sexta-feira, agosto 26, 2022
«Antéchrista», Amélie Nothomb
quinta-feira, agosto 18, 2022
4 policiais 4. O mundo mudou e o policial também
Neste Agosto, contudo, observei uma regra: em dez dias levei para férias dois autores considerados antigos e dois «novos»; destes últimos só conhecia toda a saga dos «Homens que odeiam as mulheres» de Stieg Larsson e um de Camilla Läckberg de que já não me lembra o nome.
Os da conhecidíssima coleção Vampiro, agora nas mãos da Porto Editora, temos boas traduções e são bem revistos, coisa que não acontecia no passado. Li E.C.Bentley com agrado. Claramente socialista, o livro escrito em 1913, logo antes da guerra retrata como ninguém a voragem que já se fazia sentir em Wall Street por «capitalistas sem escrúpulos» cujo assassinato de um deles terá sido obra de um sindicato vingativo e arquivado pela polícia. Com alguma simpatia, dá-nos a verdadeira razão desse crime, mesmo que o relatório do detective esteja completamente errado. Por isso, acaba com a sua profissão num belo jantar com o verdadeiro homicida. Lindo! Psicologicamente algo denso, a trama é extremamente bem feita e obriga-nos a pensar, mas isso são contas de outro rosário. O Último Caso de Trent foi adaptado ao cinema nos anos 30 o que o obrigou a ressuscitar a personagem.
Dashiell Hammett é outro que tal: membro do Partido Comunista Americano, nem por isso se deixa acometer por algum racismo em relação aos negros e «mulatos» como lhes chama... mas a história deixa antever os ricos como os maus da fita, tipos vulgares, odiosos, que não se detêm perante nada, passando por cima de tudo e todos. Assassinos com fartura e sangue aos borbotões. Mas ainda assim é um gosto ler Hammett e vê-lo no cinema com um Bogart a fazer de Marlowe. A Maldição dos Dain foi igualmente levado ao cinema nos anos 30, claro.
Jeffrey Archer pia mais fininho com um livro de 2019, não fosse ele um ex-vice-presidente do grupo parlamentar torie, dos conservadores, para os mais desatentos. Atenção que isto não é uma história inventada. Faz parte da autobiografia do autor: apanhado nas teias da bolsa de Londres, o tipo fica a dever meio milhão de libras a uma data de gente e indo a tribunal cometeu perjúrio o que lhe valeu 4 anos de prisão onde escreveu, em 3 volumes, os Diários da Prisão, pois claro! Hoje voltou à política, pagou as suas dívidas e é um milionário por vende 250 milhões de livros em 37 países. Portanto, o livro que li titula-se Quem Não Arrisca... caso para dizer que sabe-la toda, o homem!
John Grisham, escreveu o manuscrito e é outro que tal: é lido aos milhões pelo universo conhecido, mas é honesto pelo que se sabe. Escreveu O Manuscrito e pode dizer-se que é um bom escritor. A história envolvem milhões de dólares e são fruto da especulação alfarrabista (!?) de 1ª edições assinadas. Sendo o livro um objeto mais apetecível que o ouro, acções da bolsa ou mesmo os dólares, dá que pensar ao amante de livros que se viu sempre rodeado deles, certamente. Que sejam objecto de especulação nos States é de abrir a boca de espanto. Mas estamos aqui para aprender sempre.
Qual a diferença entre os «novos» e os «velhos» policiais? É que, nestes, os criminosos geralmente pagam sempre os seus crimes hediondos ou talvez nem tanto, conforme a moral e a ética de quem os escreve. Quem com ferro mata, com ferro morre é o bíblico refrão que se aplica aqui. A trama policial é composta pelo desenrolar de mentes inteligentes o que obriga a equacionarmos possíveis soluções à medida que as páginas avançam. Há tiros a rodos e frieza dos detectives que prendem belas mulheres e homens de fora de qualquer suspeita social. A polícia científica é a de laboratório de vão de escada. Lá ajudar, ajuda, mas pouco. A mente é que descobre, desfaz a teia construída com denodo pelos criminosos e somos convidados a participar na descoberta da coisa.
