Avistei a boca ao entardecer.
A língua não vinha nos mapas,
mas no palato agrupavam-se diversas constelações
e pertencia-lhes a ventura dos meus dedos.
Não havia notícias de outros povos
nem sequer uma mácula de cerejas.
Plantei o primeiro seio
a que chamámos macieira
e abandonei o ventre
à generosidade vegetal.
Nessa noite dormimos por dentro e por fora
do mundo.
Catarina Nunes de Almeida, A Metamorfose das Plantas dos Pés, Deriva, 2008