Duvido que no panorama literário atual se retrate tão bem o Minho e a Galiza de hoje como o faz J. Rentes de Carvalho neste La Coca. Sim, de cocaína. Mas também de heroína, de haxixe, de carros de alta cilindrada, de palácios construídos em pouco tempo nas quintas arruinadas e compradas com o dinheiro do narcotráfico, de traineiras que depressa passaram às famosas voadoras, de jantares pantagruélicos entre os capos e amigos colombianos e panamanianos e sempre a rede corrupta entre as duas fronteiras que marcam indelevelmente funcionários, advogados, dirigentes de clubes, empresários. E fala-se também de Barcelos, de Viana, de Lanhelas que cruzam antigos favores com Baiona, Cambados, Arousa. Aqui se constrói uma geografia nova que La Coca nos mostra sem nostalgias inúteis ou moralismos. O que hoje é a Galiza e o Minho fizeram-nas os respetivos estados e, um dia, que queiramos voltar atrás será tarde demais. A cocaína não corrompe só quem a consome, mas toda uma sociedade que se faz cúmplice em torno do dinheiro fácil. São as novas «novelas do Minho». Mas estas deixam um trago amargo na boca, acreditem.