Já com os «novos» não se vislumbra castigo nenhum para os criminosos. Antes pelo contrário. É tipo «Ocean's Eleven», topam? Os ambiciosos se forem espertos continuam as suas actividades com ambição e inteligência. A polícia científica toma o lugar da dedução ou indução do leitor. As câmaras de vigilância sabem tudo. A mínima lã deixada numa carpete é caso para levar um tipo 30 anos para a prisão. A marca de batom nos cigarros é mentira porque já ninguém fuma. A observação mórbida dos cadáveres dizem mais do que os desgraçados que são abertos ao ritmo das anedotas dos médicos legais que é para descontrair! Os dólares já não são o objetivo, nem os milhões ou ouro, mas sim a arte e os manuscritos e 1ª edições valiosos que sempre valorizam a cada dia que passa. Livros e quadros? Museus a serem assaltados? É claro como água e todos os que se arrebanharam à grande contra os bens públicos têm a medalha dos bons e intocáveis. «Quem não arrisca...», não é? Mesmo assim, a polícia perde sempre. Sim, os policiais mudaram muito, mesmo com as câmaras de vigilância e a chafurdice nos cadáveres que nos permitem preguiçar na solução dos crimes. Querem alimentar a mente? Joguem xadrez!
terça-feira, agosto 16, 2022
«Rien ne Résiste à la Joie de Vivre», de Raoul Vaneigem
quarta-feira, agosto 03, 2022
«O Cão de Deus», Louis-Ferdinand Céline
terça-feira, agosto 02, 2022
Livro preso por um fio
Não tenho por hábito escrever ou fazer qualquer ficha de leitura de livros que não gosto, ou que ache mal feitos, com erros de português ou escritos com interesses inconfessáveis. Li com algum tédio «Presos por um Fio» sobre as FP25, de Nuno Gonçalves Poças. Com prefácio de Paulo Portas! São os dois entendidos em tudo, portanto tudistas. O nome do autor nada me dizia até encontrá-lo na televisão falando célere, mais célere que os pensamentos que lhe vinham à boca. Creio ser na SIC que o homem vai buscar os recibos verdes.
Vem isto a propósito pela confusão (pensada e repensada?) que ele faz de organizações, datas e situações, misturando tudo no mesmo saco personagens que nada tiveram a ver com o processo. O que faz ali Camilo Mortágua relacionando-o com as gémeas deputadas, suas filhas, não consigo atingir. Se há alguém que está longe das FP é ele, mas assim como assim lá vai o nome que talvez cole. Tal como a LUAR, que nada teve a ver com a FP, mas sim com o PS nos anos quentes do PREC. Mas embora lá, que esta organização dividiu-se em dois o que dá sempre jeito para que a fação dita «conselhista» esteja por detrás da luta armada dos anos 80! Creio não errar afirmar que já não existia, assim como o MES com nomes como o Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues e coiso e tal... para ousar ligá-los ao chamado terrorismo, também se lá põe o nome, assim como como o de Catalina Pestana que saiu logo no congresso inaugural das FUP/OUT.
Não se trata aqui de defender o que quer que seja, mas lembrar ao tudista Poças que o país esteve à beira da guerra civil e que houve crimes da extrema-direita que ele, só muito a custo, cita, mas não enumera, nem diz nomes. Aliás só fala de dois: Ramiro Moreira e Cónego Melo. E fá-lo depois de citar o livro de Miguel Carvalho «Quando Portugal Ardeu»! Como se fosse possível desligar um processo violento de assassinatos, bombas e ataques a casas particulares e sedes pela extrema-direita do aparecimento da violência da extrema-esquerda. Chega ao ponto de quase tornar uma nota de rodapé a assassinato em Vila Real do Padre Max e da estudante Maria de Lurdes, sem sequer lhes citar os seus nomes! O que está aqui presente é uma tentativa de levantar o espectro do «terrorismo de esquerda» como se fosse o alfa e ómega de todo o processo de luta armada e de violência organizada em Portugal. Não foi, como Poças sabe, mas não quis dizer.
Sobre os «arrependidos» baralha e torna a jogar como se fossem «dissidentes». Há nomes que são confundidos propositadamente, ou então e o que me parece mais verosímil é que este livro tem como objetivo uma nova cruzada de caça à esquerda. E feito em cima do joelho. Com a profundidade de um trabalho elaborado por uma turma do 12º ano e com fontes muito problemáticas de aceitar.
Ah, e onde se «escondem» os que assaltaram bancos, carrinhas de valores, fábricas e empresas? Aliás, diga-se que o livro a certa altura parece um deve e haver de contabilidade tal é a obsessão do autor pelas quantias roubadas em contos e o que valeriam hoje em euros!! Mas onde estão os criminosos? No BE, claro que lhes dá guarida, alguns em Assembleias Municipais e outros, vejam bem, directores de Agrupamentos escolares! Repito que fosse bom, para um livro sobre o tema ter referido e procurado melhor outras fontes mais fidedignas, confrontá-las e usar uma cronologia coerente. Alvitrar nomes de eventuais operacionais na morte de um diretor prisional também não me parece ser uma boa prática para quem se quer pôr em bicos de pés na História ou no Jornalismo. Fique-se pelo tudismo...
Malina, de Ingeborg Bachmann