quarta-feira, julho 26, 2006
Em Agosto...
...vamos de férias, mas não nos esqueçamos que...
O Rivoli vai ter gestão privada. Por isso, subscrevo um protesto aqui.
...a 13 de Agosto, pelas 22h, Vítor Pinto Basto estará na Feira do Livro da Póvoa de Varzim a apresentar o seu «Morto com Defeito», junto com um convidado.
«Vozes do Alfabeto» de João Pedro Mésseder é um excelente livro infantil, ilustrado por João Maio Pinto, que sairá em Setembro.
E em Setembro publicar-se-á, também, o esperado ensaio de Vicente Romano, «A Formação da Mentalidade Submissa».
E é no final deste mês que nos encontraremos na O Navio de Espelhos, em Aveiro, com Gonçalo M. Tavares e Paulo Kellerman para falar de literatura, de contos e da vida. Porque na outra data prevista esta conversa não se pôde realizar.
No princípio de Outubro, verá a luz do dia «A Cidade Líquida e Outras Texturas» de Filipa Leal, um livro de poesia que diz que as cidades têm luzes nas palavras. Belíssimo livro este.
Entretanto, se pretenderem consultar a nossa loja e encomendar livros http://www.derivaeditores.pt/ que, nesta altura de férias, poderão ser enviados com algum atraso. Boas férias para todos!
Hoje, não me apetece falar de livros
Hoje não me apetece ler ou falar, sequer, de livros.
terça-feira, julho 25, 2006
a. pedro correia. Estudos de Tons de Pele para Michael Jackson
sábado, julho 22, 2006
Antes de irmos definitivamente para férias... não esquecer:
- de lembrar às pessoas que encomendam os seus livros na nossa loja electrónica que, nesta altura, as coisas vão mais devagar e que a partir de dia 1 até dia 15 paramos mesmo.
- de agradecer (mais uma vez) às muitas dezenas de pessoas que apareceram no D. Tonho para estar com Vítor Pinto Basto e com o M.J.Marmelo para ouvir falar de o Morto com Defeito. Com o Douro ao fundo.
- de agradecer igualmente a G.W.Bush e a Israel a atenção e mobilização que levou gente à Unicepe, na Sexta-feira dia 21, para protestar contra o estado de guerra permanente a que leva esta estratégia de morte programada pelo imperialismo. Paulo Esperança, José Mário Branco e Rui Pereira orientaram um debate vivo e mostraram que, no Iraque, tal como agora em Beirute, as coisas não são bem como as Tv's e os jornais nos querem impingir. Que o mundo é feito de resistências várias...
- ...e de lembrar-vos que isso os desorienta.
sexta-feira, julho 21, 2006
Hoje, às 21:30, na Unicepe - sessão/debate sobre Falluja
Hoje na Unicepe (à Carlos Alberto, aqui no Porto), pelas 21:30, realizar-se-á uma sessão com José Mário Branco e Rui Pereira sobre o massacre de Falluja no Iraque. Aparece.
quinta-feira, julho 20, 2006
Logo, no D.Tonho, pelas 21:30, com Vítor Pinto Basto
segunda-feira, julho 17, 2006
Os livros de João Pedro Mésseder no Plano Nacional de Leitura
João Pedro Mésseder e Gémeo Luís, um autor e ilustrador que nos são especialmente queridos, estão presentes no PNL com O Aquário, para o 3º ano, editado pela Deriva. Depois aparece o Não Posso Comer sem Limão, um conto tradicional recontado pelo autor e duas antologias também por ele organizadas: a magnífica Conto Estrelas em Ti, ilustrado por João Caetano e Fiz das Pernas Coração, da Caminho.
Iremos voltar mais tarde a este assunto tentando vários depoimentos sobre o Plano Nacional Leitura, lá para Setembro/Outubro. Voltaremos, portanto.
Morto com Defeito, de Vítor Pinto Basto - O início - Cap.I
Na Galeria Tretyakov, o olhar persegue-nos. Com Pukirev, Tropinin, Perov, Kiprensky e outros mestres russos que pintaram tantos olhares com vida dentro... Mikhail Vrubel, que não conseguiu fugir à tormentosa expressão humana, demasiado humana do seu “Demónio sentado”, um jovem sentado com o seu demónio dentro, se demónio é essa tristeza imensa de não conseguir ter o brilho que dá vida aos olhos. Olhar possuído pela incompreensão e pelo abandono, reconhecíveis sentimentos que davam a imagem do seu diabo. Outros surgem, como Repin, Bryullov, Vastenov, que nos deixaram quadros com o mesmo obscuro olhar pintado em humanos que pareciam teimar em possuir o absoluto.
No casamento da bela jovem, V. Pukirev eleva a subtileza do traço para reduzir a pintura a um jogo de olhares. O noivo, um velho com idade para colocar juízo na sua imprudência, não querendo perceber que na velhice o único elixir para ludibriar a juventude é a fama e a riqueza, segura uma vela acesa e olha, desconfiado, de soslaio, para a sua bela noiva, uma jovem que aceita o casamento por imposição dos pais.
