Um dia. Foi necessário um dia de quase silêncio para saber qual o nome do cidadão grego que fez terminar abruptamente a sua vida junto a uma árvore da Praça Sintagma, em Atenas. Poucos foram os jornais ou agências noticiosas que o disseram. Tratava-se, para estes, quase sempre de «um homem», «provavelmente desempregado» um «idoso». Portanto, bastariam umas linhas e segue-se o Benfica vs. Chelsea e o primeiro-ministro que provavelmente mentiu sobre os subsídios e o «chefe» da oposição que está indignado perante aquilo a que chama de «ataque vil e miserável» feito por um comentador de uma tv privada. O homem que se suicidou, tinha família, filhos e netos. Teve igualmente uma farmácia que fechou. Era um reformado. Estava farto e deixou um bilhete a dizer que o governo da Grécia era um governo de traição. Deu um tiro na cabeça à frente de todos e adivinha-se o grau de asco a que foi submetido para o fazer. É, queiramos ou não, um acto político que nos fere a todos. Chamem-lhe niilista ou o que quiserem, mas é um acto público de negação. Deixa-nos incomodados. Apetece-nos dizer que foram os governos e a troika que o fizeram, apontando-lhes o dedo da culpa. O seu nome? O nome do homem que se matou hoje? Registem para memória futura: Dimitri Christoulas, e uma bala acabou com ele às nove horas da manhã de hoje. Na Praça Sintagma, lugar de todas as resistências.