domingo, abril 11, 2010

Chega de Fado, Paulo Kellerman

Claro que me sinto terrível, ao pensar isto; da mesma forma que me senti terrível no parque, quando pensei em homens que passeiam cães como se fossem seus filhos e homens que passeiam  os seus filhos como se fossem  cães (sinto de novo um incómodo no estômago, ao consciencializar este pensamento repugnante; e contraio-me ligeiramente, talvez até tenha feito uma careta de repulsa; a miúda atenta e preocupada, pergunta: estás doente papá?). Mas é precisamente por isso que não consigo deixar de a olhar, tentando talvez captar a atenção, o seu interesse; porque, na verdade, suponho que gostaria de discutir este assunto com alguém, conversar sem correr o risco de ser recriminado, confessar-me a alguém com pecados semelhantes; perceber que não sou o único.

Francisco/ Ângela, in Chega de Fado, Paulo Kellerman