domingo, março 10, 2013

Recensão (completa) de Hugo Pinto Santos, Atual/Expresso sobre Coleridge



Biographia Literaria
Samuel Taylor Coleridge
Deriva
Tradução: Jorge Bastos da Silva
128 págs.
14 €
Ensaio
2012
5 estrelas

Para Eliot, que não era pródigo no elogio, Coleridge era “talvez o maior dos críticos ingleses, e em certo sentido o último” – juízo que diz bem da importância deste homem dispersivo e genialmente vário. “Biographia Literaria” é destilação das suas digressões ensaísticas sempre apontadas à maior diversidade de origens, literaturas e profícuos cruzamentos. Entre eles, o menor não seria a filosofia, como quando, nestas páginas, vê na verdade “um ventríloquo divino”, ou quando, algures, ecoa Schelling ao conceber a beleza como “estenografia hieroglífica da verdade”. Assistemático e sinuoso na estrutura e nos modos de consecução, este é um cume da crítica romântica e um passo determinante na história geral do pensamento crítico. S.T.C. elege o modo narrativo “para dar continuidade à obra”, fundindo, de forma superiormente pessoal, rememoração, idiossincrasia – “Se disserem que isto é Idealismo, lembre-se que é somente idealismo na medida em que é (…) o realismo mais verdadeiro” – e a mais persistente reflexão sobre o acto poético – “os dois pontos cardeais da poesia, o poder de excitar a simpatia do leitor por meio de uma adesão fiel à verdade da natureza e o poder de conferir o interesse da novidade através do colorido modificador que é próprio da imaginação”. Por outro lado, opõe-se aos postulados de Wordsworth, nomeadamente onde este defendia a naturalidade de dicção e o mimetismo da fala “natural”, que Coleridge contesta, advogando um estatuto universal de toda a língua e defendendo que a “melhor parte da linguagem humana (…) deriva da reflexão sobre os actos da própria mente”. O presente volume disponibiliza cerca de “um quinto da extensão total” de uma obra pela primeira editada entre nós, que contou com o excelente trabalho de tradução e anotação de Jorge Bastos da Silva.