sábado, dezembro 31, 2022

100 anos da URSS


Não se compara os 100 anos da URSS com os 100 da revolução de 1917. A primeira não me entusiasma por aí além. Em 1922 a revolução era ainda uma festa. A burguesia perdeu a guerra civil e o apoio ocidental foi um fracasso. Até perto de 1932 a imprensa de esquerda era livre e plural. A arte revolucionária florescia. Embora com Cronstad e Mackno, que manchou para sempre os primeiros anos, a liberdade vivia-se na rua, nas fábricas, nos campos. Os sovietes eram livres e autónomos. Ligo a URSS à burocracia nascente e cada vez mais forte desde a doença e morte de Lenine e o exílio de Trotsky e a consequente subida ao poder de Estaline que, por mero poder de adivinhação e forte intuição política achou que a grande maioria do comité central dos bolcheviques iria morrer primeiro que ele, aquilo começou a descambar. Até 1953 e nos anos seguintes até à estagnação foram os planos quinquenais e a grande industrialização que marcaram o país e os grandes projetos agro-industriais que vingaram. Essa é a imagem que me ficou da URSS. Há mais imagens, mas fico-me por aqui. Estaline é o 18 do Brumário da Revolução libertária e conselhista, soviética, de 1917. Kruchev enterrou-a definitivamente ao querer competir com o capitalismo. Brejnev era velho desde a adolescência. Triste fim de uma Utopia generosa.

quinta-feira, dezembro 22, 2022

«Mortos ou Coisa Melhor», de Violeta Hernando

 

«Mortos ou Coisa Melhor», foi escrito por uma miúda de 14 anos em 1996. A Antígona publicou-o então do castelhano e foi traduzido por Júlio Henriques. Hoje, a miúda terá 40 anos e não sei mais nada dela, a não ser que trabalha numa editora, ilustra e desenha gerindo cursos online. Continua bonita aos 40, asseguro-vos.
A leitura do livro abalou-me bastante. Na altura encontrava-me como ainda jovem professor em Lisboa, na Margem Sul e no distrito de Setúbal e foi uma bomba lê-lo, como já disse atrás. O cavaquismo tinha acabado, seguindo-se o pântano de Guterres e a revolta estudantil no secundário mantinha-se, digamos que em proporção à falta de perspetivas e expetativas de vida. A saída mais comum da pasmaceira da vida nos subúrbios dos meus alunos/as era o rock e as drogas. A cerveja igualmente. Às segundas-feiras entravam nas salas brancos, com ressacas monumentais e não era raro pedirem-me para sair da sala à pressa para se meterem nas casas de banho a vomitar. O livro de Violeta Hernando saiu nessa altura e li-o de uma assentada. Creio tê-lo compreendido em cada linha, permanecendo focado em muitos dos meus alunos e alunas. Querendo saber que cultura pós-punk e pós-new wave, que eu tinha passado com entusiasmo mesmo acreditando no seu «no future», era aquela. «Mortos ou Coisa Melhor» deu-me essa perspetiva, embora Violeta Hernando, com uma mestria literária surpreendente e precoce, tivesse levado a sua experiência em Barcelona para o palco dos Estados Unidos. O vazio demonstrado aos que a liam, as drogas, mesmo as mais duras, os ácidos, as bebidas brancas, os roubos e as armas, a violência latente em cada linha de escrita era por si própria atirada à nossa cara. Com uma altivez impressionante e com um conhecimento literário admirável apontava-nos o dedo como sendo nós os culpados de um tédio infinito, mesmo que o tivéssemos sentido como ela. 
Admiradora de Courtney Love, Iggy Pop e de Sam Shepard termina o seu livro com o «The End» dos Doors. Antes disso, oferece-nos o poema de Cristina Rosenvige:

Julga este idiota que pode tratar-me por boneca,
sou capaz de jogar pinguepongue na sua cabeça oca,
vou subir à roda grande para dizer adeus,
antes de nos vermos mortos ou coisa melhor
antes de ambos nos vermos mortos ou coisa melhor,
antes de ambos nos vermos mortos...
ou coisa melhor...

