O título do livro
pode enganar: as manhãs de que fala o autor são o início dos dias
intermináveis das prisões francesas que se seguem às noites laranjas das luzes
internas e externas das celas.
Na ocasião da publicação do livro, não me deixaram contactar
com Jean-Marc Rouillan a cumprir uma pena de prisão perpétua em Lannemezan, por
participação em atentados, nos anos 80, reivindicados pela Action Directe. Mas
o caso de Rouillan e de outros prisioneiros políticos chamou-me a atenção, quer
pela violência com que estavam a ser tratados ultrapassando claramente (pelo
menos na minha opinião) a violência dos crimes que cometeram, quer as leis do
estado de direito. Muitos deles encontravam-se gravemente doentes e a prova que
alguma coisa estava mal no campo do Direito é que hoje encontram-se todos em
liberdade e não veio daí grande mal ao mundo. Na altura, falei com Isabel do
Carmo para fazer o prefácio do livro de Rouillan e mostrou-se disponível, não
sem que me avisasse que nunca concordou com os métodos da AD. Mas faria um
apelo à amnistia por causas humanitárias. Sinceramente era igualmente a minha
opinião e gostei de a ouvir pela boca de alguém que teve a sua quota parte da
révanche do Estado na sua procura da normalização democrática.
O título do livro
pode enganar: as manhãs de que fala o autor são o início dos dias
intermináveis das prisões francesas que se seguem às noites laranjas das luzes
internas e externas das celas.
Jean-Marc Rouillan, autor de Odeio as Manhãs, viu indeferida
a sua libertação em março de 2009, depois de um longo período de reclusão em
várias penitenciárias francesas acusado de pertencer à Accion Dirècte. Hoje, encontra-se em liberdade condicional, devido a uma grande campanha da Amnistia Internacional.
Jean-Marc Rouillan nasceu em 1952, e participou muito jovem
no movimento anarco-comunista de Toulouse e, depois, no movimento
anti-franquista. Assim, no decurso dos anos 70, foi membro do primeiro núcleo
de organização armada onde se desenvolveu o movimento operário clandestino da
região de Barcelona: o Movimento Ibérico de Libertação (MIL). Um dos seus
membros, Salvador Puig Antich, foi o último condenado político a ser garrotado
a 2 de Março de 1974, já no estertor do ditador Franco. Portugal conheceu bem
este crime tendo havido, nessa altura, acções de rua contra o regime que então
guiava os destinos do estado espanhol. Participou, mais tarde, na fundação dos
Grupos de Acção Revolucionária Internacionalistas e ao movimento autónomo
(surgido da deriva espontaneísta de maoístas e de um renovado movimento
revolucionário na juventude. Em 1978, participa na fundação da Acção Directa,
organização desmantelada em 1987. "Odeio as Manhãs" foi escrito
clandestinamente a meio de uma greve de fome no centro prisional de Lannemezan
e terminou o livro, a lápis, no Hospital de Fresnes. Foi publicado em 2001.
Jean-Marc Rouillan está preso desde 1987, desde o
desmantelamento da Action Directe, cumprindo uma pena de prisão perpétua. Esta
crónica foi escrita em 2001 na central de Lannemezan e conta o quotidiano da
sua vida prisional sob um regime ultra-severo. Denuncia também a ligação muito
discutível entre a medicina e a prisão.
Tradução de José Paulo Vaz.
(Odeio as Manhãs-5 euros, mais portes de envio)