Mais um livro a justificar quão obcecado me encontro pelo policial. Este tem a particularidade de se meter com sistema trinitário da política, da justiça e do sistema prisional americano que, ironia à parte, todos sabemos ser exemplar. E John Grisham não brinca em serviço. Para além de bom escritor tem um posicionamento político extremamente crítico para com os EUA.
Um advogado negro está encarcerado, por dez anos, numa prisão de um estado federal que nem é das piores, embora já tenha passado por várias bem más. A história começa aqui e acreditamos na sua inocência. O seu escritório foi contratado por pessoas nada recomendáveis que o meteram numa história de evasão fiscal recambolesca. O final é incrível e como vai sendo hábito nos policiais atuais, os «maus» talvez ganhem na teia ao FBI que entretanto montaram. A narrativa é rigorosa e cerebral, no entanto o autor teve o cuidado de dizer que nada daquilo que contou foi real. Não fosse o diabo tecê-las.
Ler Grisham é também ter um posicionamento político: «O meu companheiro de cela é um miúdo negro de dezanove anos, de Baltimore, condenado a oito anos de cadeia por vender crack. Gerard é como um milhar de tipos que encontrei nos últimos cinco anos, um jovem negro de uma cidade interior, cuja mãe era adolescente quando o teve e cujo pai desapareceu há muito. Abandonou a escola no décimo ano e arranjou trabalho a lavar pratos. Quando a mãe foi presa, Gerard foi viver com a avó, que está a criar uma horda de primos. Começou a consumir crack, depois a vender. Não obstante a vida nas ruas, Gerard é uma alma bondosa sem um pingo de maldade. Não tem qualquer historial de violência e não devia desperdiçar a vida na prisão. É um de entre um milhão de jovens negros que estão a ser armazenados pelos contribuintes. Neste país, somos aproximadamente dois milhões e meio de reclusos, de longe o maior número de encarcerados em qualquer sociedade semicivilizada. (pág.82)».
E a descrição do sistema de justiça americano contínua, sendo que a própria Constituição americana é regularmente ultrapassada e alterada conforme a decisão dos legisladores e juízes sem que daí venha mal ao mundo. E prende-se, prende-se muito, com penas completamente dementes e gratuitas que obrigam cidadãos sem qualquer perigosidade, alvo de pequenos erros, ou mesmo inocentes, a passarem anos infindos na prisão e a desfazerem uma vida normal, perguntando-se a si próprios «Como é que isto me aconteceu?»