Atrás da noiva, o jovem da sua paixão, seu amor impossível, assiste a tudo de braços cruzados, assim resistindo com a impotência silenciosa de quem não tem poder, mirando com forte intensidade assassina o velho que lhe rouba a mulher só porque é rico e teima em pensar que é capaz de poder substituir a sua grande fortuna pelo carácter dos jovens atraentes. Junto a eles, o padre ortodoxo, coberto por ricos paramentos, pede a mão da noiva para lhe passar o testemunho da aliança que quer religiosamente apadrinhar. Os olhos inquisidores do pai da noiva miram, como polícia corrompido e por isso vigilante, o jovem sem fortuna que vê a sua amada passar para as mãos de um velho que facilmente poderia espezinhar com a força dos seus braços.
Atrás do velho noivo desconfiado, um rosto vigia com raiva e inadequada dor. Um olhar gigante de uma mãe que mira a nuca careca do seu vetusto futuro genro, olhar tão grande que talvez olhe para lado nenhum ou para algum lugar em forma de trevas. Talvez por saber que ali se repete o desmesurado infortúnio da condição feminina. Mulher que também terá sido obrigada a calar o amor por outro e a seguir o desejo imperioso do pai, que noutros tempos tão iguais a casou com quem quis.
Nesse fabuloso quadro de olhares, V. Pukirev conta uma história do seu tempo. Comprova de forma sublime como a pintura também serve para descobrir ou realçar as imperfeições e os contrastes da vida. Dando-lhes rigor, harmonia e beleza, mesmo que a história que querem contar seja tão triste e infecunda. Fazendo com que o somatório dessas histórias com a forma de obras de arte liguem a História da Arte à História de um país.
Foi isso que Carlos Palhal viu mas não deu grande importância quando visitou, pela primeira vez, a galeria Tretyakov, com Irina. Foi isso que passou a ver, com mais importância, sempre que ia a Moscovo; umas vezes, à procura de Irina; noutras, para ter a memória mais perto dos lugares e dos momentos que passou com aquela bela eslava; e, noutras, simplesmente para saborear uma cidade com mil encantos. Irina que estava a seu lado quando olhou para o famoso retrato pintado por Vasily Perov. O Mundo desconhece-o mas imortalizou quem ele pintou.
Apresentação de Morto com Defeito de Vítor Pinto Basto, dia 20 de Julho, às 21:30, no D. Tonho. Presença de M.J.Marmelo.
Saiu hoje da tipografia o Morto com Defeito, de Vítor Pinto Basto. Aqui está a versão última do Gémeo Luís que irá preencher os escaparates das livrarias, nos tempos mais próximos. Mas entretanto preparem-se que na próxima quinta-feira, dia 20 de Julho, haverá um lançamento com a presença do autor e de M. J. Marmelo que irão falar do livro, no D. Tonho, à Ribeira, lá para as 21:30h. Vão ser todos convidados.
Da Contracapa:
«Existe, neste livro de Vítor Pinto Basto, uma estranha deriva que nos leva facilmente do Porto, revisto nas nossas memórias, para a Rússia oligárquica dos dias de hoje. Só uma boa ficção pode ligar naturalmente Pusckin a Camões, faz sentar esse anti-herói de nome Carlos Palhal, a personagem principal, no Bar Surrealista de Moscovo, ou obriga a perscrutar o olhar de Irina pelas enormes telas de Vasily Perov ou tenta voar pela densidade psicológica das personagens de Dostoievski. Só uma ficção plenamente conseguida nos transporta do Portugal «moderno», esquecido de si, para a Rússia dos Czares, de um país que resistia como podia, para a União Soviética das grandes manifestações de massas, do Portugal bombista e revolucionário para a Rússia a preço de mercado.Uma obra resoluta, sem concessões, de leitura urgente para quem quer perceber de como são feitas as pessoas iguais a nós. De sentimentos caóticos e desencontrados, da solidão que pesa à alegria esfusiante, de raiva e de amor.»
quarta-feira, julho 12, 2006
Hoje a Navio de Espelhos faz três anos
Mas aniversário e festa de arromba à parte, hoje a partir da noite, com um beijo à Sónia cá da malta do Puerto, não nos devemos esquecer que a 22 de Julho, sábado, lá para as 21:30, vamos estar neste espaço calmo e jazzístico, se possível com algo refrescante entre mãos (para além de belos livros), com o Gonçalo M. Tavares e com o Paulo Kellerman a falar de literatura e dos dois e de cada um. Valerá a pena.
Faluja: o Massacre Escondido, sexta, dia 21 às 21:30, na Unicepe - Porto. Com José Mário Branco e Rui Pereira
Noite na Terra é uma exposição colectiva na Pedro Serrenho. Inaugura a 15 de Julho
Noite na terra?? A culpa foi do Jim Jarmush que realizou o filme com o mesmo nome e não se importou (esperemos) que uns ilustradores portugueses pegassem na deixa. Apareçam, 15 h dia 15!!Localização - ver aqui (Rua dos Navegantes Nº43 - A).
