Creio que foi em 1978 que conheci o Sr. Neto, na vila de Quiaios. Nessa ocasião contava perto de 90 anos, era seco de carnes e tinha um bigodinho branco que lhe acentuava a simpatia. Tinha sido motorista de um qualquer general no Corpo Expedicionário Português em La Lys durante a I Guerra Mundial e por lá tinha assistido a uma verdadeira carnificina. Contou-me que os cadáveres amontoavam-se, os feridos não eram tratados com humanidade e que o pior de tudo era os gaseados que ficavam por lá ou que vegetavam na saída das missas de domingo, pedindo esmolas, por cá. «- A minha sorte, foi ter caído nas graças do tal general e ter sido destacado para seu motorista. Isso salvou-me a vida!» Cheguei a gravar este depoimento que utilizei em algumas aulas, numa escola onde o delegado de grupo se abifou com a cassete. Digo já onde, em jeito de vingança: foi na Júlio Dantas (então nº 2) de Lagos.
Ontem li, no DN, as declarações de Augusto Santos Silva sobre os mortos dos combatentes do ultramar, que se elevam a 10000, afirmando que «não esqueceremos o seu sangue derramado». Ficou bem a ASS lembrar o sangue derramado pelos soldados portugueses desde o armistício de 11 de Novembro de 1918 até aos da Bósnia e Afeganistão. Fica sempre bem a um governante tal lembrança. Mas ainda quero ver um ministro do Trabalho lembrar de igual modo e com a mesma veemência publicitária o sangue derramado pelos trabalhadores ao longo de largos anos pelos direitos conquistados e que estão a ser desbaratados agora. É que não acabei a história do Sr. Neto: quando ele chegou a Portugal, depois de 1918, teve de enfrentar não só a reacção republicana pós-sidonista, como arcou com o início da ditadura salazarista. Por alguma razão não imigrou, mas conheceu gente que morreu a combater contra a repressão. Desses ninguém fala.
Ontem li, no DN, as declarações de Augusto Santos Silva sobre os mortos dos combatentes do ultramar, que se elevam a 10000, afirmando que «não esqueceremos o seu sangue derramado». Ficou bem a ASS lembrar o sangue derramado pelos soldados portugueses desde o armistício de 11 de Novembro de 1918 até aos da Bósnia e Afeganistão. Fica sempre bem a um governante tal lembrança. Mas ainda quero ver um ministro do Trabalho lembrar de igual modo e com a mesma veemência publicitária o sangue derramado pelos trabalhadores ao longo de largos anos pelos direitos conquistados e que estão a ser desbaratados agora. É que não acabei a história do Sr. Neto: quando ele chegou a Portugal, depois de 1918, teve de enfrentar não só a reacção republicana pós-sidonista, como arcou com o início da ditadura salazarista. Por alguma razão não imigrou, mas conheceu gente que morreu a combater contra a repressão. Desses ninguém fala.