismo que lhe são inerentes. Por essa razão tem tanto de verdade o dizer-se que este texto é um croquis para que nos orientemos na realidade e contra ela. Trata-se de um croquis que outros podem ampliar ou concretizar, ou simplesmente, apagar para inventar outro. Vivamente desejamos que isso aconteça." SANTIAGO LOPÉZ-PETIT
A Deriva Editores informa que no próximo dia 22 de Maio têm lugar os II Ciclos Derivas de Maio. No entanto, e apesar do relevo de todos os participantes, o trânsito não será cortado, nem existirão medidas extra de segurança.Acrescenta-se ainda que a presença de Santiago López-Petit não implica tolerância de ponto.
[Recensão a Chega de Fado de Paulo Kellerman, no Rascunho.net, por Henrique Fialho ]
O percurso que marca a afirmação de Paulo Kellerman (n. 1974) como um dos mais consistentes contistas portugueses começou com várias publicações caseiras que coligiam estórias mais ou menos absurdas, grotescas, irónicas. A primeira colectânea que a Deriva lhe publicou −Gastar Palavras (2005, Grande Prémio de Conto “Camilo Castelo Branco” C.M. de Vila Nova de Famalicão/ APE em 2006) – revelou-nos um autor com suficiente agilidade para, dentro de um mesmo registo narrativo, produzir inflexões nas temáticas predilectas e experimentar novos caminhos. Se é verdade que algumas das publicações caseiras já vinham anunciando um autor especialmente focalizado nas rotinas da vida a dois, menos verdade não será que essas rotinas foram sendo aprofundadas do ponto de vista reflexivo nos livros subsequentes: Os Mundos Separados que Partilhamos (2007) e Silêncios Entre Nós (2008). Nesses livros, erguidos a partir de diálogos informais com pinturas de diversos artistas, a vida a dois aparece retratada sob uma perspectiva existencial, refém da melancolia e da monotonia que o objecto observado imprime no observador. Não se nota em nenhuma dessas compilações um esforço de distanciamento que permitisse pensar as relações humanas neste mundo contemporâneo, que só dizemos civilizado por distracção, para lá da previsibilidade dos comportamentos mais facilmente detectáveis. O que se nota é uma revelação perspicaz da fractura que a encenação da vida conjugal civilizada estabelece entre a intimidade e a partilha. [continue a ler aqui]
O novo livro de João Pedro Mésseder, Conto da Travessa das Musas, tem o fulcro da acção na outrora Travessa das Musas, hoje Rua Raúl Dória no Porto. Nesta rua nasceu José Gomes Ferreira e o próprio João Pedro Mésseder.
O Conto da Travessa das Musas é da autoria deJoão Pedro Mésseder, que já publicou na Deriva O Aquário, Abrasivas e Meridionais e é ilustrado por Manuela São Simão.
Fala com Ela na Radar com Filipa Leal. -"uma atenção que vem de dentro"
Uma conversa cúmplice entre duas mulheres graníticas.
Sábado ao meio-dia, domingo às 19h, Quinta às 23h na Radar.
Filipa Leal fala de Quadrado de F uma peça de teatro ainda inédita...
O PESO DOS LIVROS
Pensava que os livros não têm peso. Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.
Pensava que os livros são menos complexos do que nós. Mesmo quando
não temos linha, quando não temos palavra. Mesmo quando
não conseguimos respirar. Quando pensei nisso,
tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página.
Filipa Leal, in O problema de ser norte/ Deriva Editores
Alfabeto Adiado e Estranhas Criaturas são dois dos próximos títulos da Deriva Editores.
Alfabeto Adiado, de José Ricardo Nunes é uma incursão do poeta e do ensaísta por outras águas.
José Ricardo Nunes publicou na Deriva, Apócrifo (2005) e Versos Olímpicos (2009). Alfabeto Adiado será apresentado no dia 25 de Junho no Centro Cultural das Caldas da Rainha.
Fica aqui o início:
A fractura não me separara, não me erguera ainda nos ossos quebradiços para repetir um ritmo alheio, a entoação difusa que já existia antes de ser criada
Não era ainda eu, em 63, essa curta palavra, desprezível, que deita abaixo as árvores e depois separa os ramos do tronco e sacrifica as folhas e verga florestas inteiras pelo puro prazer de deitar à terra nomes que não lhe sobrevivem
Porque se trata de uma palavra verdadeiramente estranha, eu, ofensiva, protagonista da discórdia, de um desentendimento
Eu não tinha sido ainda derrotado, em 63, pelo anónimo pulsar que desde o início contamina as ascendências
Para as dúvidas genológicas, fica o conselho de Irene Lisboa: "Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa" .
Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho usa como pretexto (acepção etimológica, antes do texto) As Cidades Invisíveis de Italo Calvino:
Relegada durante longas eras em esconderijos longínquos, desde que fora apeada do sistema das espécies agora extintas, a outra fauna voltava à luz vinda das caves da biblioteca onde se guardam os incunábulos, lançava-se em grandes saltos dos capitéis e dos algerozes, empoleirava-se nas cabeceiras dos dormentes. As esfinges, os grifos, as quimeras, os dragões, os hircocervos, as hárpias, as hidras, os unicórnios, os basiliscos retomavam a posse da sua cidade. Italo Calvino
E depois convida estas estranhas criaturas - esfinges, grifos, dragões, hircocervos, hárpias, hidras, unicórnios, basiliscos - a desfilarem num alfabeto desordenado. Mas antes deixa um aviso aos poetas...
Natálio Reis bem gostaria que as suas preocupações diárias se resumissem a encomendar ao artista Zé Penicheiro uma nova bandeira da freguesia com os três pastorinhos.
Seria até uma boa maneira de comemorar os 90 anos das supostas aparições de Nossa Senhora a Lúcia, Jacinta e Francisco, não fosse o caso de Fátima andar precisada de milagres que, pelos vistos, ultrapassam os desígnios de Deus e a vontade dos homens. «Temos imensas carências e necessidades», desabafa o presidente da Junta. Ninguém diria.
O fenómeno religioso pôs Fátima no altar do mundo. Os peregrinos, as celebrações e os negócios também se multiplicaram a olhos vistos. Mas a terra onde vivem 15 mil almas e pela qual passam, anualmente, quatro a cinco milhões de pessoas, está longe de levar uma vida santa. Não há hospital público e o único Centro de Saúde funciona até às 20 horas.O agrupamento de jardins-de-infância e escolas vai ser encerrado pelo Governo a decisão é contestada e nem os transportes públicos passam por Fátima. Ruas e passeios andam num desarranjo dos diabos e a iluminação pública mete medo ao susto. Os acessos à cidade, sobretudo aos fins-de-semana, entopem. Os locais de lazer são escassos. Não há um teatro e a única sala de cinema funciona dentro de um shopping. Museus, só os de carácter religioso. Livrarias, idem. Com algum esforço e olho vivo, encontram-se um Dostoievski e um Nicholas Sparks. Na mesma prateleira, sem se engalfinharem. A Junta, essa, só pode gastar 2 500 euros em livros para a biblioteca. O executivo encomendou um estudo sobre a situação económica da freguesia. Não é preciso, porém, ser vidente para esbarrar nas evidências: «Com os terrenos caros e a falta de uma rede viária decente, um empresário tem de acreditar em milagres para investir nesta terra», ironiza Natálio Reis. No fundo, «o Estado e os sucessivos governos esqueceram-se de Fátima. O 25 de Abril não chegou cá, mas olhe... pelo menos, já se pode dizer mal», reage o autarca, eleito pelo PSD. Ao diagnóstico, nem sequer falta o mínimo consenso político. «Nós, filhos do regime democrático, temos de nos penalizar. Se alguma coisa aqui se fez, foi no tempo da outra senhora», admite José Alho, vereador do PS na Câmara de Ourém, sede do concelho.
Apenas o território propriedade do Santuário, na Cova da Iria, não é afectado pelas dores desta Fátima que não vem no mapa. O recinto está bem cuidado, recomenda-se e até se adaptou aos novos tempos: uma espécie de slot machine com 15 cofres, situada nas traseiras da Capelinha das Aparições, acende velas eléctricas à razão de 50 cêntimos cada. O Santuário tem, ainda, a sua própria guarda de vigilância, serviços de apoio aos peregrinos e postos médicos com voluntários para pequenos males de cabeça, tronco e membros. Ali, o saneamento básico chegou cedo, algo que ainda é uma miragem para a maioria da população. «Vai tudo para a fossa», diz Carlos Marques, 56 anos, residente nos Valinhos, em Aljustrel, onde nasceram as crianças «videntes». «Lá em cima não falta nada», aponta. «Lá em cima» é o largo onde pegaram de estaca lojinhas de comércio religioso e profano. Tapetes com cãezinhos e estatuetas da Virgem convivem, lado a lado, com cachecóis do clube do coração. Estamos a dois quilómetros do centro da terra e aqui, nos itinerários e espaços museológicos à guarda do Santuário, tudo reluz e brilha. O resto vive de sombras.
