A nova questão social: o mal-estar
Os efeitos que a mobilização global produz sobre os seus sujeitos — sobre os sujeitos que lhe estão sujeitados — são numerosos e novos. Basta ver a mudança no tipo de doenças ligadas ao trabalho. Na actualidade, as mais numerosas têm a ver com alguma forma de mal-estar psíquico. Não em vão, 70 por cento das baixas laborais de longa duração correspondem a transtornos mentais. A imposição do «ser precário» manifesta-se nas chamadas doenças do vazio: depressão, insónia, ansiedade… São as novas enfermidades próprias de uma sociedade na qual a norma já não se baseia na culpabilidade, mas na responsabilidade. Uma sociedade que enterrou a autonomia operária, substituindo-a pela autonomia do Eu, ou seja, pelos contínuos apelos a que sejamos autónomos e responsáveis. A este
sofrimento que poderíamos englobar sob o rótulo de «miséria da abundância», haverá que acrescentar, indefectivelmente, a própria «abundância da miséria» que sob as faces mais tradicionais (fome e morte) alastra pelas cidades gueto globais e pelas periferias das grandes cidades. A mesma mobilização global, que faz coexistir a miséria da abundância com a abundância da miséria, tritura as nossas vidas.Vida triturada quer, aqui, dizer que a mobilização global produz mal-estar e sofrimento autênticos. Não se trata de sermos expropriados da nossa vida (ainda que evidentemente não sejamos seus donos), mas sim do facto de a própria vida ser simplesmente aniquilada: reduzida a nada. Mediante a generalização da impotência e da indiferença, a nossa vida é separada do querer viver, o que implica para a vida, a sua própria perda enquanto fonte de valor. in A Mobilização Global seguida de O Estado de Guerra, Santiago López-Petit, Deriva Editores, 2010.
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