quarta-feira, março 28, 2007

Meridionais, de João Pedro Mésseder. A sair em Abril.


Capa de Gémeo Luís
A capa do Meridionais, o último livro de poesia de João Pedro Mésseder, já está em estudo. Por lá, viaja-se pelo Sul. Um livro belíssimo a sair, ainda, em Abril.

«Um mito como outros, o sul, ou apenas um lugar, um ponto cardeal? Para o que habita esse lugar, existe sempre, todavia, um outro sul. E, por isso, um qualquer norte - ou desnorte - é a sua morada. Aí elabora sobre a distância que o separa do cenário inatingível. Uma vez mais, "o nada que é tudo". Desse nada, desse tudo, uma escrita emerge. Sustentando o mito.»

Meridionais, Da contracapa.

Quotidianos sublimados. Ricardo Duarte entrevista Paulo Kellerman no JL de hoje.

Hoje, no Jornal das Letras, Luís Ricardo Duarte entrevista Paulo Kellerman sobre o seu último livro editado pela Deriva, Os Mundos Separados que Partilhamos. A ler.

Elas Somos Nós, livro de Andrea Peniche

Pela mão da Afrontamento, chega-nos Elas Somos Nós, da Andrea. Eu sei que somos todos suspeitos aqui na Deriva, mas a Andrea superou-se. Livro provocador (eu explico: as melhores provocações são aquelas em que os próprios protagonistas mostram as suas contradições), que se lê muito bem e com gosto e, ainda por cima, num registo actual da luta recentíssima contra o Não dos ultramontanos, tias e bagãofelixianos. Límpido, pela escolha do aprofundamento de um tema que é o género (sendo muito fácil cair em vulgaridades e verdades de café), alternativo na análise epistemológica e livre, nas concepções que utiliza, não se acantonando em chavões e facilitismos. Grande abraço, Andrea.

«Fomos testemunhas de uma sociedade que se comoveu mas, quando pôde, não se moveu (p.16)»
«No quadro do nosso panorama editorial e reflexivo, o livro de Andrea Peniche, Elas Somos Nós. O Direito ao Aborto como Reivindicação Democrática e Cidadã, que agora surge a público, representa o documento que nos faltava sobre as questões do aborto, sendo, por isso, um texto obrigatório para compreender o processo que sustenta a legislação vigente.
De leitura agradável, cativante e envolvente, com uma linguagem escrupulosamente cuidada - quer no ponto de vista epistemológico, político e até jurídico -, a presente obra, pela sua estrutura, levantamento e organização dos temas que desenvolve e pela implicação claramente assumida pela autora, desafia a uma reflexão pessoal indutora de uma posição própria e esclarecida sobre a questão»
Do Prefácio, Fernanda Henriques e Gabriela Moita

domingo, março 25, 2007

sábado, março 17, 2007

O Espírito Nómada, de Kenneth White, a publicar em Maio

O Espírito Nómada, livro central da teoria da geopoética de Kenneth White e impulsionador do Instituto Internacional de Geopoética vai ser editado na Deriva em Maio, ainda a tempo do autor nos visitar.
Meditando profundamente sobre a crise da vida moderna, questiona sem cedências o sentido do nomadismo e da deriva como alternativa de vida. Um sentimento poético baseado na procura e na forte ligação à terra e à natureza. Neste ensaio, onde Kenneth White, escocês há muito radicado na Bretanha, viaja pelos nomes de vários poetas a fim de dar um sentido político, poético e cultural da vida que nos resta. Daremos mais notícias em breve.

«Capítulo I
ESBOÇO DO NÓMADA INTELECTUAL
Foi assim que enquanto íamos fazendo caminhadas de milhares de verstas… não deixávamos passar nenhuma oportunidade para declararmos a nossa identidade e ao mesmo tempo contarmos tudo o que tínhamos visto, pensado e feito.
GORKI


Na deriva anarco-niilista e cosmo-poética que segue, o leitor vai encontrar algo semelhante a uma rede de afinidades electivas. Encontrará figuras e movimentos ocultados e postos à margem pela sociologia e a psicologia ditas sérias que as consideraram até aqui, de uma perspectiva maciamente humanista, como «excêntricas», «marginais», «perigosas», em suma.
Se o nómada intelectual que vamos considerar sob formas diversas nestas páginas, for niilista (o «niilista perfeito» de Nietzshe) orientalizante (pesquisador, em última análise de um «Oriente» não situado nos mapas), mundialista (mas que, como Husserl, põe durante muito tempo a tese do mundo entre parêntesis), anarquista (sem bomba nem bandeira), demoníaco (como Sócrates e não como Cagliostro) e errático (dado que nenhuma via é a via completa), é antes de mais um intelectual de novo tipo, móvel e múltiplo, abrupto e rápido, que não pertence a qualquer intelligentsia, não se liga a qualquer ideologia e é de difícil solidariedade, excepto com o universo (e mais - ao filocosmismo pode misturar-se, como o sal na água, um quanta de acosmismo superniilista).
Esse novo intelectual não surgiu ex nihilo. Nasceu num dado momento da cultura ocidental e tem uma história. É essa história que eu tentarei trazer à luz nas páginas que seguem. (...)»