Casas esventradas, terrenos com lixo amontoado, caminhos e vidas ao deus-dará. «Um vizinho meu, de 70 anos, ainda trabalha na pedreira, para sobreviver. Eu tenho a minha reforma de 370 euros, mas pago 35 contos de renda, fora água e luz», conta Carlos Marques, braços apoiados num muro, enquanto se lamenta de excessos na vida, à conta de álcool e tabaco. Tem uma mão aleijada e, à noite, dorme com uma máscara de oxigénio.«Sou católico, mas a Nossa Senhora a mim não fez milagres», diz, regressado do campo, com favas para o jantar.
O grau de instrução dos habitantes de Fátima não ultrapassa o ensino básico. O número de analfabetos ou dos que apenas sabem ler e escrever é superior à média nacional. Escolas, colégios, lares de terceira idade, centros de dia, apoios à infância e aos mais desfavorecidos são áreas de intervenção quase exclusiva de comunidades religiosas, sem ligação ao Santuário. De acordo com a Comissão Diocesana Justiça e Paz, há 1 300 famílias em situação de pobreza, na área geográfica da diocese Leiria-Fátima. A irmã Maria dos Anjos conhece, pelo menos, 30 famílias sem recursos para uma vida digna, na zona de Fátima. «Ando no terreno», justifica.
Professora de Educação Moral e Religiosa Católica no Centro de Estudos de Fátima, coordena o clube de solidariedade daquela escola. «Há dois tipos de pobreza: a dos que conseguem levantar a cabeça com apoio e os que não dão um passo em frente, mesmo ajudados. Falta muita instrução, também», resume. Ela mobiliza vontades, recolhe donativos, sobressalta os alunos, arregimenta-os para as suas causas.
«Para mim, são todos seres humanos», diz.
E para o Santuário, mesmo ali ao lado? «Eles ajudam, não podem é bradar muito aos céus, porque toda a gente lhes bate à porta», defende Maria dos Anjos. No ano de 2005, o último de que há registos, o Santuário de Fátima concedeu ofertas de quase 700 mil euros, sem especificar. Os proveitos, esses, foram superiores a 8,7 milhões de euros. «Não se peça ao Santuário que substitua os poderes públicos, argumenta Natálio Reis, agradecido à Reitoria pelo apoio anual para pequenas obras que, em 2006, rondou os 43 mil euros. «Num orçamento de 500 mil, bem falta faz.» Se o desenvolvimento tarda, o crescimento manda. Fátima é o retrato de um Portugal pequenino que arrebitou desmesuradamente. Não faltam as inevitáveis rotundas, o urbanismo desgovernado e típico do País pimba, as lojas, hotéis e restaurantes de gosto e arquitectura duvidosos. Mas não só. Ainda recentemente, a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica fechou uma dezena de estabelecimentos, em Fátima: três hotéis, cinco restaurantes e uma padaria. Valham o Tia Alice, o Retiro dos Caçadores e a Fandanguita, nessa tarefa de elevar aos céus da boca e não só a gastronomia típica da região. A imagem que Francisco Vieira tem da zona mais comercial de Fátima é a de uma feira, «para pior». Para o administrador da Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria, «o investimento público não pode andar toda a vida a corrigir erros privados». Ali, o desarranjo estético fez escola e as tentativas para mudar mentalidades pregam no deserto. «O próprio Santuário deixou-se ficar na sua ilha e esqueceu-se de que este espaço exterior também o condiciona.» Para já, existem 20 milhões de euros para investir na duplicação da avenida central da Cova da Iria e no acesso à nova basílica, cujo túnel será a única obra paga na totalidade pelo Santuário. Outros projectos, os tais que poderiam mudar a face de Fátima, «dependem da iniciativa privada», aparições que tardam.
Com o 13 de Maio à vista, os comerciantes vão fazendo o exercício que mais apreciam: esfregar as mãos. Um gesto repetido mais amiúde, sobretudo desde que o Santuário decidiu tentar esticar eventos e celebrações ao longo do ano, agora que importa fazer render a sazonabilidade e cativar, entre outros, o crescente interesse dos turistas de Leste, «libertados do regime materialista e ateu».
Carlos Baptista, da Associação Empresarial de Ourém, faz o que pode para disfarçar a má imagem do comércio. Já alertou, vezes sem conta, os lojistas que teimam em «pôr tudo ao molho e fé em Deus», nos passeios. Mas a julgar pela amostra, santos da casa não fazem milagres.