Por uma questão de respeito para com uma turma em que debatemos o livro, após um amigo de um deles ter morrido a fazer mosh do 1º balcão para a plateia num concerto de uma banda heavy metal, não vos direi a reação deles. Mas sei que o livro andou de mão em mão. 

Agora bem perto da reforma, olho para trás e vejo-os, a essas turmas, e provavelmente, neste momento, com os seus 40 anos, a viverem num outro tédio, num outro espelho, talvez tatuados/as com as suas lembranças na pele. Alguns não sei se sobreviveram. Esses são os que nos fazem lembrar que não ultrapassámos tédio nenhum, muito menos revolucionário. Não tenho tatuagens visíveis no corpo. Nunca as fiz, o que não quer dizer que não as tenha comigo.

«Cães de Caça», de Jorn Lier Horst


É evidente que um livro, uma história policial, que é contada com alguma competência por um ex-polícia ao serviço da instituição norueguesa durante 20 anos tem de dar resultado, sabendo igualmente que os policiais nórdicos têm uma aceitação pública que se tem mantido estável fruto de uma política de marketing bem sucedida e vendendo-se com regularidade séries de TV relativamente em conta até para a nossa televisão. Neste caso, a série em causa foi «Wisting» (nome da personagem principal) que deu na cadeia de cabo AMC. 
Mas no caso de «cães de caça» de Jorn Lier Horst a coisa torna-se verosímil pela experiência profissional do autor o que lhe dá credibilidade. Só não percebo a teimosia vikingue, quase uma caso de estudo, por que razão existem sempre pessoas, geralmente mulheres, a desaparecerem e a surgirem em caves, presas e acorrentadas. Ou é uma coisa que Freud terá explicado em detalhe, ou é uma mania local que veio desde Stieg Larsson, esse sim, um jornalista que conhecia os meandros da polícia e da política sueca e um escritor fora de série. Horst encontra-se a meio caminho, mas ainda lhe falta alguma coisa para atingir a mestria daquele. 

quarta-feira, dezembro 14, 2022

«Floresta é o nome do Mundo», de Ursula K. Le Guin

 

Foto de Dana Gluckestein para a New Yorker
«World for World is Forest», de Ursula K. Le Guin escrito e publicado em 1972, é como se estivéssemos a ver as marchas pacifistas contra a guerra do Vietname, ouvir Joan Baez ou Bob Dylan, ou lembrarmo-nos o que nós fizemos aqui para acabar com os massacres de vietnamitas perpetrados pelos USA. Não que Ursula Le Guin tenha citado neste livro, e por uma única vez, o Vietname ou a guerra, mas ele lá está, presente num planeta longínquo a 27 anos de uma Terra ecologicamente exaurida, sem florestas, água e quase desértica. O planeta Athshe, rico em madeira e floresta servia para ser colonizado e escravizar um povo pacífico, os critures, que, fruto de violências constantes por parte dos humanos, é obrigado a defender-se para sobreviver através de Selver um chefe carismático que se apodera de bases e das armas dos militares e responde violentamente à escravatura e ao genocídio. Mesmo contra o «gel incendiário» (uma referência implícita ao napalm), os hélis lança-chamas e cortando a comunicação direta com a Terra. 

Ursula Le Guin não destrinça o comportamento humano num futuro longínquo do homem medieval, da globalização renascentista ou da moderna, contemporânea. Os sinais aí estão: escravatura, violência sobre seres considerados sub-humanos, genocídio, racismo mesmo entre os colonos humanos, chauvinismo, violações de mulheres, xenofobia e patriarcado. Ao contrário da condição matriarcal do povo de Athshe. Aqui a autora não esconde o seu pessimismo da condição humana, embora uma personagem sobressaia na construção de pontes pacíficas com as populações das florestas: Lyubov, um antropólogo. Não deixa de ser sintomático que esteja na antropologia, a chave do entendimento dos costumes e hábitos que são estranhos a soldados cujo objetivo é o domínio pelo domínio, nem que lhes custe uma vida miserável num planeta distante. É Lyubov que os compreende e que tem a coragem de mudar de campo. Creio ser este o ponto crucial do livro de Ursula Le Guin. Por vezes é necessário mudar de campo para podermos viver dignamente. Ou morrer, como acontece com Lyubov.

