Não é bem de «A Missão» que trata esta ficha de leitura. A novela, muito cinematográfica, de Ferreira de Castro já foi por muitos analisada e reconheço a sua excelência, como tudo o que este autor escreveu. Mas anoto aqui o espantoso (atenção a este falso amigo da Galiza!) «O Senhor dos Navegantes», pequeno conto em que o autor entabula uma conversa com um louco que se faz passar por deus. Nem louco, nem deus, antes um criador de tudo o que se move no mundo, mas que por fastio e provável incompetência deixou quase tudo por fazer. Na capela que dá o nome ao conto, ou novela, olhando de alto o mar e fumando um cigarro, ao mesmo tempo que se teima em abandonar o diálogo e ler um livro, produz-se então, entre o autor e um estranho, um diálogo limpo, astuto, honesto em que as dúvidas e as incertezas mais profundas da humanidade vem ao cimo, por um período breve e fugidio, é certo, mas cuja destreza literária está bem presente. É disto que se faz a grande literatura.