segunda-feira, junho 14, 2021

Exposição «Mágoa», de António Barros no Museu da Água, Coimbra. Até 28 de Julho

 

«Mágoa», a última exposição de António Barros, estará patente até 28 de julho, no Museu da Água em Coimbra. E, neste contexto onde apresento no elogio da água uma “arte social” com Yoko Ono, antes apresentada no Museu de Serralves, surge também a instalação dedicada a António Aragão “Vulcão olhando o prato”, parte integrante de “Vulcânico PaLavrador”.

Mágoa é uma palavra alusiva a sentimento, e sonoramente logo nos traz uma outra palavra de semelhante musicalidade. A palavra Água.

Somos em parte dominante feitos de água, e de mágoa. Mágoa magoada. Sede.

 Mágoa pela desumanidade que macula a água sem mágoa por estar gerando finitude. Finitude do lugar e da existência de si. De nós.

Mágoa é carecer de água perante a sede. Essa lucidez depurada. Essa mágoa. Depurada palavra apurada.

Sucumbindo de tanta sede, para salvar a vida, Simone Weil, prisioneira, em mágoa pede água. Sem tempo para palavras diversas. Não diz: por favor podia trazer-me um copo de água. Diz apenas uma palavra: água. Água! Apenas uma palavra. Depurada. Palavra eleita. Essencial. Fundamental. Geradora.

 Perguntaram ao poeta José Tolentino Mendonça qual teria sido, para ele, a maior invenção da Humanidade, a que respondeu: a palavra.

Trabalhar as palavras depuradas, geradoras, pode ser uma missão. A do poeta. Jogando as letras do alfabeto. Depuradamente. Depurando a mente. As mentes.

A Joan Brossa bastou roubar três letras ao alfabeto, as letras C, E e H, para gerar uma “Elegia a CHE”. Chegou a todo o mundo este poema para Guevara, o médico revolucionário.

Yoko Ono desafiou-me a criar uma peça para o “Jardim da Aprendizagem da Liberdade”. Eu faria o suporte para guardar a água. Ono colocaria a água.

Resgatei da venda um ninho de pássaro. De pássaro prisioneiro do ninho que a sociedade transformou em gaiola. Coerciva.

Pedi a Brossa de volta as três letras em falta no alfabeto. Para assim devolver à sociedade o alfabeto completo. Para dizermos todas as palavras. Essa liberdade. Dizer palavras, depuradas, como almeja o devir da água.

A palavra lava. Como a água. A palavra é lava. “A palavra foi a maior invenção da Humanidade”. Humanidade feita de Água. Água sem mágoa. Água.

A  n  t  ó  n  i  o     B  a  r  r  o  s

Nos desígnios de uma arte de acção procura conjugar os binómios: palavra_imagem e arte_educação. Intervenções sociais na senda do Movimento artístico internacional Fluxus, conjugadas com Robert Filliou, Serge III Oldenbourg, Joseph Beuys, Wolf Vostell e Yoko Ono, e na Literatura Experimental, com Joan Brossa, Augusto de Campos, Ana Hatherly, Salette Tavares, Ernesto de Melo e Castro, e com os fundadores da Poesia Experimental portuguesa: António Aragão e Herberto Helder.