terça-feira, dezembro 21, 2010

CASAS in Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho

CASAS


Falemos de casas com janelas viradas para dentro. Falemos de casas sem lados, casas redondas, casas vazias. Falemos de casas que são ruas e ruas que são casas. Falemos desse mendigo aconchegado à geada, da puta que pernoita atrás de um balcão de crimes potenciais. Falemos das novas estrelas de David com que te marcaram a liberdade. As casas dos poetas sem terra, sem lugar, dos lugares sem sítio, dos poetas sitiados.

Falemos dessas casas enfim expostas, imprimidas numa folha de papel, numa árvore abatida, na demanda do pulmão resfolegante. Passeiam pelas casas e descobrem-lhes o nome, saltam à corda sobre a alcatifa dos jardins, medeiam os abrigos com poses recolhidas.

São tão pobres as casas, tão sem beirais onde fazer o ninho.
 in Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho