Uma interessante experiência em que não está ausente o confinamento obrigatório que se iniciou em 2020. Creio que a Filipa Leal se divertiu neste exercício tão paciente como solitário. A colagem, matéria cara aos surrealistas e ao acaso, às matérias esquisitas e intrigantes em jogos de mesas de pé de galo como diria o nomeado Cesariny neste livro. Igualmente uma referência bonita a Perfecto E. Cuadrado e ao seu «A Única Real Tradição Viva» que guardo em casa e que me serviu para a minha segunda exposição «Abjectos Surreais». Mas a Filipa explica tudo no início, na introdução.
A língua portuguesa é traiçoeira, como todos sabemos. Um estrangeiro (essa figura sempre mais contemporânea que nós, o que nos elogia) não compreende na nossa língua a dupla negativa que passa a ser afirmativa e a dupla afirmativa que quer ser negativa. «Não! Não! Queres lá ver!...». Assim é o título deste livro. É de uma grande duplicidade que nos instiga a perceber se primeiro vem o poema, se as palavras encontradas em colagens aqui e ali, à boa maneira surrealista; ou as duas. Mas saiu tão bem, que dá gosto tê-lo sempre consigo e perscrutar de onde surgiu aquele encadeamento tão lógico, como aparentemente absurdo.
A publicação é da responsabilidade da «Não Edições» e a tiragem é de somente 160 exemplares. Eu já tenho o meu que encomendei pela Snob. Façam o mesmo e não se arrependem.