Daqueles livros de bolso que servem para passar um bom bocado. A trama é bem desenhada. Numa Espanha que ainda não se libertou dos seus fantasmas, isto é, da guerra civil e da ditadura franquista, a Igreja católica ultra-conservadora tenta por todos os meios impedir a divulgação de uma descoberta da origem de uma vida física que se libertava da criação teosófica das religiões. O impacto seria igual, se não maior do que as descobertas de Pitágoras, Galileu, Copérnico ou Darwin. A resposta à questão «De onde vimos? Para onde vamos?» é o mote que nos avassala o espírito há que séculos! O assassínio do cientista Edmond Kirsh, que se propôs desvendar este pequeno grande mistério, vai desenvolver uma catadupa de acontecimentos que já vimos reproduzida no cinema em Código Da Vinci e Anjos e Demónios. Algumas coisas serão inverosímeis, é certo, mas a lógica científica é bem elaborada e as teorias da conspiração são uma realidade a que não poderemos fugir conhecendo, como conhecemos bem, as redes sociais e a prática dos media. Lá vemos o Professor Langdon e uma bela directora do Museu Guggenheim de Bilbau em maus lençóis mas que saem não totalmente vencedores e com a certeza científica de estar vivos. Nascemos nós por geração espontânea da sopa primordial da Terra, há 4 mil milhões de anos, a partir de um corpo unicelular que, através da dispersão da energia do sol, foi formando uma espiral de moléculas que por sua vez levou ao aparecimento e desenvolvimento ADN dos seres vivos? Et pourquoi pas? O pior não é saber de onde vimos; o pior, mesmo, é saber para onde vamos e a perspectiva sombria de que o Homo Sapiens vai dar lugar ao Homo Technius em que a Inteligência Artificial absorverá toda a nossa vida. Nada que não nos admiremos muito, mas até um escritor tem a imaginação limitada o que não acontecerá certamente a robots especializados em gerar policiais inimagináveis a ganhar todos os prémios em festivais literários e a ganhar milhões que distribuirão, com fervor altruísta, para o incremento do capitalismo verde. 700 páginas prós amigos, mas não cabe num bolso, como é evidente.