É o que eu digo: o policial tem mudado a olhos vistos. Uma autora nova é uma nova autora, Gillian Flynn, visto que é o seu primeiro livro; constrói uma personagem, jornalista, cujos pais que ela adotou são o seu editor e a mulher, que se corta ela própria compulsivamente por todo o corpo, com graves depressões, bebe bourbon à farta, droga-se com tudo o que encontra e que a irmã mais nova de 13 anos lhe arranja (e que drogas!), uma mãe que a odeia mais um padrasto ausente, faz sexo um pouco ao calhas com o que vai encontrando e para compor isto tudo, numa cidadezinha do Missouri, nos confins do sul dos EUA onde tudo não é o que parece e a mãe é dona e senhora daquilo tudo porque tem uma fábrica de processamento de porcos para abate (?!). A trama até nos agarra, mas para a meio do livro já se desconfia seriamente que a mãe é a assassina de uma outra filha, irmã da personagem que estamos a descrever, através de uma síndrome que parece crescer estatisticamente, em que as mães para provarem que são boas e sofredoras ativam doenças sistemáticas aos filhos para surgirem como extremosas. Até que os filhos morrem! Bonito. Não sabia desta síndrome dos tempos modernos, mas até já desconfio das gripes que tive quando era miúdo. Quando já estamos a prever a prisão da mãe eis que surge, rápido, a descoberta dos assassínios das duas miúdas na pequena cidade e que levou a jornalista que se corta amiúde à sua terrinha: era a irmã mais nova, a tal que lhe arranjava as drogas e festas secretas. Não há como realmente!
Bocejos - **