Um livro inteligente que mereceria, tal como a autora, um pouco mais de respeito na tradução e na capa que não reproduzirei aqui. Sobre as capas da Europa-América, a única editora que se aproximou em dimensão das médias/grandes editoras da Europa, deveriam ser objeto de um estudo de caso, tão feias que são; mas quanto à tradução só vos dou um exemplo: numa única página, a 117, é repetida a expressão «pura e simplesmente» três vezes. Posso garantir-vos que não há duas páginas seguidas em todo o livro que não apareça pelo menos uma vez!

Isso fez-me afastar de Ursula K. Le Guin? Nunca. Não seria possível. É uma aurora extraordinária. Ainda bem que a Relógio D'Água tomou conta do assunto. Tal como os livros de Philip S. Dick, Robert Heilein ou Azimov que agora estarão em boas mãos.


segunda-feira, dezembro 12, 2022

«Cabaret Vian» recital da Escola da Noite nos seus 30 anos

 

Já 30 anos! Parece que foi ontem. A Escola da Noite tem cumprido o seu papel e comemorar este número redondo com Boris Vian, parece-nos muito bem. Noite bem passada com a disposição dos espetadores na plateia em mesas de quatro lugares, que iam variando conforme o número de amigos. Um ambiente intimista e de cumplicidade com o Teatro. Os atores em dois, três palcos à nossa volta. Uma orquestra e canções de cabaret com muitos trechos de Vian a serem recitados e cantados já que não valerá a pena aqui falar do seu evidente carácter de criador multifacetado e crítico, irónico. António Augusto Barros criador do guião e da direção cénica, lembra-nos isso na folha de sala que circulou pelo espaço. A direção musical foi de Jorri e Luís Pedro Madeira.

Mais surrealista do que existencialista - foi ele que criou o nome sarcástico ao papa desta corrente de pensamento, de Jean-Saul Partre e colaborou com o Colégio de Patafísica de Alfred Jarry - teve o condão de ser um homem das caves noturnas parisienses do pós-guerra, tocando jazz no seu trompete e não deixando a tradicional canção francesa com poemas da sua autoria. Pelo espaço do Teatro da Cerca, A Escola da Noite, pela mão de António Augusto Barros levou-nos a trechos de «A Espuma dos Dias», «As Formigas», «O Arranca Corações» e a variadas canções em que sobressai o libelo antimilitarista «Le Déserteur». 

Uma noite bem passada. Venham mais trinta.

«Betão - Arma de construção maciça do capitalismo», Anselm Jappe


Nada como numa época levezinha, de natal estendido, mergulhar numa leitura como «Betão» do alemão Anselm Jappe, fundador com Robert Kurz e Norbert Trenkle, entre outros, do Grupo Krisis que se destacou pela superação teórica dos situacionistas e por um novo impulso, às teorias marxistas do valor, do trabalho como alienação e ao significado do fetichismo da mercadoria.

Anselm Jappe não separa o betão, mais concretamente o betão armado, do capitalismo. A partir do desastre da ponte Morandi de Génova em 2018, que matou 49 pessoas, produz uma síntese teórica baseada na ligação íntima deste material extrativo com a noção de plasticidade do capitalismo moldado a tudo o que existe no planeta, deixando as consequências do lucro desmedido para as próximas gerações humanas, se as houver. Melhor metáfora não há para o betão: moldável, líquido, omnipresente, e supostamente igualitário. Tal como o capitalismo.

