Numa época em que prolifera a «marca» hitler e se banaliza o mal, a leitura ou releitura de Se isto é um Homem é importante. Para lá da abjeção que nos provoca a vivência quotidiana em Auschwitz e Birkenau (lá perto, de onde se via o fumo negro da sua chaminé!) que reduz a humanidade a uma sobrevivência infame e a uma relação de poder violenta entre os próprios homens-escravos, condição que o campo de concentração os obrigou a assumir, impele-me a pensar que a sociedade em que vivemos não é mais do que a projeção extrema da ideologia por detrás da construção do campo. Ou seja, levada na sua lógica de dominação e exploração até às últimas consequências. Talvez esteja aqui a chave da submissão e do medo da revolta e da descoberta do novo. Só três dias depois do abandono das SS de Auschwitz, perante o avanço russo, é que Primo Levi e os seus companheiros tiveram coragem de sair do arame farpado e tentar iniciar a vida que foi brutalmente interrompida, sem que essa tentativa não impedisse novas mortes. O cinismo de «O Trabalho liberta» aí está com toda a sua força, neste pequeno livro datado exatamente de 1945 e escrito ainda sob a influência da vida no campo e da posterior libertação. Ainda bem que Primo Levi não teve o impulso de o rever mais tarde. A não esquecer, mas não estou assim tão certo disso.