Leos Carax fez um filme brilhante com Holy Motors. É a deriva possível do século XXI, onde uma personagem assume os papéis da vida e da representação de várias situações, com a tentativa, acho que gorada, de as tornar verdadeiramente irreversíveis. E se não se consegue esse objetivo é porque a vida, tal como ela é vivida atualmente, não o permite. No fundo, cada situação é um conjunto de imagens soltas como se fossem colagens e recortes de outras vidas. Todas registadas pelos olhares externos que podem ser os nossos ou o vídeo que nos observa nas ruas. Tanto faz para o caso, porque tudo é espetacular.
O movimento de câmara é um espanto e consegue-se ainda gostar de cinema ao ver isto. Repito: um grande filme que se deve rever quando se puder e se a sagrada distribuição o permitir. Mas há uma coisa que vos quero perguntar (a quem já viu o filme): não sentiram que a cena da Samaritaine é a continuação de Hiroxima Meu Amor?
Se ainda não o viram, não demorem a ir ao Teatro do Campo Alegre. Até 9 de janeiro.