Louis-Ferdinand Céline constava de uma lista de personalidades que seriam homenageadas em 2011, em França, aproveitando o cinquentenário da sua morte. À última da hora o sobrinho de Miterrand, o senhor ministro da Cultura Frédéric Miterrand, resolveu riscá-lo de todas as homenagens oficiais afirmando que o acto foi fruto de muita reflexão (estilo hoje, em Portugal, um dia antes das eleições). Só o facto de o pretenderem homenagear já é, de si, ridículo. Saneá-lo à má fila, não deixa de ser uma vergonha. Sabemos também que o senhor era antisemita, um pouco execrável como pessoa (recusou-se, por exemplo, como médico a tratar as filhas de Listopad com uma gastrentrite, porque «tinha de dar comida aos cães») e que foi salvo do pelotão de fuzilamento em 1945 por outras personalidades como Camus ou Jean-Paul Sartre. Mas isso não me impede de dizer que o maior libelo contra a guerra que alguma vez li foi o da sua Viagem ao Fim da Noite em que relata a sua experiência na I Guerra. Talvez se aprendesse mais sobre o fenómeno do antisemitismo e de como o ovo da serpente pode estar em todos e em cada um de nós. Calar, omitir, nunca foi uma boa opção.