quinta-feira, junho 24, 2021

Da Piaggio à Faber-Castell, passando pela Adidas

 

Sede da empresa alemã Adidas

Até me custa iniciar isto, visto que se trata de uma crítica à RTP2, canal que ainda vejo regularmente. Cansado, é-me custoso cada vez mais procurar em outros canais alguma coisa que valha a pena ver. Por vezes ainda encontro neste canal filmes e séries interessantes, mas não deixa de ser singular a existência de múltiplas séries alemãs e italianas que nos vendem a história sempre fabulosa, empreendora e sacrificada de empresários com nome na Bolsa de hoje. Veja-se o caso dos esfalfados donos dos lápis Faber-Castell, da linda «vespa» Piaggio, do senhor Adidas que se zangou com o irmão (meu deus!) senhor Puma, o senhor Blaupunkt (hoje devorada pela Siemens, outros capitalistas de sucesso), o excelentíssimo Krupp, o rapidíssimo (a fazer dinheiro) Enzo Ferrari e mais virá por aí, ficamos com a impressão que se não fossem eles o mundo pararia. Não parou, claro, e os pequenos problemas com nazis e fascistas cuja cumplicidadezinha foi talvez menor que a de Hugo Boss, que fardou as SS, é sempre uma nota de rodapé na pretensa história adaptada pelas ditas séries. É evidente que o papel dos trabalhadores que combateram nas duas guerras, que se opuseram ao fascismo e que ainda por cima ajudaram empresas a erguerem-se nunca são referidos. Antes pelo contrário: são eles que, indecentemente, fazem greves e juntam reivindicações para terem uma vida minimamente digna. Mas esqueceram-se de um pequeno grande pormenor: todos estes empresários içaram os seus impérios por enormes heranças! Mas isso constitui uma pequenina (mais uma) nota de rodapé na pretensa história que nos entra pela TV dentro. Pela mão da RTP2, infelizmente.