O Espírito Nómada, de Kenneth White (a publicar em Maio, Cap.I, pág. 1 e 2) Tradução de Luís Nogueira

Futuro Primitivo de John Zerzan, a publicar em Abril

John Zerzan publicará Futuro Primitivo, na Deriva, com um novo prefácio para a edição portuguesa, datado de 2006, o último das muitas edições que esta obra conheceu pelo mundo, desde o seu aparecimento em 1994. Trata-se de uma obra importantíssima pela recusa em enveredar pela cartilha da antropologia oficial (que Zerzan tão bem desmascara) e por uma perspectiva completamente nova da pré-história que nos é dada por este pensador libertário. Tudo é posto em causa: o trabalho, o patriarcado, a guerra primitiva, a família e a propriedade. A subtileza argumentativa do autor reside no uso que faz das ideias centrais e das afirmações dos académicos e cruzá-las de modo a parecerem, afinal, um conjunto de contradições insanáveis. A obra apresentará uma nova tradução.
«A divisão do trabalho, que tanto contribuiu para nos submergir na crise global do nosso tempo, age diariamente para nos impedir de compreender a origem do terror do presente. Mary Lecron Foster (1990) peca, certamente por eufemismo, quando afirma que, hoje em dia, a antropologia está «ameaçada por uma fragmentação grave e destrutiva». Shanks e Tilley (1987) fazem eco de um problema semelhante: «o objecto da arqueologia não é somente o de interpretar o passado, mas de transformar a maneira como é interpretado em benefício da reconstrução social actual.» Evidentemente, as Ciências Sociais, por si só, limitam a perspectiva e a profundidade da visão necessária que permitiria uma reconstrução como esta. No capítulo referente às origens e ao desenvolvimento da Humanidade, o leque de disciplinas e de sub-disciplinas cada vez mais ramificadas – antropologia, arqueologia, paleontologia, etnologia, paleo-botânica, etno-antropologia, etc. – reflecte o efeito redutor e incapacitante que a civilização personificou desde o seu início.
No entanto, a literatura especializada pode dar-nos uma ajuda bastante apreciável, na condição de a abordar com método e vigilância apropriadas, na condição de decidir não ultrapassar os seus limites. De facto, as deficiências destas maneiras de pensar mais ou menos ortodoxas correspondem às exigências de uma sociedade cada vez mais frustrada. A insatisfação da vida contemporânea transforma-se em desconfiança perante as mentiras oficiais que servem para legitimar tais condições de existência; ela permite, assim, desenhar um quadro mais fiel ao desenvolvimento da humanidade. Explicou-se, exaustivamente, a renúncia e a submissão que caracterizam a vida moderna pelas contingências da «natureza humana». No fim de contas, o mito da nossa existência pré-civilizada, pretensamente vivida por privações, brutalidade e ignorância acabou por fazer parecer a autoridade como uma benfeitoria que nos salvou da selvajaria. Invoca-se sempre o «Homem das Cavernas» e o «Homem de Neanderthal» para nos lembrar como nós seríamos sem religião, Estado ou trabalhos forçados.(...)»

Futuro Primitivo, de John Zerzan (a publicar em Abril, págs. 1 e 2)

terça-feira, março 13, 2007

Meridionais, João Pedro Mésseder

É o próximo livro de poesias de João Pedro Mésseder a sair por aqui, pela Deriva. Um título a condizer com a errância, o nomadismo e as viagens - Meridionais de seu nome. Um livro belíssimo que sairá dentro de dias. Uma entrevista ao autor sobre a sua poesia abrirá o espaço do Deriva das Palavras às terras do Sul e ao périplo que preparamos ao pormenor.

«A brisa não corre apenas correm

as vespas dos novos guerreiros

secos de carne morenos

de escuros cabelos ao vento (...)»


Nocturno da Estrada para Heraclion, in Meridionais. 2007 (a publicar). João Pedro Mésseder.

