Ainda sobre «O Contrário de Nada» de Tess Gunty e o pensamento woke: é necessário alguma cautela na esquerda antes de criticarem a expressão, que aliás não me entusiasma por aí além. Prefiro «liberdade» ou, se quiserem «direitos», «novas subjectividades», «superação do Iluminismo», porque é disso mesmo que se trata. Arranjar, à pressa, desculpas para a condição mais que recuada da esquerda, principalmente na sua frente eleitoral, devido à adopção do chamado «wokismo» é dar à direita e à extrema-direita (estranhamente ou talvez não, aqui também estão juntas) a legitimidade para continuarem a sua demanda para o pior da Idade Média. Experimentem focar-se no «pensamento» anti-woke e deparar-se-ão com um cortejo de horrores que nem a Margaret Atwood era capaz de imaginar. Está lá tudo: a mulher como reprodutora sem quaisquer direitos, a proibição do aborto, o fim da igualdade de género e proibição dos movimentos LGBTI+, a culpabilização das revoluções passadas, a prisão para quem não segue o pensamento único e o aumento exponencial do tempo de prisão de penas por crimes até agora considerados menores, a proibição da divulgação de qualquer ideia comunista ou anarquista, a regulação de uma só moral social, a publicação e divulgação mediática das teses revisionistas da História, o liberalismo puro e duro à Milei e à Trump, a culpabilização da pobreza, o desrespeito total pelos mais elementares direitos das pessoas, o fim da natureza tal como a vemos hoje, o retorno ao extractivismo selvagem...querem que eu continue?
terça-feira, fevereiro 04, 2025
A Esquerda e o woke
Porque falei no início em Tess Gunty? Porque ela seria considerada woke. Provavelmente, junto com milhões de jovens americanos que ainda se consideram livres (na Europa, o sentimento de perda ainda vai demorar um pouco mais). E escritoras e escritores, músicas e músicos, actores e actrizes, que pensam como ela e que viver a liberdade é como respirar. Se lermos esta gente jovem, percebem que ser woke não é forçado, é naturalmente o seu pensamento quotidiano, de todos os dias, a todas horas e minutos.
Se a esquerda não percebe isto, se tiver medo dos «extremismos», se se sentir mal ou envergonhada com alguns epítetos que a direita lhe dirige (sempre lhe dirigiu o pior dos nomes desde 1789!) e principalmente se tentar apagar o seu passado, então merece nada.
In Facebook, 3 de Fevereiro de 2025
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