Nova tradução galega de Ulisses de Joyce por Xavier Queipo
Primeiro Ano da Livro do Dia
segunda-feira, julho 10, 2006
Teresa Moure e Diego Ameixeiras - a polémica na Galiza
sexta-feira, julho 07, 2006
A Cidade Líquida, por Filipa Leal. A editar em Outubro.
A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida?
(Eu tentava sustentar-me como um barco.)
As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis na soleira das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhe os lábios. Não viam. Amavam depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava, inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo. Naufragava-o. Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-la, a olhar-se. Morriam de vaidade e de falta de ar. Os que eram arrastados agarravam-se ao que restava do interior das casas. Sentiam-se culpados. Temiam o castigo. Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade. Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.
(Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)
In A Cidade Líquida, de Filipa Leal. A editar em Outubro, pela Deriva.
A Segunda Vida de Djon de Nha Bia, de Nuno Rebocho, vai ser editado pela Deriva
Um livro de ficção de registo africano de uma ironia e humor incomparáveis. O Nuno vai editar na Deriva. Sem querer levantar totalmente o véu, aqui vos apresentamos o início de uma obra que vai mexer connosco.
«1. Como Djon acordou morto e foi despercebido pela tabanka
Quando a carapinha emergiu do caixão, Djon percebeu que estava morto. Fora da sala era a rua e de lá vinha a batida da tabanka, oca e ondeada, e uma voz narradora. O cheiro das velas que mordiam o escuro escondia a presença do grogue agarrado pelos demónios estonteados, cada um mais amarfanhado pelo sono profundo a empurrar as horas pela noite adentro. Estranhou Djon que a morte trouxesse tanto calor e alargou a gravata apertada no pescoço, a gravata que em vida dispensara. E sentou-se. Então espreitou em volta para descobrir nas sombras bailantes as presenças que o velavam. Eram três.
Bitxu, albino, o dos sete machins, contados em cada corpo que rachara em Achada Boi e no Mangal e em Ponta Purga, por onde saias de mulheres o rabindaram a vender amor tão grande como o seu nariz e tão dilatado como os olhos que lhe descabiam na cara. Por isso dispensava amigos abusantes da branquidão dele, que preto tão alvo era mão do diabo, assim diziam. E tchutchinha escapulia dos seus ardores, que preferia o negro-negro ou o mulato ao pele de ferida que ele era, tão sem graça. Em consequência, Bitxu matara e matara, terror da montanha parida naquela Ilha Desbarbada, montanha para onde escarpava a cada golpe do machim dos terrores e de onde regressava quando a memória cicatrizava, a visitar velórios que lhe cumpriam a sede e o abrigo. (...)»
Início do Cap.I de A Segunda Vida de Djon de Nha Bia, de Nuno Rebocho.
quarta-feira, julho 05, 2006
Manuel Jorge Marmelo dez anos depois, por Vítor Pinto Basto
Estas palavras de real dimensão ontológica aparecem no capítulo “Oito” da segunda edição, revista, da novela “O homem que julgou morrer de amor” (com que a editora “Campo das Letras” abriu a sua colecção “Campo de Estreia”, em 1996), de um dos mais profícuos escritores portugueses que a escreveu aos 25 anos e agora a reedita, numa versão totalmente revista e aumentada.
O autor chama-se Manuel Jorge Marmelo (37 anos), assina como Jorge Marmelo no jornal “Público”, ao serviço do qual nos conhecemos e ao serviço do qual me fui apercebendo de como é de trato polido, educado e de arguta sobriedade.
De Marmelo se pode dizer que fez (quase) tudo cedo. Cedo arranjou a profissão de jornalista (aos 18 anos), cedo casou, cedo teve filhos, cedo escreveu um livro, cedo teve êxito (o seu “As mulheres deviam vir com livro de instruções” vai na nona edição), isto é: cedo teve apontados sobre si os holofotes do êxito - que arrasta quase sempre a maledicência de quem não compreende que sejam outros a tê-lo.
“Quando se publica um livro e não se tem ainda 25 anos, como me aconteceu, o mais comum é que a obra saia mal acabada e cheia de defeitos, repleta de arestas e incongruências a que um excessivo entusiasmo não permitiu dar a atenção devida”, conclui Manuel Jorge Marmelo na introdução desta segunda edição que encontrei, hoje, na minha secretária, à espera da redescoberta.
Lembro o dia em que Mário Cláudio apresentou “O homem que julgou morrer de amor/O casal virtual”, na “Livraria Lello”. Recordo o entusiasmo que eu sentia por saber que, dias depois, o José Viale Moutinho iria ser apresentar o meu “O Segredo de Ana Caio”, o segundo volume da mesma colecção, “Campo de Estreia”.
Dez anos se passaram e dez anos depois de demasiados desencontros espero reencontrar Manuel Jorge Marmelo noutro momento tão importante como esses que jamais esqueceremos.
Vítor Pinto Basto