Ouvi, na TSF e em directo, as declarações do Presidente da República. No carro, enquanto as pessoas passavam na rua aparentemente indiferentes à crise e aos «pulíticos» de que fala tanto Cavaco, com aquele ar superior de quem não se quer ao lado deles - dos «pulíticos» - e com aquela dicção especial de quem ainda cospe bolo-rei para cima de nós.
Não gosto da personagem. Enquanto esperava no meu carro ia, pouco a pouco, indignando-me com aquela comunicação ao país sem direito às perguntas dos jornalistas e que nada explicou, a não ser o fel que se lhe pressente à democracia, aos jornais, à cultura parlamentar, à livre escolha do povo.
À custa dele, da sua arrogância e da pouca elevação política que demonstrou, perguntava-me como foi possível terem-no eleito para presidente; isto só poderá ser explicado pela incompetência de Sócrates em teimar com o seu candidato a Belém. Mas lá está ele: inculto, rancoroso, tenso e muito pouco inteligente, sabemo-lo hoje, depois da comunicação ao tal país dele.
Enquanto ouvia a TSF, ontem, lembrei-me de uma história que me contaram sobre Sandro Pertini, o Presidente da República italiana no tempo de Betino Craxi, socialista corrupto que mais tarde viria a morrer sozinho na Tunísia, tendo conseguido fugir para lá enquanto era perseguido pela justiça. Sem que nada o fizesse prever e sendo Craxi primeiro-ministro, um belo dia Pertini chamou-o ao seu gabinete comunicando que estavam todos demitidos por ele. Craxi, na ocasião, balbuciou umas palavras onde se pôde perceber mais ou menos isto: «Mas, senhor presidente, não há nenhuma crise política, o governo funciona bem, não há contestação visível. Porquê?» Resposta de Pertini em bom italiano:
«Porque são todos uns cretinos!»Infelizmente este episódio será impossível em Portugal. Não há autoridade moral para o fazer. Da parte de ninguém.
A foto foi tirada no DN de hoje, 30 de Setembro