Biographia Literaria
Samuel Taylor Coleridge
Deriva
Tradução: Jorge Bastos da Silva
128 págs.
14 €
Ensaio
2012
5 estrelas
Para Eliot, que não era pródigo no elogio, Coleridge era “talvez o maior dos críticos ingleses, e em certo sentido o último” – juízo
que diz bem da importância deste homem dispersivo e genialmente vário.
“Biographia Literaria” é destilação das suas digressões ensaísticas sempre
apontadas à maior diversidade de origens, literaturas e profícuos cruzamentos.
Entre eles, o menor não seria a filosofia, como quando, nestas páginas, vê na
verdade “um ventríloquo divino”, ou quando, algures, ecoa Schelling ao conceber
a beleza como “estenografia hieroglífica da verdade”. Assistemático e sinuoso
na estrutura e nos modos de consecução, este é um cume da crítica romântica e
um passo determinante na história geral do pensamento crítico. S.T.C. elege o
modo narrativo “para dar continuidade à obra”, fundindo, de forma superiormente
pessoal, rememoração, idiossincrasia – “Se disserem que isto é Idealismo,
lembre-se que é somente idealismo na medida em que é (…) o realismo mais
verdadeiro” – e a mais persistente reflexão sobre o acto poético – “os dois
pontos cardeais da poesia, o poder de excitar a simpatia do leitor por meio de
uma adesão fiel à verdade da natureza e o poder de conferir o interesse da
novidade através do colorido modificador que é próprio da imaginação”. Por
outro lado, opõe-se aos postulados de Wordsworth, nomeadamente onde este
defendia a naturalidade de dicção e o mimetismo da fala “natural”, que
Coleridge contesta, advogando um estatuto universal de toda a língua e
defendendo que a “melhor parte da linguagem humana (…) deriva da reflexão sobre
os actos da própria mente”. O presente volume disponibiliza cerca de “um quinto
da extensão total” de uma obra pela primeira editada entre nós, que contou com
o excelente trabalho de tradução e anotação de Jorge Bastos da Silva.