Há uns anos passou, pelo Porto, nomeadamente em Serralves, uma exposição de Thomas Hirschhorn denominada Anschool que permitia experimentar o ambiente concentracionário de uma escola moderna. Serralves foi, então, com a ajuda de equipas voluntárias das Belas Artes do Porto, submergida em papel de cenário e objetos comuns do chamado «ensino-aprendizagem». O terror no seu melhor.
Ora acontece que a Parque Escolar vive hoje a crítica de todos os agentes democráticos, a ação do IGF, a demissão dos seus dirigentes imposta por Crato, sem que o essencial seja debatido. Ouve-se falar da derrapagem de 400% dos seus investimentos iniciais na «recuperação» de escolas do Estado Novo e dos anos 70, mas não se toca no essencial que é a vivência claustrofóbica que se vive nas salas «recuperadas». A tortura está instalada nas nossas escolas com a assunção diária do ar ventilado por tubos enormes a que os alunos chamam de «churrascaria», o ar insuportavelmente quente passados dois minutos com a porta fechada e com 25 alunos lá dentro com o professor, as salas mais pequenas com o teto falso descido e com paredes de contraplacado duvidoso, a impossibilidade de abrir janelas quando o tempo melhora, o reflexo do sol que impede a visão dos projetores, a proibição de cortinas, o material que se desgasta a uma velocidade vertiginosa, etc, etc. Bastava a um jornalista pedir a medição da qualidade do ar numa sala «recuperada» no final da manhã ou da tarde. Bastava saber que «negócios» da Parque Escolar impõem o preço das fotocópias mais caro do que fora da escola, para perceber o que anda no ar.
Ainda assim prefiro a Anschool de Hirschhorn. Ou menos essa não enganava.