Editora Jean Vacquet, 2024
Este homem é uma fraude. Uma fraude cara e perigosa, mas ele anda aí com a certeza que o dinheiro quer dos americanos, quer dos múltiplos contratos da administração pública num mundo que deseja em ruínas e em permanente guerra, aumentará ainda mais a sua enorme conta bancária. O mais impressionante, nesta biografia de uma banda desenhada extremamente sóbria e plenamente informada, pela mão de Darryl Cunningham, é assistir a um percurso de vida em que o oportunismo, a inexistência de qualquer valor humano, a indecência e a falta de escrúpulos em doses industriais, foram a pedra de toque da vida deste senhor, cuja saudação nazi na tomada de posse de Trump, só surpreendeu os mais distraídos.
Nascido em Pretória, na África do Sul do apartheid, foi vítima de bullying em várias escolas por onde passou e assistiu a um pai escabroso que violentava a mãe física e psicologicamente, sendo obrigado a afastar-se da mulher por ordem judicial sem que antes lhe tivesse prometido uma morte a tiro. O avô, de quem Elon Musk se sentia próximo, era a sua referência máxima. Este, ironia das ironias, emigrava constantemente entre a África do Sul, Austrália, Canadá e EUA até se estabelecer neste último país como quiropata. No meio disto, funda um partido, antes da II Guerra Mundial, o «Partido Tecnocrata» que pretendia unir, sobre um liberalismo selvagem, sem políticos, o Canadá, os EUA, o México, toda a América Central e parte da América do Sul. A grande referência do jovem Musk assistiu à erradicação federal do partido por simpatias nazis em 1946! Depois da violenta separação dos pais, dir-se-ia que Elon e Kimbal, seu irmão, escolheriam viver com a sua mãe. Nada disso: optaram pelo pai violento, mas cheio de dinheiro que comercializava pedras preciosas da África do Sul. Ele e o irmão, na primeira viagem que fazem a Nova Iorque e depois de se terem apropriado de esmeraldas do pai, vendem-nas à Tiffany. Começou a Era Musk!
Então na Universidade, o seu percurso estudantil não é isento de problemas de concentração e do sucesso que se propala, ainda hoje, como um génio então em formação. Depois, não vos canso mais: sabemos ao que veio e em que empresas ele esteve ligado e, até certa medida, fundado. Hesito na expressão porque não há uma só empresa dele que não tenha afastado quem com ele trabalhou, ou através da ameaça, da chantagem ou da justiça que lhe foi relativamente favorável. Esta Banda Desenhada é pródiga em demonstrar a fraude que é Elon Musk, não só como «empreendedor», mas igualmente como um «génio da tecnologia». Desde a Tesla até à SpaceX e agora no X, ex-Twitter, o homem soma contas astronómicas de fracassos e de mega prejuízos que só não deram em estrepitosas falências com a mão atenta e solidária de George W. Bush, Biden e Trump. Como? Com contratos multimilionários da NASA com a SpaceX através de somas de dinheiros públicos astronómicas, e com o apoio à Tesla de programas de especiais de descarbonização (por acaso, na sua maior parte, de estados democratas!).
Sobre a SpaceX e a privatização do espaço estamos mais que conversados e assiste-se às explosões dos Falcon 9 a todo o vapor, tal como as mortes rodoviárias no modelo Tesla com o sistema de navegação autónoma Autosteer e que Musk teve de abandonar não sem antes culpar os engenheiros que o tinham avisado do risco. Mais preocupante, contudo, é o seu projecto Neuralink que quer ligar o cérebro humano a computadores, adivinhando antecipadamente o pensamento humano e respondendo aos seus desejos ou solicitações. Não que a internet não o faça já, mas (ainda) sem intervenção directa no cérebro, esse órgão ainda livre do capitalismo liberal (digo eu!). Todos os protestos de inúmeros cientistas caíram em saco roto, tal como o silêncio da CIA e do FBI, evidentemente. Outra: o Starlink, ligado à SpaceX, vai colocar 42 mil satélites em órbita terrestre. Problema: deixarmos de ver as estrelas com a enorme luminosidade no céu que obrigaria a um projecto destes. Solução de Musk: uns painéis de carbono negros que, no espaço, absorveriam, essa mesma luz! Comboios rápidos ou TGV's? Não, nem pensar. Ele propõe um Hiperloop: um tubo transatlântico, ou transoceânico (como os cabos submarinos), onde se metiam as pessoas em fila indiana atingindo a velocidade de 1200km/h. Ao ultrapassar a velocidade do som, azarito para os ouvidos. Fossem a pé! Nesta equação não se fala da possível compra da OpenAI e da colonização de Marte. Os impostos públicos pagarão tudo isso.
Lindo, não é? Só lendo. Mas em banda desenhada que dá mais realismo, em comparação com o Flash Gordon, por exemplo. Esse, ao menos, era lido em papel, aos quadradinhos; este, tem um presidente do EUA por trás. Faz toda a diferença.
alc