Alfabeto Adiado, de José Ricardo Nunes é uma incursão do poeta e do ensaísta por outras águas.
José Ricardo Nunes publicou na Deriva, Apócrifo (2005) e Versos Olímpicos (2009).
Alfabeto Adiado será apresentado no dia 25 de Junho no Centro Cultural das Caldas da Rainha.
Fica aqui o início:
A fractura não me separara, não me erguera ainda nos ossos quebradiços para repetir um ritmo alheio, a entoação difusa que já existia antes de ser criadaPara as dúvidas genológicas, fica o conselho de Irene Lisboa: "Ao que vos parecer versos chamai verso e ao resto chamai prosa" .
Não era ainda eu, em 63, essa curta palavra, desprezível, que deita abaixo as árvores e depois separa os ramos do tronco e sacrifica as folhas e verga florestas inteiras pelo puro prazer de deitar à terra nomes que não lhe sobrevivem
Porque se trata de uma palavra verdadeiramente estranha, eu, ofensiva, protagonista da discórdia, de um desentendimento
Eu não tinha sido ainda derrotado, em 63, pelo anónimo pulsar que desde o início contamina as ascendências
Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho usa como pretexto (acepção etimológica, antes do texto) As Cidades Invisíveis de Italo Calvino:
Relegada durante longas eras em esconderijos longínquos, desde que fora apeada do sistema das espécies agora extintas, a outra fauna voltava à luz vinda das caves da biblioteca onde se guardam os incunábulos, lançava-se em grandes saltos dos capitéis e dos algerozes, empoleirava-se nas cabeceiras dos dormentes. As esfinges, os grifos, as quimeras, os dragões, os hircocervos, as hárpias, as hidras, os unicórnios, os basiliscos retomavam a posse da sua cidade. Italo Calvino
E depois convida estas estranhas criaturas - esfinges, grifos, dragões, hircocervos, hárpias, hidras, unicórnios, basiliscos - a desfilarem num alfabeto desordenado. Mas antes deixa um aviso aos poetas...