A bem dizer, o espectro das bibliotecas de escritores mostradas aos leitores da Babelia (suplemento literário de El Pais) desta semana é verdadeiramente aterrador. Claro que as bibliotecas e os livros são todos eles bonitos de se verem, mas quer as fotos, quer as declarações de escritores bibliómanos (sic) não ajuda, em nada, a causa dos livros. Javier Marías é fotografado com a luz por debaixo do seu nariz, dando-lhe um ar vampiresco ao mesmo tempo que os livros são arrumados em prateleiras sombrias; a secretária ostenta uma velha máquina de escrever. Procuramos, em vão, o computador do autor - nada! Todos eles partilham do mesmo sentimento de terror de terem, um dia, de se mudar com a sua biblioteca. Daniel Samper Pizano, Mariana Enríquez, Martina Kohan, Alan Pauls ou Rodrigo Frésan são unânimes a demonstrarem a sua adição aos livros. Vale a pena lê-los mais as suas relações com esses objectos: uns dizem que os roubam, outros que não os herdaram, outros que os compraram…mas todos eles são contados aos milhares em cada sala.
Ao menos Alain Finkielkraut (lembram-se de A Nova Desordem Amorosa?) é o mais honesto. Afirma que «ler, não garante necessariamente que nos faça melhor!». É. Basta olhar para o século XX sem estar confinado cavernosamente a uma biblioteca.