Inicialmente, ainda no século XIX, o betão foi visto como uma libertação para os oprimidos ao ponto de o ligarem ao comunismo. Em parte com razão: o taylorismo (de que Lenine e Trotsky conheciam bem os princípios) e a emulação socialista da época estalinista aplicava-se perfeitamente ao betão. O ritmo fordista de trabalho na passadeira rolante, repetitivo, estupidificante, inumano porque separador do outro, disciplinador porque facilmente vigiado, era a outra face da aplicação do betão armado nas ruas e nas casas onde precisava de ruas largas e retilíneas onde se pudessem deslocar rapidamente um outro símbolo nascente do capital: o automóvel. O betão aplicava-se na íntegra aos pressupostos falsamente igualitários da economia nascente dos «30 gloriosos» pós-guerra. Ainda antes dessa época áurea do betão para todos, para ricos ou pobres, os funcionalistas da Bauhaus com Le Corbusier à cabeça legitimavam o betão e o vidro (e muito o plástico para o design) como os materiais do futuro, onde quer que fosse. Na África quente e tropical, como na Sibéria ou países nórdicos. A climatização forçada viria depois, com as consequências que se sabem! Barato, porque feito em cimento, areia, saibro, cacos e muita água, nem por isso criou verdadeiros atentados ecológicos obrigando a verdadeiras máfias de extração de areia e não só em Nápoles da Camorra. Onde houvesse areia: nos rios, lagos, lagoas, ribeiros... ao ponto de terem desaparecido na Indonésia três ilhas, ou dando origem a desastres arrasadores como o do Katrina, no Louisiana (perto de 20 mil mortos) cujo betão não aguentou a pressão das águas, ou ainda no Japão utilizado como travão a tsunamis, embora sem sucesso; aliás, com a possibilidade de aumentarem os muros à beira-mar para 12 metros de altura deixando as populações impossibilitadas de o ver!

Sobre a nocividade do betão armado pode enumerar-se quatro fatores principais que não se esgotam neste rol: a nocividade do seu pó para a saúde humana, tal como a obrigatoriedade quase absoluta de climatização interior, as consequências da extração maciça de areia e cascalho sobre os meios naturais e habitantes, o consumo exorbitante de energia que provoca e as emissões de CO2 no momento da «cozedura» do betão e a esterilização dos solos. Mas existe também a obsolescência (alma do lucro e do valor da mercadoria) que o betão produz pela sua pouca durabilidade. 

Portanto o betão armado é uma falácia que não aguenta três gerações sem graves problemas de sustentação, qualquer que seja a sua largura ou técnicas de reforço, não impede que o ferro e aço interiores ao concreto se oxide, inchando e rachando a massa de betão que os envolvem. É uma técnica efémera, líquida, que permite o sonho futurista do arquiteto italiano Sant'Elia, amigo de Marinetti e Mussolini que afirmava que uma cidade deveria ser feita com materiais que não resistissem a uma geração. Por muito que nos admiremos Le Corbusier (que colaborou com Pétain, mas que estranhamente foi abraçado pela esquerda no pós-guerra!), De Stijl ou o mais novato Rem Koolas (que o conhecemos bem na incómoda Casa da Música, no Porto) seguiram os passos desta arquitetura líquida em betão armado. Fritz Lang e Ridley Scott mostraram cidades do futuro nos seus filmes baseados nesta teoria em que a rua, simplesmente desaparece ou torna-se intransitável para as pessoas apertadas sobre si próprias com dificuldade de locomoção livre. Talvez marchando ordenadamente...

Foi um passo rápido para o chamado «brutalismo», mas já lá vamos. Fiquemo-nos agora pela ordem de aproximação fascista que tem o funcionalismo como base e nas palavras de Roger-Pol Droit, em 2015, no seu ensaio «O Funcionalismo hoje» e citado no livro por Anselm Jappe: «O seu [de Corbusier, de 1937] objetivo maior: ''Criar uma raça sólida e bela, sã''. A sua obsessão: ''O apuramento das grandes cidades'' a edificação de uma sociedade ordenada, viril, higiénica, racional.'' Os seus conselhos: ''Classifiquem-se as populações urbanas, triem-se, repilam-se os que são inúteis na cidade''. (...) O culto do ângulo reto, o ódio às curvas, à desordem, a rejeição dos sedimentos do acaso e da história, o gosto exacerbado pelo fabrico em série e a estandardização constituem, no entanto, ideologia posta em forma. a cidade deve tornar-se uma máquina de produzir um homem novo, condicionado, controlado 24 horas por dia.» (pág.42). O betão é essencial a esta ideologia totalitária funcionalista de Le Corbusier e seus acólitos e a casa torna-se uma jaula acessível a todos, daí o seu carácter supostamente igualitário porque os dominantes geralmente saem desta selva.

