Os anjos de Klee
E existíamos como um só rosto.
Esquecendo-me de propósito
onde eu começo e onde tu terminas,
desenhávamos uma flor na escuridão.
As palavras há muito deixaram de insistir:
são de uma paciência infinita.
Amanhã haverá vozes de sombras
que nos pintarão de perguntas
– o interstício de te voltar
a ver na curva do tempo.
Anjo morto, desperta do
teu sono e vem depressa
iluminar esta sede de um
silêncio que não existe.
Ricardo Gil Soeiro, Palimpsesto, pag.148, Deriva Editores, 2016