O que, verdadeiramente, preocupa quem tem um ramo de negócio na zona mais comercial de Fátima é a mendicidade. Ou, como diz Albino Frazão, 68 anos, dono de uma agência de viagens, «essas autênticas empresas de pedintes que para aí andam». Em assembleia de freguesia, ficou registado em acta o seu protesto contra «o abuso de menores». Mas ele não quis ser tão alarmista. Referia-se, apenas, «a essas crianças ciganas obrigadas a pedinchar». Albino diz que Fátima é, ao fim-de-semana, um corrupio de indigentes, oportunistas e criminosos, vindos de Lisboa e Porto, embora a chegada da GNR tenha sido «dissuasora». A PSP não se conforma: «Esta é uma cidade especial, já tínhamos o esquema montado. Com a nossa saída, a criminalidade vai aumentar», avisa Rui Soares, da força policial apeada. Uma coisa é certa: Albino Frazão vê a sua vida andar para trás se não se tomarem medidas drásticas. «Qualquer dia vamos ter de pagar para termos a nossa terra limpa», crê, pouco disposto a partilhar nichos de mercado com misérias, agora que se vive o apogeu de Fátima, em matéria de fé, devoção e companhia limitada. «Não somos vendilhões do templo, somos servidores do templo. Os peregrinos buscam satisfação espiritual, mas trazem o corpo que tem fome e desejos. Nós estamos cá para satisfazê-los.» António Reis, 72 anos, não diria melhor. Mas, para o proprietário de uma das barraquinhas alugadas pelo Santuário, o ano do euro é que foi mesmo o ano... de ouro. «As pessoas faziam mal as contas e ganhou-se muito dinheiro», recorda, com um sorriso nos lábios. Se quisesse fazer fortuna, o arquitecto António Ferreira conhecia a receita: tinha vendido uma data de lojas para santos, no Espaço Fatimae. «Antes de chegar ao telhado, estava rico.» Mesmo contra invejas, ameaças e desconfianças, preferiu abrir a porta do centro comercial, do qual é gestor, a outras áreas de negócio e actividades culturais e artísticas gratuitas, da dança aos coros, passando por exposições, concertos e lançamentos de livros. «Se o tema não for muito político nem daqueles abaixo da cintura, sei que passa», frisa. A população de Fátima, porém, não adere, «são mais os de fora». Ele tem paciência: «Um camponês não semeia hoje para colher amanhã. Tem de tratar bem a terra, regá-la. Mudar as mentalidades é trabalho para uma geração.»
A quem o diz!, atiraria, se o ouvisse, Andreia Pires, 30 anos, professora de Expressão Dramática e coordenadora do clube de teatro do Centro de Estudos de Fátima. Do que ela se foi lembrar! Numa terra em que a pressão religiosa «se faz sentir», Andreia quis ver até onde a arte e a cultura podem conviver com a geografia social mais conservadora. Vai daí, encenou com os seus alunos, dos 14 aos 18 anos, a peça Nunca Nada de Ninguém, de Luísa Costa Gomes. Temas? Aborto, a sexualidade da mulher, outros valores. «Os jovens foram os primeiros a questionar-se, mas depois ficaram fascinados com a possibilidade de dar a volta ao texto.» A peça foi levada à cena em Ourém. Agora, vem aí a prova de fogo, em Fátima: «Sei o que vai acontecer. A comunidade vai ver, mas reservar a opinião para si.» Com os alunos, ela espera ir mais além: «Quero que tenham sensibilidade para a arte, que pensem pela própria cabeça e alarguem horizontes. Ensiná-los a não serem zombies e amorfos, atirados em massa para o futebol, as novelas e coisas assim.» Ainda haverá milagres em Fátima?
Em Puerto de la Cruz, Tenerife (Canárias), terá lugar o II Salón Internacional del Libro Africano (SILA 2010) e VIII Encontro de Editores nas Canárias.
A propósito dos encontros, que ocorrerão entre 22 de 26 de Setembro, pode ler-se no site:
Cinco días de Libro
Durante cinco días, Tenerife brindará un espacio a todos los agentes implicados en la vida del libro.
Editores, traductores, escritores, gestores culturales, bibliotecarios, libreros y lectores compartirán un espacio común en el que dialogar, compartir experiencias y disfrutar de la literatura. Una programación amplia y diversa para el disfrute de profesionales y aficionados a la lectura.
Já está na composição tipográfica o próximo livro infantil de João Pedro Mésseder. O título é O Conto da Travessa das Musas e é ilustrado por Manuela São Simão. Iniciou-se assim a contagem decrescente para a apresentação pública de um livro que vai dar muito que falar. Vamos dando notícias.