sábado, janeiro 12, 2013

Céline ou a história edificante de um cão bejense



Já se disse que não sabe o nome da criança que morreu em Beja, atacado, segundo se disse, por um pitbull caseiro. Provavelmente demasiado caseiro. Também não vou ao chavão, habitual nestes casos, de usar o vegetarianismo de Hitler que adorava animais, mas a raça humana nem por isso, como se pode comprovar facilmente pela História. Mas quero contar-vos uma história tão edificante como a da triste vida do tal cão. Foi em 1976 e encontrava-se a estudar com um amigo, em Coimbra, enquanto ouvia um programa de Maria José Mauperrin, entre a meia-noite e as duas (não me lembro do nome do programa); entrevistava Jorge Listopad sobre a forma como veio para Portugal, com a mulher e as filhas gémeas, depois da gorada primavera de Praga de 68. Listopad encontrava-se numa aldeia nos arredores de Paris quando as gémeas adoeceram gravemente com uma gastroenterite. Em desespero, apontaram-lhe a casa onde vivia Céline, isolado e rodeado de cães e já após o processo que o levou a safar-se de um fuzilamento como colaboracionista dos nazis e de Pétain, e onde não faltou o apoio de Sartre e de outros homens e mulheres de esquerda. Mas Listopad, sabendo-o médico, foi então ter com ele pedindo-lhe que visse as gémeas. Céline respondeu-lhe, na ocasião, que não podia, não tinha tempo, porque tinha de dar de jantar...aos cães! Gostaram de história? 
Ah, volto ao princípio: como se chama a criança de Beja? O cão que foi salvo por causa da petição, eu sei, chama-se zico, não é?