terça-feira, março 06, 2007

Carta a uma amiga

Moebius

Como estás? Deixaste-me um mail indignado com o que se passou em Santa Comba e o caso não é para menos. Vi, de soslaio porque o estômago não permite (certamente por cansaço) o olhar de frente para a ignomínia, as gentes que gritavam por Salazar. Não me admirou que não fosse a extrema-direita a organizar o evento que é sempre espontâneo, nestas ocasiões. Portugal desde há anos, desde sempre, guarda dentro de si esta vocação para a ordem e bem-estar, para a couve, a sardinha e a sopa dos pobres, para o trabalho honesto e poupadinho, para as mulheres submissas e obedientes, castigadas e humilhadas e, quando é preciso, fatalmente violentadas por companheiros desgraçadamente ciumentos que compõem a «vida» com que nos cosemos e, pela qual, um primeiro-ministro já se pôs a milhas. A milhas também pusemos nós levas sucessivas de emigrantes que engordavam os bidonvilles de Paris e as contas bancárias de angariadores de lá e de cá. Nunca quisemos saber deles e gozávamo-los quando cá vinham em férias (talvez as primeiras das suas vidas). Tratámos mal os nossos putos, batendo-lhes e educando-os à boa maneira portuguesa, entre escândalos de estado e os vícios privados. Sempre fomos bons a cultivar a violência com um leve sorriso cristão na boca. Nunca soubemos a verdadeira dimensão dos bufos da Pide e da panóplia incrível de gente que alimentou a melhor polícia política do mundo, como orgulhosamente se dizia, então. Ficou-nos, desse tempo, o anonimato e a denúncia, a inveja e o contentamento alvar pela maldade e pelo boato. Ficou-nos do futebol e da alienação dos copos de domingo, as claques organizadas de seres simiescos e dos santuários de fátima, as campanhas pela «vida». Dos filmes de Leitão de Barros e do Santana, ficou-nos a telenovela salvadora e o filme da treta que nos faz rir. Os parodiantes deram lugar aos malucos do riso. O mofo e o bafio estão aí e, em Santa Comba, erige-se um novo santuário de fascistas anónimos. Já andaste, em Berlim, pela avenida Hitler? Em Roma, no Museu Mussolini? Já foste à Alameda Francisco Franco, em Madrid? Deixa que te diga que nunca, mas nunca, nos deixámos levar por essas toponímias. Existe um bairro Salazar? Ou rua Dr. António Oliveira Salazar? Claro que sim. Somos todos democratas, não somos?

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domingo, março 04, 2007

Novo livro de António Manuel Venda a sair em Maio

O novo livro de António Manuel Venda (ainda sem título) sairá em Maio, pela Âmbar. Dele, pré-publicamos este pequeno extracto sobre a cidade de Évora. Boa sorte, daqui da Deriva, é o que lhe desejamos.
«…levantou-se do cadeirão, sempre a segurar o romance de Roberto Ampuero, e pôs uma samarra pelas costas; estava num cabide junto ao sofá. Depois aproximou-se da porta que dava para a rua a seguir às duas janelas da livraria, abriu-a e saiu. Nem esteve para ir pela livraria, foi logo por ali, o mais rápido que podia, em direcção à loja das fotocópias, que ficava bem perto, a caminho da Praça do Giraldo. Só já quando ia a chegar é que se lembrou de que devia estar fechada àquela hora e então foi invadido por um desembaraço confuso, atabalhoado. Correu de novo, sem saber bem o que fazer, até que ao fim de uns cinco minutos viu que estava mesmo em frente da agência de um banco, daquele de que era cliente, já em plena Praça do Giraldo. Costumava ficar gente até tarde na agência, isso ele sabia. Aproximou-se da montra e espreitou através do vidro e das persianas corridas. Com alguma dificuldade, conseguiu ver algo do interior e reconheceu um dos gestores de conta; não era o seu, mas já tinha falado com ele algumas vezes. Foi até à porta e bateu, pequenas pancadas hesitantes com a mão esquerda, como se estivesse a fazer algo que fosse inadequado. Na mão direita segurava o romance, com força, parecendo ter medo de que as páginas se abrissem…»

sábado, março 03, 2007

Notas avulsas

Desenho de Quintero
Paris, Londres, Copenhaga...esta última cidade esteve a ferro e fogo durante a semana (estará ainda?), mas nem por isso houve notícia sobre as reais causas da violência. Desde as manifestações anti-globalização, e principalmente desde Génova, os media consentiram com os ditames dos governos: nada de imagens, nada de reportagens sobre a nova violência urbana! O mesmo é dizer - não compreendam, façam os que se lhes manda! Não sei se é o melhor...
150000 pessoas na rua a contestar a precariedade e a arrogância diárias de um governo. Antes de ver melhor as imagens nas ruas de Lisboa, tive de gramar com a OPA do Belmiro Filho (qual foi o sindicato que pôs aqueles trabalhadores a aplaudir o Granadeiro e o Berardo?), o funeral da Anne Nicole Smith e um directo para o funeral do Bento no Barreiro.
A apresentação pública de Os Mundos Separados que Partilhamos do Paulo Kellerman, na Arquivo de Leiria, foi muito boa. Sala cheia, a abarrotar, amigos que não se viam há muito, alegria e boa disposição. O Paulo está de parabéns. Venha mais, que o mundo são dois dias.
Na próxima semana o João Pedro Mésseder começa as revisões finais para a edição de Meridionais.
Alface morreu. Foi editado pelo Vasco Santos e gostava de o ler. Sucede-se a inevitável sensação de vazio.