Gil Wolman |
Eppur si muove
Em escadas insalubres há corações que vacilam
e em quartos escondidos anoitece a escassez.
Quantos tremem pelas ruas desse frio de alma e corpo?
Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.
Fecham fábricas e obras e lojas e serviços,
homens caem, sem amparo, no chão do tempo inútil,
emudecem grandes olhos de crianças, como punhos.
Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.
Em dias mais brumosos, até mesmo nesses dias,
colhem poetas adágios e silêncios muito azuis,
mas o seu canto naufraga em águas frias e turvas
quando cai de si abaixo a cidade atordoada.
Nos ecrãs, os sicários propalando a sua moral.
Mas a cupidez que os compra não se vê, nunca se vê.
A aflição como rotina, como regra a servidão.
Pesa a bruma, dizem uns, sobre as ruínas da cidade.
Outros dizem: já se move, já se move todavia.
João Pedro Mésseder
2 de Março de 2013