domingo, fevereiro 13, 2022

«Sétimo Dia», de Daniel Faria


Não são sete dias. São cinco. E aqui está todo problema que vos coloco. Editariam um livro assim? explico melhor a minha dúvida: quem conhece a poesia de Daniel Faria e já se espantou  (na perspectiva emocional do espanto) com ela sabe a que se refere o «sétimo dia»; logicamente é o dia do descanso após a criação do mundo. Tendo sido Daniel Faria monge em Singeverga faz todo o sentido. Mas em primeiro lugar, não foi ele que o escolheu, visto que a edição é póstuma. Sendo uma edição póstuma e editada pelo seu prefaciador, Francisco Saraiva Fino, e tendo este encontrado os poemas em disquetes juntas ao Macintosh que o poeta usava e impressas em papel, paginadas e rasuradas, poder-se-á pensar a legitimidade da sua edição, mesmo que se tenham assinalado as rasuras e palavras apostas por cima de outras, também rasuradas? Eram 17 as páginas que estavam impressas e que o prefaciador terá publicado com anotações em pé de página, incluindo seis páginas em branco. Tem sentido? E terá sentido «leituras conjecturadas»? Conjecturadas por quem? Em poesia podem-se conjecturar palavras, mesmo que nos pareçam as mais óbvias? Em poesia existe o «óbvio»?

De qualquer maneira, ficamos com alguns poemas belíssimos de Daniel Faria neste livro que, quanto a mim e pese as horas de trabalho que presumo terem existido pelo prefaciador, são passíveis de alguma atenção:

«Falar é uma morte muito violenta. Mas nos teus braços morrerei, se me escutares.» Nota de Daniel Faria neste poema: «...Mesmo assim morrerei nos teus braços. Se»

«Nunca cumpras todas as promessas. É um modo muito triste de morrer»

«Aproxima-te. Preciso dos teus olhos acesos para não me despenhar no vazio. Para não ter frio.»