Vamos agora ao «brutalismo». Este «estilo» que não arte porque a liquidez do betão permite todas as possibilidades visuais, Daí, o próprio Anselm Jappe ter compreendido tarde que o termo não tem a carga pejorativa que lhe dão os adversários, mas sim de betão que se chama mesmo de «brutal» e que se caracteriza por estruturas em cubo nas quais o betão surge nu e sem decoração. Assim, edifícios públicos, universidades, centros culturais, teatros, tornaram-se a imagem deste betão «brutal», literalmente concreto (palavra com dois sentidos no português do Brasil e no francês). Por muito que nos sintamos mal dentro dos edifícios e já nem falo no olhar de «fora», o pós-modernismo impôs este estilo como forma de ser efémero que remonta aos futuristas dos anos 20. A «Cidade Líquida» que nos desmonta Baumann e tem dado origem a imensas confusões de conceito. Mas também nos países socialistas o betão teve uma aceitação plena principalmente a partir de Krutchev, dando origem à expressão metafórica de «Concrete? It's Communist!». Mesmo as ruínas em betão, e há imensas pelo mundo fora sem que se saiba muito bem como o reciclar, já que os custos são maiores do que a extração e fabrico em moldes, são uma ode ao horror moderno o que não acontece com as ruínas de edifícios ou estruturas feitos com materiais locais. Mas esse horror cria uma espécie de alegria de fotógrafos que se dedicam sobretudo a fotografar edifícios brutalistas inacabados ou em ruínas e encontramos na Internet páginas inteiras de «mostras» e exposições de casas que ninguém quer, sequer, e por impossibilidade técnica de as reconstruir. 

De qualquer forma, devemos aos letristas e aos situacionistas, já na década de 50 e inícios de 60, a denúncia do funcionalismo de Corbusier e do brutalismo, criando utopias concretas pelo jogo da deriva e da desordem poética, na possibilidade de vida e do jogo permanente entre os seus habitantes. Para isso, seria preciso mudar de vida. Toda uma epifania. Cada vez mais possível porque hoje a construção de cidades obedece também, e segundo o autor, «ao ódio, pertencente à modernidade, a tudo o que é incontrolável, orgânico, labiríntico, fragmentado, imprevisível. (pág.123)»

Editora, Antígona
Tradutor: Miguel Serras Pereira

quarta-feira, dezembro 07, 2022

«Objetos Cortantes» de Gillian Flynn

 


É o que eu digo: o policial tem mudado a olhos vistos. Uma autora nova é uma nova autora, Gillian Flynn, visto que é o seu primeiro livro; constrói uma personagem, jornalista, cujos pais que ela adotou são o seu editor e a mulher, que se corta ela própria compulsivamente por todo o corpo, com graves depressões, bebe bourbon à farta, droga-se com tudo o que encontra e que a irmã mais nova de 13 anos lhe arranja (e que drogas!), uma mãe que a odeia mais um padrasto ausente, faz sexo um pouco ao calhas com o que vai encontrando e para compor isto tudo, numa cidadezinha do Missouri, nos confins do sul dos EUA onde tudo não é o que parece e a mãe é dona e senhora daquilo tudo porque tem uma fábrica de processamento de porcos para abate (?!). A trama até nos agarra, mas para a meio do livro já se desconfia seriamente que a mãe é a assassina de uma outra filha, irmã da personagem que estamos a descrever, através de uma síndrome que parece crescer estatisticamente, em que as mães para provarem que são boas e sofredoras ativam doenças sistemáticas aos filhos para surgirem como extremosas. Até que os filhos morrem! Bonito. Não sabia desta síndrome dos tempos modernos, mas até já desconfio das gripes que tive quando era miúdo. Quando já estamos a prever a prisão da mãe eis que surge, rápido, a descoberta dos assassínios das duas miúdas na pequena cidade e que levou a jornalista que se corta amiúde à sua terrinha: era a irmã mais nova, a tal que lhe arranjava as drogas e festas secretas. Não há como realmente!

Bocejos - **