Obcecada com os pós-modernismos e demais ismos, a poesia actual (a esmagadora maioria da poesia, para sermos mais exactos) esquece-se das origens. Por isso, preocupada como se revela com o presente, que se esgota no imediato sem que nos apercebamos, relega e desconsidera a herança literária, como se de uma curiosidade inútil se tratasse. O resultado é uma desmemória que, embora acrescente uma suposta actualidade a estes escritos fortemente ancorados no quotidiano, apenas empobrece o seu conteúdo. Caminho inverso é o que percorre Catarina Nunes de Almeida no seu novo livro - o terceiro -, que assume corajosamente como referências primordiais as cantigas de amor e de amigo. Todavia, a leveza e o ritmo que percorrem estes poemas não os aprisionam num passado remoto. Pelo contrário. Estabelecendo um diálogo permanente entre o ontem e o presente, a autora de A Metamorfose da Planta dos Pés, cuja escrita límpida não descarta a influência de poetas como Eugénio de Andrade ou Sophia de Mello Breyner, assegura uma evidente transcendência que encontra na musical idade extrema a maior virtude. [Notícias Sábado '265]
sábado, fevereiro 05, 2011
Bailias, Catarina Nunes de Almeida, na Notícias Sábado
Bailias, Catarina Nunes de Almeida